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Gratos pelos nossos irmãos mais idososA Sentinela — 1971 | 15 de setembro
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uma das suas primeiras perguntas foi: ‘Quanto dinheiro tem?’ Parece que o carro precisava muito de conserto.”
“Mas deve admitir que aqueles anos estavam entre os mais felizes de nossa vida, trabalhando de pioneiros naquelas belas montanhas e associando-nos com amigos maravilhosos, que ainda temos ali.
“Lembre-se de que pouco depois fomos à assembléia de Cleveland, em 1946? Acho que esta foi a sua primeira grande, não foi, Earlene?”
“Sim, e eu fui designada pelo departamento de serviço voluntário a trabalhar junto com Mabel Haslett. Naquele tempo não sabíamos que boa influência ela e seu marido exerceriam sobre a nossa vida, não, nem mesmo quando descobrimos que eles foram convidados para a mesma classe da Escola de Gilead da Sociedade que nós.”
ESCOLA DE GILEAD E TRABALHO MISSIONÁRIO
“Aquela era a décima primeira classe, a segunda classe internacional, como foi chamada, visto que apenas cerca de um terço de seus estudantes eram americanos. Quão grande foi o privilégio de nos associarmos intimamente com irmãos espiritualmente maduros da Grã-Bretanha, da Austrália, da Nova Zelândia e da Europa!”
“E lembra-se de que, depois do primeiro período de aulas, o presidente da Sociedade, N. H. Knorr, pediu voluntários para irem ao Japão junto com Don e Mabel Haslett e um grupo de havaianos de descendência japonesa? Conforme me lembro, cerca de 75 por cento estavam dispostos a ir, e nós estávamos entre os dezesseis selecionados. Isto significava começar logo a estudar o japonês.”
“Por cerca de um ano depois da formatura fomos designados a visitar e a ajudar as congregações num circuito da Califórnia, e depois veio a carta do Presidente Knorr, mudando nossa designação do Japão para a Coréia, e perguntando se a aceitávamos. Claro que a aceitamos, e foi em agosto de 1949 que partimos do aeroporto de Los Ângeles para a Coréia. Nosso avião chegou a Tóquio, e Don Haslett conseguiu das autoridades de ocupação a permissão de passarmos ali alguns dias, dias durante os quais ele nos poderia dar bom conselho quanto a como se ajustar a uma designação no Oriente.”
“Sim, Don, lembro-me disso. E lembro-me também de que, quando chegamos a Seul, havia ali cerca de vinte que se reuniam cada semana para o estudo da Sentinela. Uma das Testemunhas traduzia a matéria do estudo do inglês e depois fazia cópias extras em folhas muito finas de papel. Este trabalho meticuloso feito à mão produzia apenas oito cópias, e no estudo havia quatro ou cinco pessoas apinhadas em volta de uma cópia.”
“Isso mesmo. Havia então poucas publicações disponíveis. De fato, trazíamos conosco vinte exemplares da edição coreana do folheto Onde Estão os Mortos?. E no ministério costumávamos emprestar estes vinte folhetos, e depois voltar e apanhá-los novamente. Naquele mês, oito das Testemunhas locais participaram conosco no ministério de campo. De que mais se lembra daqueles primeiros dias, Earlene?”
“Lembro-me de quando mais seis missionários chegaram em março de 1950. Em maio já atingimos um auge de sessenta e um publicadores, incluindo oito missionários. As Testemunhas originais que havíamos encontrado ali na nossa chegada haviam suportado encarceramento de cinco a sete anos cada uma, sob a ocupação japonesa. A maioria delas se manteve fiel até à morte, e as sobreviventes ainda pregam as boas novas.”
A GUERRA COREANA
“Depois veio a guerra. Sei que você se lembra da reunião pública que tínhamos no auditório duma escola, em 25 de junho de 1950. Quando se encerrou a reunião, a polícia nos disse que a Coréia do Norte, comunista, havia atacado e que vigorava o toque de recolher; todos deviam apressar-se para casa.
