Não desenvolva um coração traiçoeiro

1, 2. Por que é difícil perceber a condição real de nosso coração figurativo?

IMAGINE que de manhã cedo, ainda na cama, você sente falta de ar e uma dor intensa no peito. Talvez pense: ‘Será que estou tendo um ataque cardíaco?’ Simplesmente negar o problema não vai ajudar em nada. É preciso agir com rapidez. Assim, você chama uma ambulância para receber atendimento médico especializado. É provável que um médico o examine com cuidado, talvez fazendo um eletrocardiograma. Um diagnóstico rápido e um tratamento apropriado podem significar a diferença entre a vida e a morte.

² E que dizer de nosso coração figurativo? Talvez não seja fácil perceber a sua real condição. Por quê? Lemos na Bíblia: “O coração é mais traiçoeiro do que qualquer outra coisa e está desesperado. Quem o pode conhecer?” (Jer. 17:9) Assim, nosso coração pode nos enganar, levando-nos a achar que não temos nenhum problema espiritual, apesar de outros verem sinais de perigo e ficarem preocupados. Por que podemos ser enganados? Porque nossas inclinações pecaminosas podem agir contra nós, à medida que Satanás e seu sistema obscurecem nossa verdadeira situação. Aquilo que aconteceu com Jeremias e com o povo de Judá pode nos ajudar a examinar nosso coração.

3. Para muitos hoje, que coisas passaram a ser deuses?

³ A maioria do povo de Judá havia mostrado que seu coração estava espiritualmente doente. Eles trocaram o único Deus verdadeiro pelos deuses cananeus, sem qualquer remorso. Jeová desafiou esses adoradores: “Onde estão os teus deuses que fizeste para ti? Que se levantem, se é que te podem salvar no tempo da tua calamidade. Pois os teus deuses se tornaram iguais ao número das tuas cidades.” (Jer. 2:28) No nosso caso, com certeza não nos vemos adorando deuses ou ídolos. No entanto, sob o verbete “deus” um dicionário diz: “Pessoa ou coisa de supremo valor.” Muitas pessoas no mundo colocam sua carreira, saúde, família e até animais de estimação em primeiro lugar na vida. Outras encaram esportes, celebridades, tecnologia, viagens ou suas tradições como algo de supremo valor. Muitos se empenham por essas coisas às custas de seu relacionamento com o Criador. Será que os cristãos verdadeiros poderiam ser influenciados, assim como foi o povo de Judá nos dias de Jeremias?

O CORAÇÃO TRAIÇOEIRO ENGANA

4. Eram sinceras as pessoas que diziam: “Onde está a palavra de Jeová? Que entre, por favor”?

⁴ Você talvez ache interessante o contexto da declaração de Jeremias que descreve o coração como estando desesperado. Ele percebeu que as pessoas estavam dizendo: “Onde está a palavra de Jeová? Que entre, por favor.” (Jer. 17:15) Mas essas palavras eram sinceras? Bem, esse capítulo de Jeremias começa assim: “O pecado de Judá está assentado por escrito com um estilo de ferro. Com ponta de diamante foi gravado na tábua do seu coração.” Um dos maiores problemas era que o povo de Judá ‘confiava no homem terreno e fazia da carne o seu braço, e seu coração se desviava do próprio Jeová’. Isso era bem diferente da atitude da minoria, que confiava em Deus, buscando sua orientação e bênçãos. — Jer. 17:1, 5, 7.

5. De que maneira os conterrâneos de Jeremias reagiram às orientações de Jeová?

⁵ A condição do coração da maioria ficou evidente na sua reação ao que Deus disse. (Leia Jeremias 17:21, 22.) Por exemplo, o sábado devia ser um dia para descanso do trabalho diário e uma oportunidade de participar em atividades espirituais. Os conterrâneos de Jeremias não deviam fazer negócios nem pequenas tarefas no sábado. Mas suas ações revelavam a condição de seu coração. “Eles não escutaram nem inclinaram seus ouvidos, e passaram a endurecer a sua cerviz para não ouvir e para não receber disciplina.” Embora conhecessem a lei de Deus, encaravam os assuntos à sua maneira: eles tinham coisas ‘mais importantes’ para fazer no sábado. — Jer. 17:23; Isa. 58:13.

6, 7. (a) Que raciocínio insensato um cristão poderia adotar, apesar dos conselhos da classe do escravo fiel e discreto? (b) Como isso poderia afetar a nossa assistência às reuniões?

