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Alemanha (Parte Um)Anuário das Testemunhas de Jeová de 1975
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Quão humilhados, também, ficaram aqueles que puseram sua confiança nele — por exemplo, Himmler, que também considerava Hitler como uma divindade e que inescrupulosamente executava as ordens dele. Foi Himmler que tornara dificílima a vida dos servos fiéis de Jeová por muitos anos. Por quanto sangue derramado tinha ele de assumir a responsabilidade? Em 1937, jactanciosamente disse às nossas irmãs em Lichtenburgo: “Vocês também capitularão, nós vamos reduzi-las ao seu verdadeiro tamanho, vamos agüentar muito mais tempo que vocês!” E quão deprimido estava depois do colapso do regime nazista, quando fugia e se encontrou com o irmão Lübke em Harzwalde e lhe perguntou: “Bem, Estudante da Bíblia, o que acontecerá agora?” O irmão Lübke lhe deu um testemunho cabal e lhe mostrou que as testemunhas de Jeová sempre contavam com o colapso do regime nazista e com sua libertação. Himmler se foi sem dizer uma só palavra, e pouco depois se envenenou.
Mas, apesar das condições difíceis, como se regozijavam os que adoravam a Jeová! Tiveram o privilégio de provar sua integridade ao Regente Soberano do universo. Durante o regime de Hitler, 1.687 deles perderam seus empregos, 284 seus negócios, 735 os seus lares e 457 não obtiveram permissão de exercer sua profissão. Em 129 casos, sua propriedade foi confiscada, a 826 pensionistas se negou o pagamento de suas pensões, e 329 outros sofreram outras perdas pessoais. Houve 860 crianças que foram retiradas do convívio dos pais. Em 30 casos, dissolveram-se casamentos devido à pressão por parte de autoridades políticas, e, em 108 casos, foram concedidos divórcios quando solicitados por cônjuges opostos à verdade. Um total de 6.019 foram presos, vários deles duas, três ou até mesmo mais vezes, de modo que, somando-se tudo, 8.917 prisões foram registradas. Juntando-se tudo, foram sentenciados a 13.924 anos e dois meses de prisão, duas e um quarto de vezes o período desde a criação de Adão. Um total de 2.000 irmãos e irmãs foram lançados nos campos de concentração, onde gastaram 8.078 anos e seis meses, uma média de quatro anos. Um total de 635 pessoas morreram na prisão, 253 tendo sido sentenciadas à morte e 203 delas tendo realmente sido executadas. Que belo registro de integridade!
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Alemanha (Parte Dois)Anuário das Testemunhas de Jeová de 1975
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Alemanha (Parte Dois)
COMEÇA A RECONSTRUÇÃO
Imediatamente depois da guerra, os irmãos no Betel suíço foram os únicos que tiveram contato com os irmãos alemães. Eles, tendo ouvido falar de certas tendências indesejáveis que existiam em muitas congregações, mesmo depois da libertação dos irmãos dos campos, enviaram a seguinte circular às congregações:
“A todos nossos amados conservos na Alemanha
Queridos Irmãos em Cristo,
“Finalmente ficaram livres do jugo nazista! — Alguns dos irmãos sofreram por muitos anos, quer na prisão, quer nos campos de concentração, quer outros tipos de perseguição. . . .
“Ninguém, contudo, que foi considerado digno de sofrimento especial pelo nome do Senhor deve tornar-se orgulhoso por causa disso e usar um halo de mártir ou exaltar-se acima dos demais que não estiveram presas, nem nos campos de concentração. Ninguém deve jactar-se de seus sofrimentos perante suas concriaturas humanas. Não se esqueçam de que muitos irmãos que permaneceram em suas casas também tiveram muitos problemas e estiveram sob graves pressões. O cristão não pode escolher seus sofrimentos. O Senhor os determina ou, melhor, permite-os.
“Por esta razão, queridos irmãos, não sejamos injustos nem tomemos lados, nem condenemos a ninguém que, segundo nosso modo de pensar, tenha transigido ou que estivesse disposto a fazer isso. O Senhor julga nossos corações. Diante dele somos como um livro aberto. . . .
“O irmão Erich Frost, de Leipzig, está autorizado a assumir a direção dos assuntos em seu território. Este arranjo, contudo, é de natureza temporária, segundo as instruções do presidente. O irmão Frost, na medida do possível, relatará regularmente ao presidente sobre o progresso da obra de impressão.
“A obra de pregação, sob a direção do novo presidente da Sociedade, Nathan Homer Knorr, tem sido organizada mais cabalmente do que nunca e está fazendo grande progresso! . . .
