Jerusalém — A Cidade Famosa
NENHUMA outra cidade da história bíblica se destaca tão proeminentemente como Jerusalém. Por mais de mil anos depois que Davi a capturou ela foi o centro da vida religiosa do povo israelita pactuado com Deus. Foi para ali que Davi levou a arca do pacto e foi ali que Salomão edificou um magnificente templo. Requereu-se que cada israelita varão fôsse àquela cidade três vêzes por ano para assistir a festas. Era ali que moravam os reis de Judá e governavam seus súditos. Durante o tempo em que as doze tribos de Israel foram divididas em dois reinos, a maioria dos eventos importantes do reino meridional, o Reino de Judá, ocorreram em Jerusalém, a capital.
A história de Jerusalém remonta tanto à antiguidade que a sua idade e sua fundação se perderam no tempo. Mais de 1.900 anos antes da vinda de Jesus Cristo ela foi conhecida por Salém. Abraão se aproximou dela e do seu rei Melquisedeque, que era sacerdote de Jeová, e a quem êle levou dádivas. (Gên. 14:17-20) Eventualmente ela foi ocupada pelos jebusitas, que a chamaram de Jebus.
Embora a cidade não mais se chamasse Jebus depois que Davi a capturou, o nome “Jerusalém”, aparentemente, não lhe foi dado pelos israelitas. Êste nome parece ter sido ligado a ela antes da entrada dêles na Terra Prometida. As cartas de Tel el-Amarna, que foram enviadas por certos reis de Canaã aos egípcios, por volta do tempo em que os israelitas invadiram o país, dão êste nome à cidade. Êles usaram a forma “Urusalim”.
Jerusalém está localizada num planalto a cinqüenta quilômetros do Mar Mediterrâneo e numa altitude de cêrca de 900 metros. Conduzindo à encosta do planalto estão os vales através do Sefelá ou contrafortes de Judá entre o planalto e a planície costeira. Por muito tempo, dois dêstes vales eram usados como importantes rotas de viagens entre Jerusalém e o litoral. Foram também o local de muitas batalhas, visto que através dêles os exércitos atacavam os judeus das terras altas ou então eram os exércitos que desciam daquelas terras para atacar o povo nas terras baixas.
A mais importante destas rotas era a do vale Aijalom. É uma planície larga que dá acesso fácil à região elevada. Diversos caminhos conduzem do vale para o planalto de Gibeom, que fica a poucos quilômetros ao norte de Jerusalém. Descer estas rotas e atravessar o vale de Aijalom sempre foi o caminho mais fácil de Jerusalém à cidade de Jopa, no litoral do Mar Mediterrâneo. Foi no vale de Aijalom que Josué, ao lutar contra os amorreus, pediu a Jeová que parasse o sol. (Jos. 10:5, 12) Em 66 (E. C.), quando o governador romano Gaio Céstio Galo levantou o cêrco de Jerusalém, os judeus causaram grandes perdas ao seu exército, ao passo que êste se retirava pelo caminho que passava pelas gargantas que conduziam ao vale de Aijalom. Em face destas gargantas, a rota de Jerusalém era perigosa para as fôrças militares. Une poucos homens bem colocados podiam interditar a rota. O vale de Soreque, outra rota importante, fica um pouco ao sul do vale de Aijalom e era semelhantemente fácil de ser interditado pelo exército defensor de Jerusalém. Quando estas entradas naturais ao oeste das colinas judaicas eram interditadas, Jerusalém ficava razoàvelmente salva de exércitos hostis que de vez em quando avançavam através das colinas costeiras.
A rota ao leste de Jerusalém, que a ligava com Jericó, passava pelo deserto da Judéia. As gargantas profundas que havia nesta área, subindo 1.000 metros de Jericó a Jerusalém em questão de vinte quilômetros, bem como a falta de água, tornavam arriscado um exército atacante aproximar-se da cidade.
Atravessando Jerusalém de norte a sul havia uma das principais rotas de viagem. Ao norte da cidade, a rota passava por Sequém, Samaria e, por fim, juntava-se à principal rota de Damasco, que passava junto ao Mar da Galiléia, dirigindo-se para a movimentada rota litorânea. Ao sul de Jerusalém, a rota central passava por Belém, Hebrom e pela cidade meridional de Ber-seba. Daí ela se dirigia para o deserto, atravessava a península de Sinai e entrava no Egito. Outra rota do deserto vinha de Ber-seba para o Mar Vermelho. Assim, a rota central ligava Jerusalém com o Egito e com a cidade portuária de Eziom-geber ao sul e com a movimentada rota comercial que passava por Damasco, indo para a Mesopotâmia, ao norte.
As defesas naturais ficavam quase tôdas ao norte de Jerusalém, o que tornava a cidade difícil de ser tomada. Êste era o lado geralmente atacado pelos inimigos. Ao oriente fica o vale Quidrom que vira na direção sudeste e vai para o deserto da Judéia. Ao ocidente, e virando-se para o sul para encontrar-se com o vale Quidrom, fica o vale de Hinom. Êstes vales profundos davam à cidade um poder natural em adição ao que ela obtinha da região montanhosa, que não era de fácil acesso para um exército. As ravinas não são tão profundas hoje como o eram então, por causa do cisco que tem caído da cidade no decorrer dos séculos.
Em sua longa história Jerusalém já foi sitiada muitas vêzes, sendo destruída mais de uma vez, mas não há registro de que seus habitantes tenham alguma vez sofrido por falta d’água. As cisternas nas tôrres, os diversos reservatórios e a fonte de Giom no vale Quidrom a mantinham abastecida de água. No início da cidade cavaram um túnel na rocha até um lugar de onde se podia descer uma haste de doze metros até o reservatório para onde corria a água da fonte. Por êsse meio os habitantes podiam tirar com segurança a água que precisavam.
Devido ao fato de Jerusalém ser a cidade que Jeová Deus tinha escolhido como sede de sua teocracia típica e o lugar do seu templo, ela se tornou uma cidade de destaque na história humana. Mas ela não tem mais o favor de Jeová Deus. Visto que seus habitantes rejeitaram-no e mataram seu Filho, Jeová a abandonou. (Mat. 23:37, 38) Embora ela seja atualmente famosa por sua antiguidade, sua história incomparável, e embora seus habitantes possam escolher individualmente servir a Deus, ela não tem mais a distinção de ser o lugar que Jeová escolheu para seu nome.