⁶ Hoje, não estamos sujeitos à lei do sábado. Ainda assim, a reação daquelas pessoas, que revelava o que tinham no coração, serve de alerta para nós. (Col. 2:16) Para fazermos a vontade de Deus, pusemos de lado nossos empenhos egoístas ou banais. Percebemos a tolice que seria escolher por nós mesmos uma forma conveniente de agradar a Deus. E é provável que conheçamos muitas pessoas que se concentram em fazer a vontade de Deus e realmente acham que isso é revigorante e dá tranquilidade. Então, como poderíamos ser enganados?

⁷ Um cristão pode cair no erro de pensar que seu coração nunca o enganará, como pensavam muitos nos dias de Jeremias. Por exemplo, um homem pode raciocinar: ‘Eu não posso perder meu emprego, preciso sustentar minha família.’ Isso é compreensível. Mas e se esse raciocínio o levasse a pensar que precisa obter mais educação para manter ou conseguir um bom emprego? Isso também talvez pareça lógico, levando-o a concluir: ‘Os tempos mudaram, e para sobreviver no mundo de hoje e manter o emprego é preciso ter curso superior.’ É muito fácil a pessoa começar a desvalorizar os conselhos sábios e equilibrados da classe do escravo fiel e discreto sobre obter mais educação e então passar a perder reuniões. Nesse respeito, alguns, aos poucos, foram moldados pelos raciocínios e conceitos do mundo. (Efé. 2:2, 3) A Bíblia, com razão, nos adverte: “Não deixem que o mundo em sua volta os comprima no seu próprio molde.” — Rom. 12:2, Phillips.a

8. (a) Sobre o que talvez um cristão sinta orgulho? (b) Por que não basta apenas saber fatos sobre Deus e sua maneira de agir?

⁸ É verdade que alguns cristãos no primeiro século tinham riquezas e talvez uma certa influência na sociedade. Isso também acontece com alguns cristãos nos nossos dias. Como eles devem encarar suas realizações, e como nós devemos encarar esses irmãos? Jeová deu a resposta por meio de Jeremias. (Leia Jeremias 9:23, 24.) Em vez de se gabar de suas consecuções humanas, uma pessoa sábia entende que conhecer o Soberano Universal é o mais importante. (1 Cor. 1:31) Mas o que significa ter perspicácia e conhecimento de Jeová? As pessoas nos dias de Jeremias conheciam o nome de Deus. Elas também sabiam o que ele tinha feito para salvar seus antepassados no mar Vermelho, durante a entrada na Terra Prometida, nos tempos dos juízes e durante os reinados de reis fiéis. No entanto, elas não conheciam realmente a Jeová nem exerciam fé genuína nele. Mesmo assim, diziam: “Permaneci inocente. Decerto, a sua ira [de Deus] recuou de mim.” — Jer. 2:35.

COMO JEOVÁ NOS MOLDA

9. Por que podemos ter certeza de que é possível mudar de atitude, e como isso pode ser feito?

⁹ Os judeus a quem Jeremias declarou a mensagem de Deus precisavam mudar de atitude. Isso era possível porque Deus disse o seguinte a respeito dos que voltariam do exílio: “Vou dar-lhes um coração para me conhecerem, que eu sou Jeová; e terão de tornar-se meu povo e eu mesmo me tornarei seu Deus, pois retornarão a mim.” (Jer. 24:7) Hoje também é possível fazer uma mudança como essa. A maioria de nós pode melhorar a condição de seu coração espiritual. Três coisas são vitais: estudo diligente da Palavra de Deus, entendimento sobre como Deus atua em nossa vida e aplicação do que aprendemos sobre ele. Ao contrário das pessoas dos dias de Jeremias, devemos querer que o Grande Examinador de corações inspecione o nosso coração. E nós mesmos podemos examiná-lo por ver o que a Bíblia diz e por notar as coisas que Jeová tem feito por nós. (Sal. 17:3) Essa é a coisa sábia a fazer.

10, 11. (a) Por que Jeremias foi à casa de um oleiro? (b) O que determina o modo como Jeová molda as pessoas?

¹⁰ Satanás quer moldar as pessoas por comprimi-las num determinado molde; já a moldagem de Deus leva em consideração cada indivíduo. Isso foi ilustrado pelo que aconteceu com Jeremias. Certo dia, Deus disse para ele ir à casa de um oleiro. O oleiro estava trabalhando na sua roda, mas quando o vaso que estava moldando se deformou, ele simplesmente remodelou o barro ainda úmido e fez um outro vaso. (Leia Jeremias 18:1-4.) Por que Jeremias teve de ver isso, e o que aprendemos dessa experiência?

