JOÃO
Notas de estudo – capítulo 10
conhecem a sua voz: Relatos de pessoas que viram pastores no Médio Oriente a interagirem com as suas ovelhas comprovam que as ovelhas têm a incrível habilidade de diferenciar a voz do seu pastor da voz de outros pastores ou de estranhos. Como Jesus indicou no versículo 3, os pastores davam um nome a cada uma das suas ovelhas, mesmo no caso de rebanhos maiores. (Jo 10:3, 27) As ovelhas habituavam-se desde muito novas à voz do seu pastor a chamar os seus nomes enquanto as guiava e treinava. Além disso, cada pastor fazia sons específicos que o distinguia dos outros pastores. Ele ensinava as ovelhas a obedecer a diferentes comandos de voz. Dessa forma, tornava-se mais fácil para o pastor proteger as ovelhas de perigos e conduzi-las a boas pastagens e à água. Assim, pode dizer-se que as ovelhas conhecem a voz do seu pastor, não apenas porque conseguem diferenciar a voz dele de outras vozes, mas também porque reconhecem o amor com que ele cuida delas e as protege, individualmente e como rebanho.
De modo algum seguirão: Neste versículo, o texto original usa juntamente com o verbo grego duas palavras que significam “não”, o que era feito para negar algo de modo enfático. A ideia era mostrar que seria impossível que as palavras de Jesus não se cumprissem. Aqui, a palavra estranho refere-se a alguém que as ovelhas não conhecem.
comparação: João é o único escritor dos Evangelhos que usa a palavra grega paroimía. (Jo 10:6; 16:25, 29) O significado dessa palavra é semelhante ao da palavra grega parabolé (“parábola” ou “ilustração”), que é muito usada nos outros Evangelhos, mas não aparece nenhuma vez no Evangelho de João. (Veja a nota de estudo em Mt 13:3.) A palavra paroimía também pode transmitir a ideia de uma comparação ou analogia. Pedro usou essa mesma palavra para se referir ao “provérbio” sobre o cão que volta ao próprio vómito e a porca que volta a revolver-se na lama. (2Pe 2:22) Na Septuaginta, paroimía é usada como título do livro de Provérbios.
bom: Ou: “excelente”. A palavra grega que aparece aqui é kalós. Pode referir-se a algo que é bom ou belo por natureza, algo de excelente qualidade. Por exemplo, é usada para falar de “bons frutos”, de um “solo bom” e de “pérolas de boa qualidade”. (Mt 3:10; 13:8, 45) Neste versículo, a palavra foi usada para indicar que Jesus é um pastor excelente, extraordinário.
vida: Ou: “alma”. O significado da palavra grega psykhé, traduzida como “alma” nas edições anteriores da Tradução do Novo Mundo, varia de acordo com o contexto. Aqui, refere-se à vida de Jesus. Por ser o bom pastor, Jesus deu voluntariamente a sua vida a favor das suas ovelhas. — Veja o Glossário, “Alma”.
empregado: As ovelhas são animais vulneráveis, e um rebanho de ovelhas era algo valioso. Por isso, muitas vezes, quem tomava conta delas era o próprio dono, um dos seus filhos ou outro familiar. (Gén 29:9; 30:31; 1Sa 16:11) O dono também podia contratar alguém para cuidar das ovelhas. No entanto, um trabalhador contratado muitas vezes trabalhava a pensar apenas no seu salário e não tinha a lealdade ao dono das ovelhas nem a preocupação com elas que um filho ou um familiar teriam. (Compare com Jó 7:1, 2.) Nas Escrituras, o trabalho de um pastor é usado para representar o trabalho de cuidar, proteger e alimentar os servos de Deus, que são semelhantes a ovelhas. (Gén 48:15) Os que servem como pastores na congregação cristã não podem ter a atitude de um “empregado”. (Jo 10:13) Em vez disso, precisam de se esforçar para imitar os exemplos de Jeová, que pastoreia o seu povo com carinho (Sal 23:1-6; 80:1; Je 31:10; Ez 34:11-16), e de Jesus, “o bom pastor” que, por amor, se sacrificou pelas suas ovelhas. — Jo 10:11, 14; At 20:28, 29; 1Pe 5:2-4.
