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  • Pensávamos que o sistema pudesse ser mudado

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  • Pensávamos que o sistema pudesse ser mudado
  • A Sentinela Anunciando o Reino de Jeová — 1976
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  • Matéria relacionada
  • UM FUTURO APARENTEMENTE BRILHANTE
  • CONFRONTADO COM DURAS REALIDADES
  • QUE FAZER QUANTO À CONVOCAÇÃO?
  • ESFORÇOS PARA MUDAR O SISTEMA
  • “O MASSACRE DA AVENIDA MICHIGAN”
  • POR QUE DESISTIMOS
  • HAVERIA ESPERANÇA EM ALGUMA PARTE?
  • UM DEUS PESSOAL, COM PROPÓSITO
  • FICAMOS SABENDO COMO SE DARÁ A MUDANÇA
  • AQUILO QUE HAVÍAMOS PROCURADO
  • Minha luta para ser o melhor — valeu a pena?
    A Sentinela Anunciando o Reino de Jeová — 1977
  • Injustiça racial — ficaremos alguma vez livres dela?
    A Sentinela Anunciando o Reino de Jeová — 1975
  • “Pensávamos que era a polícia”
    Despertai! — 1972
  • O conflito que mudou minha vida
    Despertai! — 2005
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A Sentinela Anunciando o Reino de Jeová — 1976
w76 15/8 pp. 485-494

Pensávamos que o sistema pudesse ser mudado

MILHÕES DE JOVENS ACHAM QUE É PRECISO HAVER UMA MUDANÇA. TALVEZ CONCORDE COM ELES, TALVEZ NÃO, MAS ACHARÁ ESCLARECEDOR EXAMINAR DE PERTO POR QUE ENCARAM OS ASSUNTOS DO MODO COMO O FAZEM. ESTA É A NARRATIVA DE COMO UM JOVEM CASAL PROCUROU CAUSAR UMA MUDANÇA E COMO DESCOBRIRAM A ÚNICA MANEIRA EM QUE ELA PODERÁ OCORRER.

QUANDO mais de 10.000 de nós nos reunimos no Parque Grant, em Chicago, certa tarde de quarta-feira, mal podíamos acreditar no que vimos. Nos altos dos prédios vizinhos havia armas apontadas contra nós. Soldados da Guarda Nacional com baionetas caladas enfileiravam-se nas calçadas. E em toda a parte havia policiais com capacetes. Por quê? O que estava ocorrendo?

Era agosto de 1968. A uns seis quilômetros e meio dali, no Anfiteatro, estava em andamento a Convenção Nacional do Partido Democrata. Esperávamos que nossa presença em massa tivesse algum efeito sobre as decisões tomadas naquela convenção. Queríamos especialmente que acabasse a guerra do Vietname.

Mas, por que as metralhadoras, as baionetas caladas e os policiais com capacetes?

É preciso lembrar que era agosto de 1968. O envolvimento estadunidense na guerra ainda estava aumentando; o Vietname do Norte ainda estava sendo bombardeado. Muitos políticos favoreciam a escalada da guerra. Queriam um triunfo militar, e outros até mesmo consideravam os francos defensores da paz como culpados de traição.

Contudo, esta enorme demonstração de força parecia-nos inteiramente fora de lugar. Nós, lá no Parque Grant, não estávamos armados. Muitos de nós simplesmente achávamos que os líderes estadunidenses davam ouvidos a maus conselhos. E planejávamos assim fazer uma demonstração pacífica por uma marcha até o Anfiteatro. Mas, o que fizeram naquele dia com a minha namorada Jeanne e comigo abalou todo o nosso modo de pensar e afetou profundamente todo nosso rumo na vida.

Sei que alguns poderão dizer: “Vocês não tinham nada que fazer demonstração lá em Chicago. Mereceram o que receberam.”

Naquele tempo, porém, Jeanne e eu pensávamos que fazíamos o que era certo. Todavia, compreendemos agora que não foi o modo certo para se conseguir uma mudança, e lamentamos o que fizemos. Mas, por que é que milhares — sim, dezenas de milhares — de jovens se empenhavam tão arduamente por uma mudança naqueles anos? Acho que a minha própria experiência lhe ajudará a entender isso.

UM FUTURO APARENTEMENTE BRILHANTE

Nasci de pais brancos, da classe média, em Mineápolis, Minesota, E. U. A., em 1947. Em 1952, mudamo-nos para o Havaí, onde meu pai se tornou empreiteiro bem sucedido. Morando numa bela casa defronte do mar, tínhamos todo o necessário em sentido material. Os Estados Unidos pareciam ser a terra em que se podiam cumprir os sonhos; o futuro parecia brilhante.