“Família da Casa da Bíblia em Berna
assinado Fr. Zürcher”
Os irmãos Frost, Schwafert, Wauer, Seliger, Heinicke e outros, logo depois de sua soltura, começaram a tentar obter de novo a posse da propriedade da Sociedade, visando que a obra fosse de novo dirigida dali. Isto mais tarde resultou impossível, devido à atitude hostil das autoridades russas.
O irmão Frost, que no ínterim fora designado superintendente da filial, pediu a Willi Macco, de Saarbrücken, Hermann Schlömer e Albert Wandres, de Wiesbaden, e ao irmão Franke, de Mainz, que organizassem e cuidassem das congregações naquelas partes da Alemanha Ocidental em que já eram diretores regionais de serviço durante a proscrição.
Nesse mesmo tempo, o irmão Franke se empenhava, na vizinhança de Stuttgart, em comprar papel que pudesse ser usado para se imprimir pequenas edições de A Sentinela. Foram também feitos arranjos para serem proferidos discursos pelo rádio em Stuttgart Francforte e Saarbrücken, destarte trazendo à atenção do público a mensagem do Reino. Por fim, o irmão Franke alugou duas salas de escritório em Wiesbaden, e, uma semana mais tarde, um pequeno quarto na mesma casa, para alojamento.
No fim de 1945, o irmão Frost foi de Magdeburgo a Stuttgart e considerou questões de organização com irmãos fiéis que estavam dispostos a assumir o serviço de tempo integral como servos viajantes ou a trabalhar em Betel. Visto que a Sociedade estava registrada em Magdeburgo, na Alemanha Oriental, parecia necessário abrir um escritório sucursal em Stuttgart, na Alemanha Ocidental.
Logo depois o irmão Frost se dirigiu para os Países-Baixos, para encontrar o irmão Knorr e falar pessoalmente com ele pela primeira vez. Parou em Wiesbaden, no caminho e, depois de o irmão Franke lhe mostrar as duas salas de escritório alugadas, decidiu imediatamente cancelar os planos para Stuttgart e abrir o escritório em Wiesbaden. Isso significava que as duas salas de escritório e o pequeno alojamento do irmão Franke se tornariam o lar de Betel, onde dentro em breve vinte irmãos e irmãs trabalhavam e comiam.
Aproximadamente um ano depois, a cidade de Wiesbaden ofereceu ao irmão Franke, devido a ter sido internado sob a proscrição, um apartamento de dois cômodos na Rua Wilhelminen, 42; de modo que não só o irmão Franke, mas o Betel também mudou. O maior desses dois cômodos era o lar de Betel. Pela bondade imerecida de Jeová, foi possível alugar um outro quarto no mesmo prédio, de propriedade de uma irmã, e este servia qual escritório. Foi aqui que o irmão Knorr fez sua primeira visita aos irmãos na Alemanha.
Os irmãos visitaram repetidas vezes o prefeito, e, embora ele tivesse prometido alguns cômodos, sim, até mesmo toda uma casa, ainda assim nada resultara disso. Então aproveitaram a visita do presidente da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados dos EUA, anunciando-a com ênfase a todas as devidas autoridades, em especial, porém, ao prefeito, perguntando-lhe o que achava que deveriam dizer ao presidente da Sociedade, que era estadunidense, quando este lhes indagasse que espaço para escritório lhes fora oferecido para cumprirem suas responsabilidades. Aproveitaram-se da proscrição de Hitler e de seus longos anos de prisão, apontando as autoridades a responsabilidade que elas assumiram voluntariamente de fazer reparações das injustiças cometidas contra as Testemunhas. Quão surpresos ficaram os irmãos quando o prefeito disse: “Então por que não ficam com a ala ocidental do prédio em Kohlheck?” Fora construído para ser usado como alojamento da força aérea, mas não fora terminado nem usado antes do fim da guerra. Esse era justamente o prédio que contemplavam e tentaram várias vezes obter, mas sem êxito.
Felizes com estas informações, aguardaram com excitamento a visita do irmão Knorr, durante a qual seria redigido e assinado legalmente o contrato por ele, como presidente da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, dos EUA.
CONGRESSO EM NUREMBERGUE
Enquanto os irmãos se ocupavam em reorganizar as congregações e em suprir-lhes o alimento espiritual, apesar da escassez de papel, crescia seu desejo de ter uma grande assembléia. Mas, organizar tal assembléia naquele tempo envolvia a solução de muitos problemas, não só relacionados à escassez de alimentos e à falta de acomodações, mas também os relacionados a estar a Alemanha dividida em quatro setores militares, e ser extremamente difícil viajar de um setor para outro. Apesar disto, o irmão Frost pediu ao irmão Franke que fizesse arranjos para pelo menos uma assembléia de distrito em cada setor de ocupação e, se possível para se realizar uma delas em Nurembergue, no setor estadunidense.