¹¹ Jeová queria mostrar a Jeremias e a Israel que Ele tem autoridade para moldar pessoas e nações naquilo que ele deseja. Como Deus manuseia o barro? Ao contrário dos oleiros humanos, Jeová não erra; e ele não destrói o trabalho de suas mãos sem mais nem menos. A maneira que as pessoas reagem à moldagem de Jeová é o que determina o que ele faz com elas. — Leia Jeremias 18:6-10.

12. (a) Como Jeoiaquim reagiu aos esforços de Jeová de moldá-lo? (b) Que lição você encontra no relato sobre Jeoiaquim?

¹² Então, como Jeová molda as pessoas? Hoje ele usa principalmente a Bíblia. À medida que a pessoa lê e reage à Palavra de Deus, ela revela que tipo de pessoa é, e Deus pode moldá-la. Analisemos o exemplo do Rei Jeoiaquim para ver como as pessoas nos dias de Jeremias foram moldadas no que diz respeito a assuntos do dia a dia. A Lei decretava que ninguém devia “defraudar o trabalhador contratado”, mas o rei fazia exatamente isso, explorando seus irmãos israelitas, usando-os como mão de obra barata para construir “uma casa espaçosa”. (Deut. 24:14; Jer. 22:13, 14, 17) Deus tentou moldar Jeoiaquim por meio de Sua palavra proclamada pelos profetas. Mas o rei seguiu a inclinação de seu coração traiçoeiro. Ele disse: “Não obedecerei.” E continuou agindo da mesma maneira que agia desde a juventude. Por isso, Deus disse: “Seu enterro será como se enterra um jumento, sendo arrastado e lançado fora.” (Jer. 22:19, 21) Seria muito tolo da nossa parte dizer: ‘Eu sou assim mesmo!’ Hoje, Deus não envia profetas como Jeremias, mas Ele dá orientação. A classe do escravo fiel e discreto nos ajuda a conhecer e aplicar princípios da Bíblia. Eles afetam aspectos de nossa vida diária, como a maneira de nos vestir e nos arrumar ou a música e dança em casamentos ou outros eventos sociais. Permitiremos que a Palavra de Deus nos molde?

13, 14. (a) Por que os donos de escravos em Jerusalém concordaram em libertar seus escravos hebreus? (b) O que revelou a verdadeira condição de coração daqueles donos de escravos?

¹³ Veja outro exemplo. Os babilônios colocaram Zedequias no trono de Judá como rei sob o domínio deles. Mas em vez de seguir o conselho de Deus, dado por meio de Jeremias, ele se rebelou. (Jer. 27:8, 12) Por isso, os babilônios cercaram Jerusalém. O rei e seus príncipes acharam que tinham de fazer algo em harmonia com a Lei para obter o favor de Deus. Sabendo que os escravos hebreus deviam ser libertados no sétimo ano de sua servidão, Zedequias fez um pacto para libertar esses escravos. (Êxo. 21:2; Jer. 34:14) Então, de repente, com Jerusalém cercada por inimigos, todos acharam que seria interessante libertar seus escravos. — Leia Jeremias 34:8-10.

¹⁴ Mais tarde, um exército egípcio veio ajudar Jerusalém, o que forçou os babilônios a retirar o cerco. (Jer. 37:5) O que fariam aqueles que haviam libertado seus escravos? Obrigaram-nos a servi-los de novo. (Jer. 34:11) Vemos que quando estavam em perigo, os judeus quiseram dar a impressão de obedecer aos estatutos divinos, como se isso pudesse compensar sua conduta anterior. Mas quando o perigo passou, eles voltaram a agir da mesma forma que antes. Apesar de aparentemente aceitarem o espírito da Lei, suas ações posteriores revelaram que no coração não queriam seguir as orientações da Palavra de Deus nem ser moldados por elas.

ACEITE SER MOLDADO POR JEOVÁ

15. Até que ponto você gostaria de ser moldado por Jeová? Ilustre.

¹⁵ Com a ajuda da congregação mundial de Jeová, podemos aprender princípios bíblicos sobre como agir em determinada situação. Por exemplo, talvez saibamos como devemos reagir se um irmão nos irritar. (Efé. 4:32) Talvez admitamos que os conselhos da Bíblia são corretos e sábios. Mas que tipo de barro seremos? Deixaremos realmente que Jeová nos molde? Se nosso coração for maleável, mudaremos para melhor; o Grande Oleiro nos transformará num vaso mais adequado para ele usar. (Leia Romanos 9:20, 21; 2 Timóteo 2:20, 21.) Em vez de mostrarmos uma atitude de coração como a de Jeoiaquim ou dos donos de escravos nos dias de Zedequias, devemos aceitar ser moldados por Jeová para um fim honroso.