“Observamos assim a guerra desde o telhado de nossa casa, na primeira noite. No terceiro dia, quando as forças comunistas haviam penetrado nos arrabaldes da cidade, ordenou-se que todos os cidadãos americanos e europeus se apresentassem às suas respectivas embaixadas para uma evacuação imediata. Quando obedecemos à ordem, não tínhamos nenhuma idéia de que as hostilidades se desenvolveriam num conflito maior. Nunca me esquecerei daqueles dias; e você, Earlene?”
“Nunca! Uma de nossas irmãs cristãs e eu estávamos doentes naquela ocasião, e tínhamos cerca de trinta minutos para arrumar uma mala. Lembro-me de quão perturbado ficou o cônsul americano quando descobriu que ainda havia seis mulheres americanas na cidade, pois não havíamos feito caso dos avisos transmitidos antes em código pelo rádio. Mas, tudo saiu bem para nós, pois conseguimos embarcar no último grupo de aviões que saíram do aeroporto de Kimpo, ao passo que as outras mulheres e crianças, que haviam sido evacuadas num barco de fertilizantes, no dia anterior, demoraram muito em se reunir com seus homens.
“Nunca me esquecerei de como nossos ônibus foram metralhados pelos aviões comunistas, quando nos dirigíamos ao aeroporto. E lá na pista do aeroporto eles nos metralharam outra vez, de modo que fomos levados para um porão cheio de gente. Por fim, nós mulheres fomos embarcadas no primeiro avião que saiu. Daí, dois aviões comunistas tentaram abater nosso avião; mas eles foram abatidos pelos aviões que nos escoltavam. Depois ficamos sabendo que aqueles dois aviões foram os primeiros relatados como abatidos na Guerra Coreana. Em vez de os evacuados serem levados a outro lugar na Coréia, levaram-nos a Itazuke, em Quiuchu, no sul do Japão. Quanto nos alegramos ao saber que vocês, homens, haviam sido levados para o mesmo lugar!”
“Sim, Earlene, e foi só depois que se tornou evidente que o conflito coreano não acabaria logo, e Seul caiu duas vezes nas mãos dos comunistas. A Sociedade designou então nós oito missionários da Coréia para Nagóia, no Japão. Não havia então Testemunhas locais ali em Nagóia, mas dentro de um ano havia ali mais de sessenta publicadores das boas novas.
RETORNO À CORÉIA
“Durante o próximo ano, a filial de Tóquio da Sociedade tentou diversas vezes providenciar que pelo menos um de nós voltasse à Coréia. Por fim, o Comandante Supremo das Forças Aliadas permitiu que um de nós voltasse à Coréia. O presidente da Sociedade me escreveu que eu voltasse para lá e ficasse lá pelo menos um mês. Aconteceu que eu pude permanecer na Coréia, mas nenhum outro missionário das Testemunhas podia entrar; por isso fiquei. Voltei para lá em novembro de 1951, mas você só recebeu permissão de ir em outubro de 1952, Earlene.”
“E como me lembro disso! E quão feliz se sentiu quando eu voltei, para eu lhe preparar uma refeição para variar. Acho que você comia muito mais refeições frias daquelas rações de soldados, que se podiam comprar, do que você quer admitir, Don.”
“Aquele ano foi difícil, em vista de nossa nova separação, Earlene, mas quão maravilhoso foi o ano quanto ao progresso da obra do Reino. Nossos irmãos cristãos haviam sido espalhados pelo sul, como refugiados, durante as lutas pesadas. Em novembro de 1951, apenas trinta e cinco relataram servir no ministério de campo, mas havia muitos mais pregando. Em dezembro e janeiro, fiz uma viagem para visitá-los, e organizaram-se seis congregações. Daquele ponto em diante, a obra cresceu tão rapidamente, que quase não era possível acompanhá-la. No fim do ano de serviço de 1952, havia 192 publicadores relatando. Mas no fim do ano de serviço de 1954, havia 1.065 relatando! Portanto, embora a Guerra Coreana fosse uma coisa desastrosa para o povo coreano, o espalhamento das testemunhas de Jeová pelas diversas partes do país serviu para levar a mensagem do Reino às pessoas naquelas regiões tanto mais cedo. Nossos queridos irmãos coreanos certamente merecem o elogio por se terem ‘esforçado vigorosamente’ para aproveitar esta situação.”