Depois de terem falhado as primeiras tentativas, um irmão dirigiu-se pessoalmente às autoridades em Nurembergue e determinou que havia possibilidade de se realizar ali uma assembléia, afinal das contas. Foram feitos arranjos para os dias 28 e 29 de setembro. Tornou-se ainda maior a expectativa entre os irmãos quando se anunciou que o governo militar finalmente nos oferecera o Zeppelinwiese em Nurembergue.
Nessa época, corria em Nurembergue o julgamento dos chamados “criminosos de guerra”, e deveriam ser sentenciados em 23 de setembro. Esta data fora fixada com semanas de antecedência, e o mundo já tinha sido avisado.
Depois que se tornou possível realizar uma assembléia em Nurembergue, os irmãos decidiram, no último minuto, estendê-la por um dia, de modo que concluísse na segunda-feira, 30 de setembro. Depois de se reorganizarem os trens especiais e de se fazerem todos os arranjos para este terceiro dia de assembléia, as rádios e os jornais subitamente anunciaram ao mundo que as sentenças no julgamento pelos crimes de guerra, em Nurembergue, não se tornariam públicas antes de 30 de setembro. Isto criava problemas, visto que o governo militar estadunidense receava que houvesse demonstrações em Nurembergue, e, portanto, ordenara um toque de recolher. Significava que ninguém da cidade poderia comparecer ao discurso público na segunda-feira. Assim, foi programado de novo para a noitinha de domingo, às 19,30, o irmão Frost discursando sobre o assunto “Os Cristãos no Crisol”. Indescritível era a alegria dos 6.000 irmãos presentes quando ouviram dizer que 3.000 pessoas adicionais de Nurembergue estavam presentes para ouvir este discurso.
Embora as autoridades do governo militar estadunidense de início tentassem cancelar o terceiro dia de nossa assembléia devido às sentenças que seriam dadas no mesmo dia aos criminosos de guerra, os irmãos ganharam. Depois de prolongadas negociações, as autoridades militares retiraram sua solicitação. Como poderiam proibir às testemunhas de Jeová, que por tantos anos haviam resistido àqueles que agora estavam sendo julgados, de concluir em paz e sem perturbações a sua assembléia?
Assim, na manhã de segunda-feira, os irmãos na assembléia, que tinha por lema “De Coração Forte Para a Era do Após-Guerra”, usufruíram outro destaque quando foi proferido o discurso “Destemidos Contra a Conspiração Mundial”.
Quem pode descrever como os 6.000 irmãos reunidos se sentiram quando compreenderam como Jeová manobrara os assuntos? Pense só, depois do colapso do regime nazista, as testemunhas de Jeová, que têm verdadeira mensagem de paz para a humanidade, foram os primeiros a quem se permitiu reunirem-se neste campo que certa vez tinha sido o local das paradas de Hitler. E podemos imaginar suas reações quando pensavam em que, neste seu terceiro dia de assembléia estavam sendo proferidas sentenças de morte para aqueles que representaram aquele sistema assassino que tentou eliminar as testemunhas de Jeová? Disse o presidente na assembléia: “Apenas poder presenciar neste dia, que é apenas um antegosto do triunfo do povo de Deus sobre seus inimigos na batalha do Armagedom, valeu os nove anos de campo de concentração.” Sua declaração foi captada pela imprensa e transmitida a todo o mundo.
MEDIDAS DE SOCORRO DO EXTERIOR
Em 1947, os irmãos Knorr, Henschel e Covington puderam visitar os irmãos na Alemanha. Durante suas visitas, foram feitos arranjos para se realizar uma assembléia em Stuttgart, no sábado e domingo, 31 de maio e 1.º de junho. Visto não haver salões disponíveis na cidade, sendo que tudo tinha sido arrasado pelos bombardeios, arranjou-se um local de assembléia num subúrbio adjacente. Havia aproximadamente 7.000 pessoas presentes.
