Perguntas dos leitores
● Como podemos harmonizar Ezequiel 18:20, que diz que o filho não levará a iniquidade do pai, com Êxodo 30:5, que diz que Deus visitará a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração? -M. L., Alemanha.
Ezequiel 18:20 mostra que cada indivíduo, depois de alcançar a idade de responsabilidade, é julgado à base da sua própria atitude e proceder. O treinamento na infância e o ambiente da família podem servir de grande ajuda ou obstáculo para a descendência, e, como regra geral, as crianças continuam nas normas de comportamento estabelecidas durante os anos de formação. (Pro. 22:6) Contudo, nem sempre ou invariavelmente é assim, e ao alcançar a idade de responsabilidade, o filho escolhe seu próprio modo de agir, a despeito de quanto as suas decisões possam ser influenciadas pelo treinamento na infância ou pelo ambiente. Adota um certo modo de viver e é julgado de acôrdo com suas próprias ações. “De Deus não se zomba. Pois aquillo que o homem semear, isso também ceifará.“ “Retribuirá a cada um segundo as suas obras.” Jesus mostrou que famílias seriam divididas a seu respeito, alguns escolhendo segui-lo no serviço de Jeová e outros da família se opondo: “Pois vim causar divisão entre o filho e seu pae, entre a filha e sua mãe.“ O filho cristão de um pai opositor não levaria a iniquidade de seu pai, mas seria julgado com aprovação a base de suas próprias obras cristãs.— Gál. 6:7; Rom. 2:6; Mat. 10:35.
Ezequiel 18:20 envolve a pena máxima, a morte: “A alma que pecca, essa morrerá“. Se o ímpio se voltar à justiça, “certamente viverá, não morrerá”. Se o justo se voltar à iniquidade, “na sua transgressão com que transgrediu, e no seu peccado com que peccou, nelles morrerá“. Daí a chamada enfática de Jeová: “Porque morrereis, ó casa de Israel? . . .convertei-vos e vivei.“ (Eze. 18:21, 24, 31, 32) Dêsse modo, Ezequiel 18:20 corresponde a Deuteronômio 24:10, relativo aos que sofrem a pena da morte: “Não se farão morrer os paes pelos filhos, nem os filhos pelos paes: cada homem será morto pelo seu próprio peccado.”
O caso em Êxodo 20:5 é diferente. Jeová, mediante Moisés disse a Israel: “Se attentamente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha alliança, sereis a minha possessão peculiar dentre todos os povos (pois minha é toda a terra), e vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa.” Os anciãos, representando a nação, deram a Moisés a resposta desta a Deus: “Tudo o que Jehovah tem falado, faremos.” O pacto estava sendo feito com a nação, não com indivíduos. As palavras iniciais desse pacto tinham por fim mostrar que Jeová era o Deus deles, que eles não deveriam ter outros em desprezo a ele, e que nunca deveriam fazer imagens para adorá-las. Daí, em conexão com esta proibição de idolatria, Deus deu a razão para esse seu mandamento: “Porque eu, Jeová teu Deus, sou um Deus que exijo devoção exclusiva, punindo os filhos pela iniquidade dos pais, até os bisnetos e trinetos, no caso daqueles que me odeiam, mas exerço benignidade para com milhares daqueles que me amam e guardam meus mandamentos.” —Êxo. 19:3-8; 20:1-6, NW.
Isso expressa o princípio de como Deus recompensa a fidelidade e a infidelidade, e este princípio pode ser aplicado contra indivíduos bem como contra uma nação por causa de idolatria ou outro pecado. A história nacional de Israel, que mais tarde se processaria, esteve de acordo com o aviso de Jeová. Quando a nação se voltava à idolatria, sofria as más consequências por gerações seguidas. Sempre havia alguns que mantinham integridade, e, às vezes, aqueles que amavam a Deus e guardavam seus mandamentos somavam milhares, a despeito do proceder idólatra da nação. (1 Reis 19:14, 18) Os fiéis não eram punidos pelos pecados da nação, mas, embora sofressem os efeitos disso, eram beneficiados pela benignidade de Deus. Embora indivíduos pudessem evitar e evitassem as idolatrias praticadas por tôda a nação, lhes era difícil andar contra a tendência nacional de delinquência religiosa.
Quando os cabeças da nação se desviavam para a idolatria, o povo em geral se desviava com eles e o ambiente nacional tornava-se espiritualmente doentio. Neste ambiente mau a nova geração crescia, e a forte tendência era de seguir as religiões idólatras de seus pais. Às vezes era só gerações depois, que os ais acumulados, devido à sua idolatria, causavam uma crise nacional, que geralmente resultava num recôbro parcial deles, senão completo, da adoração impura.
De qualquer modo, a nação sofria por gerações depois de sua queda, se não houve arrependimento da parte das gerações posteriores, com respeito ao pacto de Jeová Deus. O livro de Juízes contém muitos relatos de recaídas nacionais e das consequências desastrosas. (Juí. 2:11-19) A mesma situação é achada durante o período em que os reis governavam. Por exemplo, Jeová determinou punir a nação por sua idolatria praticada durante o reinado de Manassés, e até o posterior bom reinado de Josias não afastou Deus desse propósito. (2 Reis 22:13-20; 23:25-27) A despeito de um recôbro temporário durante o reinado de Josias, a nação foi de mal a pior, até ser levada cativa a Babilônia, permanecendo ali por setenta anos. Houve um caso em que a nação foi punida devido às más ações dos pais, por um período de três ou quatro ou mesmo mais gerações. No tempo de Jesus, os chefes da nação influenciaram o povo a clamar pela morte de Jesus, e, quando Pilates se declarou inocente do derramamento do sangue de Jesus, o povo respondeu: “O sangue delle caia sobre nôs e sobre nossos filhos.“ (Mat. 27:25) A nação judaica rejeitou o Messias e voltou-se ao idólatra império romano, e a nação se constituía principalmente dos filhos desses judeus adultos, quando ela sofreu pelos pecados dos pais, ao virem os romanos em 70 E. C.
O fato de visitar a iniquidade nos descendentes não significa necessariamente a pena de morte, pois se estivesse envolvida a morte, como seria possível que os pais ofensores tivessem trinetos? Um dos exemplos de que Jeová aplicou esse princípio contra indivíduos é Eli, que por sua negligência veio a ter o sumo sacerdócio retirado de sua família, isto ocorrendo com Abiatar, o trineto de Eli. (1 Sam. 2:27-36; 3:11-14; 14:3; 22:20; 1 Reis 2:26, 27); e Giezi, que chegou a sofrer de lepra por correr em busca das recompensas do general sírio, Naaman, que havia sido curado, e isso contrário aos desejos de Eliseu, que lhe disse então: “Portanto a lepra de Naaman se pegará a ti e à tua semente para sempre.“ (2 Reis 5:1-27) Isto não expôs os seus filhos ou descendentes à pena extrema de morte mas lhe fêz sentir efeitos desvantajosos, devido à iniquidade de seus antepassados. Indivíduos entre esses descendentes podiam voltar-se a Jeová e receber uma certa medida de socorro e favor.