“Don, é verdade que aqueles dias eram difíceis para nós, mas me dá alegria pensar nas qualidades excelentes de nossos irmãos coreanos e na direção de Jeová, que resultou em todo este aumento. É verdade que às vezes as coisas pareciam difíceis. Por exemplo, quando nos mudamos novamente para Seul, depois de dois anos em Pusã, naquela parte de nosso atual lar de Betel conhecida como o ‘prédio velho’, este havia sido todo estragado pela guerra — não havia janelas, o reboco havia caído, não havia eletricidade nem água, e assim por diante. Daí, por dez anos, ficamos sem receber água pelo encanamento naquele prédio. Toda ela tinha de ser carregada para cima em baldes pendurados duma canga nos ombros de alguém. Agora, veja este belo lar moderno de Betel que temos hoje. É difícil pensar no que aconteceu durante todos aqueles dias.”
“Sim, toda a Coréia mudou muito desde aqueles dias, Earlene. Em 1955, depois da guerra, chegaram mais oito missionários. E as Testemunhas locais haviam feito bom progresso em desenvolvimento espiritual. Um dos meus primeiros estudantes da Bíblia, batizado em 1950, é agora superintendente de uma das cinqüenta e duas unidades em Seul. Naquele tempo, ele não estava ainda casado; agora, seu segundo filho nos ajuda aqui em Betel. Isto nos parece tornar velhos, não parece?”
“Ora, Don, eles nos consideram como vovô e vovó de nossos irmãos cristãos aqui. Usam estes mesmos termos queridos ao se dirigirem a nós. Embora já passemos dos cinqüenta anos de idade, ainda temos alguns anos na nossa frente, para usar na obra que resta a fazer antes do Armagedom. Jeová certamente nos tem abençoado.”
“Deve lembrar-se, Earlene, quando nos formamos em Gilead, em 1948, que o presidente da Sociedade disse à nossa classe que receberíamos passagens só de ida para as nossas designações. Mas Jeová tem sido bom para nós, pois com a nossa volta à Coréia, depois de nossa licença em 1969, podemos dizer que cruzamos o Pacífico nove vezes, tendo retornado em quatro ocasiões diferentes. Por exemplo, em 1953, para assistirmos à assembléia internacional em Nova Iorque, programamos ir de navio, mas os irmãos em nosso antigo circuito na Califórnia, contribuíram fundos extras para podermos ir de avião. Novamente, em 1958, assistimos à assembléia em Nova Iorque. Depois, em 1962, eu fui chamado de volta para um curso de dez meses na Escola de Gilead. E naquele tempo, você tinha algumas dificuldades físicas e recebeu permissão de passar estes dez meses no Colorado, para se restabelecer. No ano passado, pudemos assistir à assembléia de 1969, também em Nova Iorque. Nossas famílias foram muito boas para conosco, bem como muitos amigos que nos ajudaram a tornar possíveis estas viagens, e somos gratos a eles e também à Sociedade.”
“Don, eu sempre serei grata por aquela licença extra, em 1962. Eu tenho tido problemas com a saúde durante os anos, inclusive três intervenções cirúrgicas, e não posso dizer que tenha tido tratamento menos competente aqui do que em outro lugar. Agora devo dizer que me sinto melhor, fisicamente, do que nos últimos cinco ou seis anos, e sou grata a Jeová por isso.”
“Durante todos estes anos, nossos irmãos cristãos têm sido muito bondosos e hospitaleiros conosco, Earlene, e têm demonstrado seu amor em muitas maneiras. Eles têm sido nosso constante deleite. E agora, ao escrevermos esta história, nossos irmãos coreanos ainda aumentam em número. No ano de serviço de 1970 se batizaram mais de 3.000. E no ano de serviço tivemos um auge de 12.267 publicadores. E não há fim do aumento em vista.
“Podemos olhar para trás com gratidão para os muitos irmãos e irmãs mais idosos, na fé, cuja vida se cruzou com a nossa, nos nossos anos mais jovens, e que exerceram grande influência sobre nós pelo seu próprio proceder fiel. Muitos deles eram dos ungidos do Senhor. Se as bênçãos que usufruímos até agora são qualquer indício do que há de vir, então aguardam a todos nós alegrias maravilhosas no novo sistema de coisas, junto com os excelentes companheiros que então poderemos ter!”
