É Isso Cristianismo?
O JORNAL Plain Dealer, de 13 de agôsto de 1956, na coluna “Por Ordem Superior”, sob o título “Não Há Tempo Para Orar”, J. F. Saunders publicou o seguinte artigo que faz a pessoa pensar:
“Um amigo jornalista, cuja memória honramos, costumava informar-nos por intervalos regulares de que a razão por que preferia a igreja que frequentava era que o pastor quase nunca mencionava a religião. Sua observação provocava sempre uma risada, mas quando se lê que o Dr. John Heuss, da Igreja Episcopal Trinitária de Nova Iorque, disse essencialmente a mesma coisa, então se sabe que não é para provocar risadas, mas para suscitar o interêsse, se não a ansiedade da pessoa.
‘A série de campanhas para angariar fundos, as quermesses, os jantares, os almoços e as vendas de bolos, os conselhos pessoais dados em acampamentos e em clubes, e as inúmeras conferências são admiráveis’, disse o Dr. Heuss, ‘mas não é religião’. ‘A atual multidão de atividades das igrejas, com suas trivialidades cotidianas, é o maior inimigo da igreja’, advertiu o clérigo de Nova Iorque.
“Um estudo efetuado pela Fundação Russell Sage, a respeito dos deveres clericais, revelou que os ministros atuais precisam ser não só pastôres, mas também administradores, conselheiros, orientadores financeiros, educadores, organizadores e estar empenhados em atividades sociais. As exigências adicionais que ocupam o tempo do homem dedicado à salvação de almas tornaram-se tão diversas, que muitos clérigos temem que as funções secundárias da igreja estejam obscurecendo e ultrapassando as primárias. Há a tendência de colocar um rol de membros recorde acima da sólida espiritualidade, e de confundir a busca de atividades sociais com fervor religioso.
“Os boletins eclesiásticos estão cheios de anúncios de piqueniques, bailes rústicos, atividades juvenis, tabelas para campeonatos de boliche e de outros esportes, o patrocínio de exibições de bom gosto e quermesses. Enfatizam o financiamento e os planos para a expansão física das dependências da igreja, com ginásios e salões de recreio. Talvez se mencione alguma atividade de natureza estritamente espiritual, se sobrar lugar.
“O público divertia-se, anos atrás, quando as drogarias [norte-americanas], a fim de aumentar seu negócio de medicamentos, faziam propaganda de flôres e de sanduíches triplos, para atrair fregueses adicionais aos seus balcões, mas o público nem se incomoda hoje quando as igrejas têm de promover festas, piqueniques e smörgasbords, na esperança de induzir alguém à oração. O Dr. Ralph Sockman, conhecido pastor nova-iorquino, compara a igreja a uma joalharia, onde a maioria dos fregueses se contenta em levar substitutos baratos em vez de artigos genuinamente religiosos. . . . Kermit Eby, cientista social da Universidade de Chicago, observa que a dificuldade é que ‘a igreja tornou-se respeitável, uma instituição que agrada às multidões, em vez de ser o desembaraçado defensor de princípios. . . . Esta tendência à respeitabilidade e aquiescência tem minado a igreja como instrumento de Deus’.
“O Rev. Dr. Harry Emerson Fosdick, ministro emérito da Igreja de Riverside, em Nova Iorque, oferece o seguinte quadro da ‘espécie mais familiar’ dos frequentadores de igreja: ‘Observadores formais da moda convencionalmente decente, no domingo de manhã; fãs de pregadores populares, assim como de astros do cinema; pessoas que pensam que as igrejas, em geral, são uma boa coisa, que frequentar a igreja é um útil costume familiar, e faz bem à reputação da pessoa; mentalidades sectárias que saem da igreja com tôda a sua intolerância aguçada e confirmada; pessoas que buscam apenas paz mental, embaladas pela música e pela oração numa tranqüilidade sossegada; e até hipócritas, que encobrem vidas indignas sob o manto exterior da respeitabilidade religiosa.’
“Êle poderia ter dito que somos como os fregueses que saem da drogaria com um ramo de flores, porque o tônico, para cuja venda foi construída a drogaria, ficou obscurecido pelos atraentes produtos derivados.”