vida: Ou: “alma”. — Veja a nota de estudo em Jo 10:11.
trazer: Ou: “conduzir”. O verbo grego usado aqui, ágo, pode significar “trazer” ou “conduzir”, dependendo do contexto. Um manuscrito grego datado de cerca de 200 EC usa aqui uma palavra grega relacionada (synágo) que, às vezes, é traduzida como “reunir”. Jesus é o Bom Pastor e, por isso, reúne, guia, protege e alimenta as ovelhas que são deste aprisco (também chamadas “pequeno rebanho” em Lu 12:32) e as outras ovelhas. Elas tornam-se um só rebanho aos cuidados de um só pastor. Essa comparação destaca a união que existiria entre os seguidores de Jesus.
escutarão: Aqui, a palavra grega traduzida como “escutarão” tem o sentido de “dar atenção, entender e agir de acordo”.
vida: Ou: “alma”. O significado da palavra grega psykhé, traduzida como “alma” nas edições anteriores da Tradução do Novo Mundo, varia de acordo com o contexto. Aqui, refere-se à vida de Jesus, que ele entregou voluntariamente como sacrifício. — Veja o Glossário, “Alma”.
a Festividade da Dedicação: O nome hebraico desta festividade é Hanuká (hhanukkáh), que significa “inauguração; dedicação”. Essa festividade durava oito dias e começava no dia 25 do mês de quisleu, perto do solstício de inverno. (Veja a nota de estudo em inverno neste versículo e o Apêndice B15.) Comemorava a rededicação do templo de Jerusalém, que aconteceu em 165 AEC. O rei sírio Antíoco IV (Epifânio) tinha profanado o templo para demonstrar o seu desprezo por Jeová, o Deus dos judeus. Por exemplo, ele construiu um altar em cima do grande altar de Jeová onde as ofertas queimadas eram feitas diariamente. Em 25 de quisleu de 168 AEC, para profanar completamente o templo de Jeová, Antíoco sacrificou porcos no altar e mandou aspergir em todo o templo o caldo feito com a carne deles. Ele queimou os portões do templo, derrubou as salas dos sacerdotes e levou o altar de ouro, a mesa dos pães da apresentação e o candelabro de ouro. Depois, dedicou o templo de Jeová ao deus pagão Zeus, do Olimpo. Dois anos mais tarde, Judas Macabeu reconquistou a cidade e o templo. O templo foi purificado e, em 25 de quisleu de 165 AEC, foi rededicado. Isso aconteceu exatamente três anos depois de Antíoco ter feito o seu sacrifício repugnante a Zeus no altar do templo. A seguir, as ofertas queimadas voltaram a ser feitas a Jeová diariamente. Nas Escrituras inspiradas, não há nenhuma declaração direta que indique que Jeová tenha dado a vitória a Judas Macabeu e que o tenha orientado a restaurar o templo. No entanto, antes disso, Jeová tinha usado homens de outras nações para realizar a sua vontade em relação à adoração verdadeira, como por exemplo, Ciro, da Pérsia. (Is 45:1) Por isso, é razoável concluir que Jeová pode ter usado um homem do seu povo dedicado para cumprir a sua vontade. As Escrituras mostram que o templo tinha de estar de pé e a funcionar para que se cumprissem as profecias sobre o Messias, sobre o seu ministério e sobre a sua morte sacrificial. Além disso, os sacrifícios especificados na Lei deveriam continuar a ser oferecidos até que o Messias fizesse o maior dos sacrifícios, dar a sua vida a favor da humanidade. (Da 9:27; Jo 2:17; He 9:11-14) Os seguidores de Cristo não receberam a ordem de celebrar a Festividade da Dedicação. (Col 2:16, 17) No entanto, não há registo de que Jesus ou os seus discípulos tenham condenado a celebração dessa festividade.
inverno: Este foi o inverno de 32 EC, o último do ministério de Jesus. A Festividade da Dedicação acontecia no nono mês do calendário judaico, o mês de quisleu (novembro/dezembro). Naquele ano, o dia 25 de quisleu, que era o primeiro dia da festividade, calhou no meio do mês de dezembro. (Veja o Apêndice B15.) Os judeus sabiam que essa festividade acontecia no inverno. Mas João pode ter mencionado esse detalhe para mostrar que o clima influenciou a escolha de Jesus de ensinar no “Pórtico de Salomão” (Jo 10:23), um local do templo protegido do vento leste que soprava no inverno. — Veja o Apêndice B11.