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Perguntas dos LeitoresA Sentinela — 1971 | 15 de setembro
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Perguntas dos Leitores
● Não é verdade que Jeová foi parcial para com a nação de Israel, no modo em que tratou com ela? Mas, em Atos 10:34, a Bíblia diz que “Deus não é parcial”. Como se harmoniza isto? — E. U. A.
Ser imparcial significa estar livre de preconceito ou favoritismo. É não permitir que a pessoa ou sua posição, sua riqueza, seu poder ou outra influência deturpem o critério ou as ações adotadas a favor desta pessoa. Significa não aceitar suborno, e, por outro lado, não ser influenciado pelo mero sentimentalismo para com alguém pobre. A imparcialidade cuida de que todos sejam tratados em harmonia com aquilo que é direito e justo, segundo o que cada um merece e necessita. — Pro. 3:27.
Jeová diz que ele “não trata a ninguém com parcialidade, nem aceita suborno”. (Deu 10:17; 2 Crô. 19:7) Quando o apóstolo Pedro se deu conta de que Deus havia ouvido as orações do gentio incircunciso Cornélio e havia manobrado a situação para trazê-lo em contato direto com a congregação cristã, Pedro disse: “Certamente percebo que Deus não é parcial, mas, em cada nação, o homem que o teme e que faz a justiça lhe é aceitável.” — Atos 10:34, 35; Rom. 2:10, 11.
No entanto, alguns têm afirmado que Jeová foi parcial ao usar e favorecer Israel como seu povo na antiguidade. Todavia, um exame honesto dos seus tratos com Israel revelará que tal acusação é errada. Jeová escolheu Israel e tratou com ele não por causa da grandeza e do número do seu povo, mas por causa de seu amor e de seu apreço pela fé e pela lealdade de seu amigo Abraão, antepassado deles. Também, foi longânime para com eles porque lhes havia dado seu nome. — Deu. 7:7-11; 29:13; Eze. 36:22; Sal. 105:8-10.
Enquanto Israel era obediente, foi abençoado mais do que as nações que não tinham a Lei que Jeová deu mediante Moisés. Quando Israel desobedecia, Deus era paciente e misericordioso, mas os punia. E embora sua posição fosse favorecida, tinham responsabilidades mais pesadas perante Deus, por levarem o nome de Deus e por estarem debaixo da Lei.
A Lei continha maldições contra o violador dela. Está escrito: “Maldito aquele que não puser em vigor as palavras desta lei por cumpri-las.” (Deu. 27:26) Os judeus, ao violarem a Lei, vinham sob esta maldição, que era adicional à sua condenação como descendentes do pecador Adão. (Rom. 5:12) Por isso, a fim de remir os judeus desta incapacidade especial, Cristo não só tinha de morrer, mas tinha de morrer numa estaca de tortura, conforme argumentou o apóstolo Paulo em Gálatas 3:10-13.
Tudo isso demonstra que Deus não era parcial para com Israel. Deus usava Israel visando a bênção de todas as nações. (Gál. 3:14) Fêz que nesta nação nascesse seu Filho, por meio de quem se torna possível a salvação de todos os que têm fé. Deus trabalhava realmente em benefício das pessoas de todas as nações, no seu tempo devido. Em harmonia com isso, o apóstolo observa: “É ele somente o Deus dos judeus? Não o é também de pessoas das nações? Sim, também de pessoas das nações, se Deus verdadeiramente é um só, o qual declarará justos os circuncisos em resultado da fé e os incircuncisos por meio de sua fé.” — Rom. 3:29, 30.
Além disso, na antiga comunidade judaica, os homens de outras nações podiam vir a estar sob o favor e a bênção de Deus por adorarem a Jeová, o Deus de Israel, e guardarem a sua lei, assim como fizeram os gibeonitas, os netineus (“os dados”) e muitos residentes forasteiros. — Jos. 9:3, 27; Esd. 8:20; 1 Reis 8:41-43; Núm. 9:14.
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