A magnífica águia-negra
Do correspondente de “Despertai!” na África do Sul
OUVE-SE do alto um grito áspero. Dois falcões atacam em pleno ar uma águia de Verreaux, ou águia-negra, fêmea. Um falcão se lança para baixo, mas a águia vira de costas para baixo e estende as garras para fazer frente ao ataque. Agora os dois falcões se lançam, um atrás do outro. De novo a águia se vira para enfrentar o primeiro falcão. Mas, pode ela continuar voando em posição invertida por suficiente tempo para enfrentar o segundo falcão? Com controle perfeito, ela executa uma volta dupla justamente a tempo para rechaçar o segundo ataque. Que maneira magnífica de voar!
A águia-negra, que tem uma envergadura de 1,8 m, encontra-se desde a África do Sul, através da África Oriental até Israel. Segundo o nome indica, a ave tem plumagem negra lustrosa. Tem uma mancha branca no dorso que forma um “V” sobre os ombros. Quando esta ave voa, as manchas pálidas nas pontas das asas fazem com que estas pareçam transparentes
Ninhos bem Construídos
Em geral, nidificam na saliência inacessível de um rochedo sobre um precipício. Um casal de águias-negras pode ter dois ou até três ninhos em lugares diferentes — todos na mesma área — e pode usá-los por turnos, segundo seu gosto. O uso dos ninhos por rodízio pode contribuir para mantê-los livres de parasitos. As águias-negras são escrupulosamente limpas.
O ninho é bem construído, e as águias o aumentam e fazem mudanças nele cada vez que o usam. Pode medir 1,5 m de diâmetro na base e quase o mesmo de altura, e é feito de galhos secos da grossura de um polegar humano. Tanto o macho como a fêmea contribuem para a construção do ninho. Entretanto, embora o macho coloque os galhos num lugar onde acha que é melhor, amiúde sua companheira os muda de lugar. Ao fazer isso, pode ser que finalmente volte a colocar um galho num lugar onde estava originalmente; mas fica então satisfeita de saber que este é o melhor lugar. De forma alguma é o ninho um montão de galhos desordenados.
Finalmente forram o fundo no centro do ninho com folhas e raminhos verdes que são renovados freqüentemente. Isso faz com que o forro seja macio e quem sabe provê também a umidade necessária para incubar os ovos.
Vistosa Cerimônia Nupcial
Em meados de maio, depois de se terem feito os reparos nos ninhos, começa a vistosa cerimônia nupcial. Esta não se efetua com o fim de se conseguir um companheiro ou uma companheira, pois estas águias se unem por toda a vida, e algumas chegam a viver 50 anos. Antes, é um ato preliminar ao acasalamento, e ambas as águias participam em exibições de vôos emocionantes.
Às vezes, o macho desce sobre a fêmea que está voando, e, quando ele se aproxima, ela se vira de costas para baixo. Ambas as águias ficam presas, garras com garras, e caem, dando voltas por uma distância considerável antes de se separarem. Em outras ocasiões, as aves sobem e se deixam cair em vôos picados de trajetória pendurar, e viram no fim do trajeto por girarem sobre uma asa. A relação entre o peso e a área das asas e entre o comprimento e a largura das asas provê um equilíbrio excelente para os requisitos de vôo da águia.
Como Criam um Filhote
As águias-negras põem seus ovos em princípios de junho. Em geral, põem dois ovos, num intervalo de um a quatro dias, e são incubados por cerca de 44 dias. O macho participa com sua companheira em sentar-se sobre os ovos durante o dia, mas a fêmea sempre assume toda a guarda noturna.
Ainda que haja dois ovos no ninho, só se cria uma aguiazinha. Às vezes, a fêmea destrói um dos ovos quando está patente que há uma cria viva no outro. Em outras ocasiões, permite-se que os dois saiam das cascas. Quando isto sucede, a primeira cria em geral domina a outra, que morre em pouco tempo. Os pais não fazem nada para evitar isso, embora haja alimento suficiente para ambas as avezinhas. Por quê?
Não se sabe exatamente a razão para essa limitação instintiva da família. Definitivamente não se deve a escassez de alimento. O treinamento completo que requer uma águia pode ser um fator, visto que um só filhote parece ocupar toda a atenção de ambos os pais.
Mas, então, por que deve haver dois ovos? Se a águia botasse um só poderia haver ocasiões em que este se perderia devido a infertilidade, acidente ou ataque de predadores. Dois ovos aumentam as probabilidades de que se efetue a incubação e assegura a sobrevivência da águia. Incubando-se dois ovos, se o primogênito tiver algum defeito, a segunda cria dominará e sobreviverá a seu irmão mais velho.
As batidas que a cria dá na casca servem de sinal para o macho da águia de que se aproxima o momento de sair da casca. Ele vai à caça de um tenro damão-das-rochas (Procavia capensis, o “procavia” da Bíblia [Levítico 11:5]). Em circunstâncias normais, este animal representa 99 por cento da alimentação da águia-negra. O damão pesa até 4,1 quilos, e a águia o come em geral inteiro — carne, pele e ossos. Isso pode parecer estranho, mas os ossos suprem o cálcio, que é essencial à dieta da águia. A pele, com seu pêlo, parece ajudar a digestão da águia.