Minha vida estava cheia das coisas que me devam prazer — jogava como meia no nosso time de futebol americano, no campeonato, participava em corridas, nadava no Pacífico azul atrás de nosso quintal e envolvia-me na administração da escola. E, em pouco tempo, já planejava entrar numa faculdade, no continente.

CONFRONTADO COM DURAS REALIDADES

Em setembro de 1965, matriculei-me na Faculdade Williams, em Massachusetts. Ali, com mais tempo para ler e meditar, alguma coisa começou a incomodar-me. No Havaí, eu estava acostumado a ver os grupos raciais serem tratados com igualdade, mas no continente as coisas eram diferentes.

Durante as férias primaveris de 1966, voei para Chicago, para visitar meu irmão mais velho, que era diretor dos Hospitais da Universidade de Chicago. Quando atravessamos os guetos do Sul de Chicago, mal podia crer no que via. “Como é que gente pode viver assim?” perguntei-me. Mas o fato de que viviam assim e que essas pessoas, em geral, eram pretas incomodou-me profundamente.

Eu quis saber como os pretos se sentiam, e por isso comecei a ler livros escritos por eles, inclusive várias autobiografias. Quando li sobre as injustiças que sofreram — o comércio de escravos, serem tratados como se fossem inferiores, serem proibidos de usar sanitários públicos, serem linchados por ofensas inventadas ou delitos menores — meus olhos muitas vezes se encheram de lágrimas. Fiquei furioso e comecei a perguntar-me o que eu podia fazer para causar uma mudança para melhor.

Comecei também a olhar para outras coisas, do ponto de vista racial, tais como a guerra do Vietname. Li na imprensa que os estadunidenses chamavam os vietnamitas de “gooks” (termo pejorativo), e eu me perguntava se iríamos lançar as bombas tão liberalmente se eles fossem gente branca. Também soube de notícias sobre os enormes lures do chamado “complexo industrial militar”, por causa da produção de material bélico. Isto me fez perguntar a mim mesmo: Havia a possibilidade de que homens que pensavam em lucros, dispostos a sacrificar a vida das pessoas de olhos oblíquos, estivessem atrás da expansão da guerra! Comecei a pensar assim, quando soube que candidatos presidenciais muitas vezes dependem do dinheiro contribuído por tais industriais para financiar suas campanhas.

O Presidente Johnson fez campanha eleitoral em 1964, prometendo trazer a paz no Vietname. No entanto, mês após mês, a guerra foi ampliada em contradição direta do que dissera ao povo. Os órgãos noticiosos falavam muito sobre empenhos por parte da administração para enganar o público. A “lacuna de credibilidade” aumentava. Portanto, pode compreender por que muitos de nós, jovens, não mais achávamos que podíamos confiar nos nossos líderes?

Mas, então, com a ampliação da guerra, começaram a ser recrutados universitários. Isto me obrigou a tomar uma decisão difícil.

QUE FAZER QUANTO À CONVOCAÇÃO?

Durante meses, lutei com as perguntas: Posso apoiar o esforço de guerra? Posso pegar em armas e matar vietnamitas?

Finalmente, cheguei à conclusão de que não podia fazer isso. Para mim, era errado. Sei que alguns talvez argumentem: “Ora, você não era nada mais do que um covarde que se esquivava do serviço militar. Quando seu país lhe manda fazer alguma coisa, a única coisa lícita e correta é obedecer.”

Naquele tempo, analisei este assunto com muito cuidado. Reconheci que os alemães, nos julgamentos de Nurembergue, bem como Adolf Eichmann, em tempos mais recentes, procuravam escusar seus crimes por argumentar que simplesmente obedeciam a ordens oficiais. Mas, não obstante, foram achados culpados e executados! Foram considerados culpados dos seus atos, embora seu país lhes tivesse ordenado a perpetração de tais atos vis.

Para o meu modo de pensar, o povo dos Estados Unidos estava numa situação similar. As histórias trágicas, que apareciam na imprensa norte-americana, a respeito da queima de homens, mulheres e crianças com napalm — carbonizados horrivelmente — parecia-me similar ao extermínio em massa de pessoas nos fornos dos campos de concentração alemães. Esta idéia foi reforçada quando o líder vietnamita, o Primeiro-ministro Ky, a quem as tropas estadunidenses pareciam manter no poder, declarou que seu único herói era Adolf Hitler.