16. Jeremias estava apercebido de que verdade importante?

¹⁶ Até mesmo Jeremias foi moldado por Deus. Qual foi a atitude do profeta? Podemos ver pelo que ele reconheceu: “Não é do homem que anda o dirigir o seu passo.” Depois ele suplicou: “Corrige-me, ó Jeová.” (Jer. 10:23, 24) Jovens, vocês imitarão Jeremias? Sem dúvida, vocês terão muitas decisões a fazer. Alguns jovens querem ‘dirigir seus próprios passos’. Será que vocês buscarão a orientação de Deus ao tomar decisões? Assim como Jeremias, admitirão humildemente que os humanos têm se mostrado incapazes de dirigir seus próprios passos? Lembrem-se: Se buscarem a orientação de Deus, ele os moldará.

17-19. (a) Por que Jeremias fez uma longa viagem ao Eufrates? (b) Como a obediência de Jeremias poderia ter sido testada? (c) Aquilo que Jeremias fez em relação ao cinto tornou possível o quê?

¹⁷ A designação de Jeremias envolvia obediência às orientações de Deus. Se você estivesse no lugar de Jeremias, teria aceitado quaisquer instruções recebidas? Certa vez Jeová disse a Jeremias para pegar um cinto de linho e usá-lo. Depois, Deus mandou que ele viajasse até o Eufrates. Se você consultar um mapa, verá que isso envolvia uma viagem de quase 500 quilômetros. Ali, Jeremias deveria esconder o cinto na fenda de um rochedo e depois voltar para Jerusalém. E Deus mais tarde mandou-o voltar lá para buscar o cinto. (Leia Jeremias 13:1-9.) Ao todo, Jeremias viajou uns 1.900 quilômetros. Alguns críticos da Bíblia simplesmente não acreditam que ele tenha viajado tão longe, caminhando durante meses.b (Esd. 7:9) Mas foi isso o que Deus disse para Jeremias fazer, e foi isso que ele fez.

¹⁸ Imagine o profeta caminhando pelas montanhas de Judá e depois, dependendo da rota, atravessando um deserto até o Eufrates. Tudo isso só para esconder um cinto de linho! Sua longa ausência deve ter despertado a curiosidade de seus vizinhos. Quando ele voltou, estava sem o cinto de linho. Depois Deus disse para ele fazer novamente a mesma longa viagem para buscar o cinto, que agora estava podre e “não prestava para nada”. Seria muito fácil ele pensar: ‘Isso é demais! Não faz nenhum sentido.’ No entanto, visto ter sido moldado por Deus, ele não reagiu assim. Em vez de se queixar, fez o que lhe foi ordenado.

¹⁹ Foi só depois da segunda viagem que Deus explicou o assunto. As ações de Jeremias ajudaram a criar o cenário para que ele transmitisse uma poderosa mensagem: “Este povo mau que se nega a obedecer às minhas palavras, que está andando na obstinação do seu coração e que prossegue andando atrás de outros deuses, a fim de os servir e de se curvar diante deles, também se tornará igual a este cinto que não presta para nada.” (Jer. 13:10) Que maneira impressionante de Jeová ensinar seu povo! A obediência de coração de Jeremias a Jeová num assunto que parecia banal foi importante para tocar o coração das pessoas. — Jer. 13:11.

20. Por que sua obediência poderá intrigar alguns, mas do que você pode ter certeza?

²⁰ Atualmente não se pede aos cristãos que andem centenas de quilômetros como parte de uma lição divina. Mas será que a conduta cristã que você segue pode fazer com que seus vizinhos ou colegas fiquem intrigados ou até o critiquem? Isso talvez envolva a maneira de você se vestir e se arrumar, a educação que escolhe, a carreira de sua preferência ou até o modo como encara as bebidas alcoólicas. Você terá a mesma determinação de Jeremias em seguir as orientações de Deus? As escolhas que você faz, se deixar que Deus molde seu coração, podem resultar num bom testemunho. De qualquer forma, obedecer às instruções de Jeová que estão em sua Palavra e aceitar as orientações recebidas por meio da classe do escravo fiel é para seu bem-estar eterno. Em vez de se deixar conduzir por um coração traiçoeiro, você pode ser como Jeremias. Assim, esteja decidido a aceitar ser moldado por Deus; deixe que ele o transforme num vaso honroso que poderá ser usado para sempre.