A avezinha recém-saída da casca, que se parece a uma bola de pelúcia branca, recebe as porções mais seletas da presa. Come avidamente as tiras de carne que o pai arrancou da carcaça. À medida que o filhote vai crescendo, aprende a despedaçar uma carcaça e a engolir partes tão difíceis como ossos e pele.
Há outras coisas que o filhote precisa aprender cedo na vida. Para que o ninho permaneça limpo, o filhote precisa aprender a defecar por cima da beira do ninho, prestando atenção à direção do vento. Pode ser que a mãe mova o filhote colocando a pata debaixo dele e levando-o à beira do ninho até que aprenda a fazer suas necessidades no lugar apropriado. Ao crescer, uma pata firme sobre a dele e um olhar fixo bastam para indicar-lhe que tem de ir-se.
Vê-se claramente que criar uma águia toma muito tempo. De fato, passam de 95 a 100 dias antes que a jovem águia comece a voar.
A Aguiazinha Voa
Ao se aproximar o tempo para o primeiro vôo, a aguiazinha se sente cada vez mais frustrada por ter de estar confinada ao ninho. Observa outras aves, estende as asas e as patas, bate as asas e dá saltos. As plumas já estão completamente crescidas, mas a plumagem não é da cor negra lustrosa como a dos pais. A jovem ave é de cor castanha avermelhada e muito manchada, e não terá a plumagem de ave adulta até mudar de plumagem no terceiro ano. Os pais percebem que o tempo para o vôo está perto e deixam de trazer alimento ao ninho durante aproximadamente um dia. Sem dúvida, é melhor executar o primeiro vôo com o estômago vazio!
O que impulsiona a jovem ave a executar seu primeiro vôo? Em geral é a chamada que os pais fazem parados num pouso por perto ou ao voarem por perto dela. Se estas medidas falharem, um empurrão inesperado lança a aguiazinha ao espaço. Com as sensíveis plumas primárias na ponta das asas, a aguiazinha sente a pressão e o movimento do ar. Nesta etapa, porém, a ave não sabe como reagir à informação recebida, de modo que o vôo é curto. O filhote desce a encosta da montanha até as partes mais baixas, onde aterrissa desajeitadamente e descansa ao passo que seu coração palpita com rapidez. Ao verem isso, os pais alimentam sua cria. Depois, com confiança redobrada, a jovem ave está pronta para tentar outra vez. Com dificuldade tenta várias vezes mais até começar a exercer controle sobre as asas.
Uma Educação Completa
A arte de caçar é o próximo passo no programa de educação. Amiúde ambos os pais executam exibições aéreas que atraem a atenção dos damões, os quais desfrutam sentar-se sobre as rochas aquecidas pelo sol, enquanto vigiam seu inimigo — a águia-negra. Por fim, uma águia voa a pouca altura e, usando os rochedos íngremes para não se deixar ver, contorna rapidamente, vindo por trás, e agarra de surpresa um damão. Este morre instantaneamente. Com a força do vôo veloz da ave até o damão, a garra traseira se enterra na presa. As garras dianteiras se cerram e o damão morto é balançado para frente, para ser levado, agarrado numa das patas, até o “matadouro”, que amiúde é uma rocha, onde a águia degola e desmembra a presa. A jovem águia observa esses movimentos.
Requer muito esforço para converter a jovem águia num voador hábil. A ave tem de aprender a deslizar sobre os ventos que os precipícios desviam para o alto, a deixar-se cair em vôos picados e a remontar o vôo. Para fazer viagens longas, a águia escolhe um dia em que o vento sopra em direção oposta à direção em que vai voar. Então, quando o sol já se levantou e está aquecendo o ar nos vales, a ave se lança desde seu pouso nas rochas. Logo encontra uma borbulha de ar quente. Dando voltas dentro da borbulha, a águia se eleva a uns 4.000 metros. Enquanto se esgota o ar que lhe dá o impulso, a ave se dirige para seu destino. Desliza para baixo no ar para manter o impulso. Ao mesmo tempo, o fluxo do vento sobre suas asas a ajuda a elevar-se. Deste modo pode cobrir centenas de quilômetros, movendo as asas apenas algumas vezes desde a partida.
Depois que a jovem águia está plenamente equipada para o papel que há de desempenhar na vida, seus pais a escoltam de seu lar. Levam sua cria bem longe e a deixam ali para que encontre a águia com quem estabelecerá seu próprio lar.
Ao vermos uma águia no firmamento, temos razão de exclamar: ‘Quão magnífica é!’ O estudo das criaturas terrestres pode realmente ser um trabalho absorvente. Maravilhamo-nos diante da beleza de desenho manifesto na criação animal. Estas criaturas não só ocupam um lugar necessário no inteiro equilíbrio do mundo natural, mas o ocupam com graça e beleza que refletem as qualidades de seu Criador. Temos de concordar com o escritor bíblico Agur, que se maravilhou diante do “caminho da águia nos céus”. — Provérbios 30:18, 19.