Durante esta visita do irmão Knorr, tornou-se evidente a ele que as remessas de socorro, de alimentos e roupas, feitas pela Sociedade, teriam de continuar. Os irmãos na Suíça haviam contribuído com muitas dádivas em forma de gêneros alimentícios e roupas a fim de socorrer os irmãos alemães em premente necessidade, mostrando assim seu amor fraternal. Mas, o irmão Knorr sentiu tanta pena deles que decidiu contar aos irmãos que se reuniriam em congresso em Los Angeles, algumas semanas depois, sobre a luta deles e os encorajaria a contribuir alimentos e roupas. Os irmãos alemães, contudo, não estavam especialmente cônscios de sua luta, tão felizes e apreciativos se sentiam de que Jeová preparara esta festa espiritual para eles, tendo por clímax o privilégio de ter o irmão Knorr no meio deles.
Quando ele falou aos irmãos dos Estados Unidos sobre suas observações na Alemanha e os incentivou a contribuir gêneros alimentícios, os irmãos espontaneamente responderam com US$ 140.000,00, soma usada para comprar 22.000 grandes pacotes de alimentos da organização CARE, para serem enviados à Alemanha. Adicionalmente, contribuíram com 200 toneladas de roupas — ternos, vestidos, roupas de baixo e sapatos, para homens, mulheres e crianças.
Logo que se fez o anúncio de que a remessa estava a caminho, fizeram-se preparativos em Betel para uma distribuição rápida e suave. Num subúrbio de Wiesbaden, alugaram um quarto numa Gasthaus (taberna) onde selecionaram e distribuíram as roupas. Todo publicador que estivera ativo no ministério de campo por seis meses — em outras palavras, que não relatara apenas para obter um pacote de CARE — foi registrado, pois havia um pacote grande e valioso de alimentos à espera de cada um deles.
A distribuição mal tinha começado quando montanhas de cartas chegaram à filial, em que os irmãos expressavam seu apreço. Era emocionante ver o apreço com que os irmãos aceitavam tais dádivas e como se sentiam movidos a agradecer tanto a Jeová como aos contribuintes, seus irmãos nos Estados Unidos. Com muita freqüência, alguém tinha de parar de trabalhar para enxugar as lágrimas que tais cartas faziam correr em seus olhos. Como exemplo, certo pai, depois de abrir o pacote e ver seu conteúdo, ajoelhou-se junto com seu filho de 12 anos e agradeceu a Jeová, em oração, este amoroso presente de seus irmãos.
O irmão Knorr também fez arranjos para que quase um milhão e meio de exemplares dos livros “Seja Deus Verdadeiro”, O Novo Mundo e “A Verdade Vos Tornará Livres” fossem enviados à Alemanha como presente. Com o dinheiro ajuntado pela distribuição destes livros, lançar-se-ia uma base, a partir da qual a filial poderia operar. Assim, Jeová cuidava de tudo o que era necessário para que a obra prosseguisse de novo na Alemanha.
AVANTE, APESAR DAS DIFICULDADES DO APÓS-GUERRA
O ano de 1948 começou com uma série de greves na Alemanha meridional e no território do Ruhr, em protesto contra a péssima situação alimentar. As rações de carne e de gordura tinham sido reduzidas ainda mais. Ao passo que a ONU declarara ser necessária uma ração de 2.620 calorias diárias, o que se conseguia obter estava muito aquém disto em alguns lugares — apenas 1.000 ou, talvez, apenas 700 calorias. Quase todos estavam famintos, e a situação se agravava, resultando numa sensação geral de amargura.
Todavia, o povo de Jeová começou o novo ano cheio de zelo e entusiasmo. Uma reunião especial em cada congregação foi realizada em 1° de janeiro, com um total de 38.682 pessoas na assistência, e, durante este mesmo mês, 27.056 publicadores, 2.183 mais que no mês anterior, relataram serviço de campo. Era tempo para iniciar-se a campanha anual de A Sentinela, mas, o que nós aqui, na Alemanha, realmente precisávamos eram de exemplares pessoais de A Sentinela para nós mesmos. Era um problema, especialmente em vista das condições angustiantes trazidas pela escassez de papel, além de todas as demais dificuldades. O irmão Knorr fez arranjos pelos quais uma quantidade suficientemente grande de Sentinelas foram impressas na Suíça e enviadas à Alemanha, de modo que, durante janeiro, não só cada publicador tinha sua própria Sentinela, mas toda congregação foi suprida de algumas além dessa quantidade, permitindo que muitos que compareciam regularmente ao estudo da Sentinela obtivessem seu próprio exemplar pessoal. Assim, o alimento espiritual nos estava sendo provido.
Nesta época, a maioria das cidades alemãs não eram nada mais do que montões de destroços. Este era o caso de Cassel; fora quase que inteiramente destruída e as primeiras estimativas
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