nos deixarás: Ou: “deixarás as nossas almas”. O significado da palavra grega psykhé, traduzida como “alma” nas edições anteriores da Tradução do Novo Mundo, varia de acordo com o contexto. Em alguns contextos, como acontece aqui, é usada como se fosse um pronome pessoal. Outros textos das Escrituras Gregas Cristãs em que a palavra “alma” é usada assim são Mt 12:18 (onde “aprovo” equivale a “a minha alma aprova”), Mt 26:38 (onde “estou” equivale a “a minha alma está”) e He 10:38 (onde “não me agradarei” equivale a “a minha alma não se agradará”). — Veja o Glossário, “Alma”.
O que o meu Pai me deu é maior do que todas as outras coisas: Existem pequenas variações na maneira como esta frase aparece nos manuscritos gregos e nas traduções antigas para outras línguas. A frase que aparece em alguns manuscritos poderia ser traduzida como: “O meu Pai, que as deu a mim, é maior do que todos os outros.” Mas muitos estudiosos consideram que a opção usada aqui no texto principal é provavelmente a original.
somos um: Ou: “estamos em união”. Este comentário de Jesus mostra que ele e o seu Pai estão unidos em proteger as pessoas semelhantes a ovelhas e em guiá-las à vida eterna. O Pai e o Filho fazem juntos esse trabalho de pastoreio. Os dois têm a mesma preocupação com as ovelhas e não permitem que ninguém as arranque da mão deles. (Jo 10:27-29; compare com Ez 34:23, 24.) O Evangelho de João menciona muitas vezes o companheirismo e a união de pensamento que existem entre o Pai e o Filho. A palavra grega traduzida aqui como “um” está, não no género masculino (a indicar “uma pessoa”), mas no género neutro (a indicar “uma coisa”). Isso apoia a ideia de que Jesus e o seu Pai são “um”, não porque sejam a mesma pessoa, mas porque cooperam um com o outro. (Jo 5:19; 14:9, 23) Uma comparação entre as palavras de Jesus aqui no capítulo 10 com a oração dele registada no capítulo 17 confirma que Jesus estava a dizer que ele e o seu Pai estão unidos nos seus objetivos, não que são iguais em divindade. (Jo 10:25-29; 17:2, 9-11) Isso fica claro no pedido que Jesus fez ao seu Pai sobre os seus seguidores: “Que [eles] sejam um, assim como nós somos um.” (Jo 17:11) Dessa forma, pode concluir-se que os capítulos 10 e 17 de João falam do mesmo tipo de união. — Veja as notas de estudo em Jo 17:11, 21; 1Co 3:8.
na vossa Lei: Aqui, a palavra “Lei” refere-se às Escrituras Hebraicas como um todo, e não apenas à Lei mosaica. A citação que aparece neste versículo é do Sal 82:6. A palavra “Lei” é usada com esse mesmo sentido em Jo 12:34 e 15:25.
deuses: Ou: “seres divinos”. Jesus estava a citar o Sal 82:6, onde a palavra hebraica ʼelohím (deuses) é usada para se referir a humanos que serviam como juízes em Israel. Eles podiam ser chamados “deuses” no sentido de que eram representantes ou porta-vozes de Deus. Da mesma forma, Jeová disse que Moisés ‘serviria de Deus’ para Arão e para o Faraó. — Êx 4:16, nota de rodapé; 7:1, nota de rodapé.
o Pai está em união comigo e eu em união com o Pai: Lit.: “o Pai em mim e eu no Pai”. Neste contexto, a preposição grega en indica grande proximidade. Esse uso da preposição en é comum nos escritos do apóstolo João e do apóstolo Paulo. (Gál 1:22; 3:28; Ef 2:13, 15; 6:1) Em 1Jo 3:24 e 4:13, 15, essa preposição foi usada para descrever a relação que existe entre Deus e os cristãos. Outra prova de que aqui a preposição en tem o sentido de “em união com” é o modo como foi usada em Jo 17:20-23, onde aparece cinco vezes.