ESFORÇOS PARA MUDAR O SISTEMA

Minha decisão de recusar a convocação militar não era uma ‘esquiva’. Antes, eu amava profundamente o meu país, e por isso comecei a pensar no que podia fazer para mudá-lo para melhor. Eu achava que, como sociólogo, podia ajudar a solucionar os graves problemas raciais dos Estados Unidos e até mesmo problemas internacionais. Por isso, em 1967, transferi-me para a Universidade do Havaí, como calouro, a fim de fazer os cursos necessários para me preparar para tal campo.

Na universidade, um aviso no quadro de anúncios atraiu minha atenção. Convidava os que se opunham à guerra no Vietname a uma reunião dos Estudantes Para Uma Sociedade Democrática (SDS). Por volta deste tempo, cheguei a conhecer Jeanne, colega de estudos, que se juntou a mim nas atividades contra a guerra.

Então, até mesmo as notícias regulares expunham as declarações oficiais enganosas sobre a guerra. Assim, no começo de 1968, segundo as pesquisas da opinião pública, a minoria contrária à guerra tornara-se a maioria, e nós começamos a ver uma possibilidade real de sermos bem sucedidos nos nossos esforços de mudar o sistema. Esta possibilidade parecia ser confirmada quando o Presidente Johnson, em 31 de março de 1968, anunciou que não procuraria a reeleição. Parecia que a opinião pública o expulsava do cargo.

Poucos dias depois, nosso presidente de SDS fez um discurso emocional e queimou seu cartão de convocação diante das câmaras de TV, em protesto contra a guerra. Juntei-me a outros estudantes em fazer o mesmo — algo que eu nunca faria agora. Naquela noite, isso era o ponto de destaque nas notícias na TV, e, no dia seguinte, estava nos jornais.

Em abril, estudantes contrários à guerra, na cidade de Nova Iorque, apoderaram-se dos prédios da Universidade de Colúmbia e fecharam a universidade. Na Universidade do Havaí, os estudantes realizavam grandes comícios contra a guerra quase que diariamente. E então, em maio, quando o Professor Oliver Lee, opositor declarado da guerra, foi expulso da universidade, os estudantes apoderaram-se das instalações da universidade por vários dias.

Jeanne e eu estávamos entre as centenas de estudantes que ocupavam Bachman Hall, exigindo a reintegração de Lee. Por fim, a polícia nos tirou de lá sob as luzes brilhantes das câmaras de TV. Fomos presos, mas fomos soltos na manhã seguinte, sob fiança.

Alguns dias depois, os estudantes se dispersaram por causa das férias de verão. O que podíamos fazer então, Naquele ano de eleições, os olhos de todos nos Estados Unidos se fixariam na Convenção do Partido Democrata em Chicago. Será que podíamos produzir uma mudança lá onde realmente importava, influenciando os líderes no poder para que acabassem com a guerra? Naquele tempo pensávamos que sim e decidimos tentar.

“O MASSACRE DA AVENIDA MICHIGAN”

O que ocorreu na quarta-feira da Convenção do Partido Democrata foi desde então chamado de “o massacre da Avenida Michigan”. Milhões presenciaram isso na TV. Um estudo federal chamou isso de “distúrbio policial”. O estudo observou que a violência policial “muitas vezes foi infligida a pessoas que não haviam violado nenhuma lei, nem desobedecido às ordens, nem feito ameaças”. E podemos confirmar isso, embora alguns manifestantes tivessem provocado a polícia por xingá-la de nomes feios.

Quando tentamos iniciar a nossa marcha, depois de ouvir discursos no Parque Grant, a polícia atacou. O gás lacrimogêneo nos fez fugir em todas as direções. Em toda a parte havia soldados com baionetas caladas, fechando as pontes que davam para a parte principal da cidade. Por fim, achamos uma ponte pouco guardada e rompemos por lá.

Nosso número aumentou, ao passo que mais conseguiram atravessar as pontes para se juntar a nós na Avenida Michigan. Exatamente quando parecia que a marcha seria bem sucedida, a polícia e os soldados impediram nosso avanço e começaram a atacar com gás lacrimogêneo, gás estonteante e cassetetes. Os que se encontravam no seu caminho, foram pisados ao chão, e o sangue corria das cabeças golpeadas. Jipes com arame farpado preso ao pára-choque dianteiro começaram a avançar contra a multidão, como se fossem tratores. Corpos foram comprimidos. Agarrei o braço de Jeanne e procurei desesperadamente puxá-la para um lugar seguro.

Por fim, Jeanne, sua irmã e eu conseguimos passar pela barreira policial e corremos para longe da região conturbada. Era cerca das 21 horas e estávamos com fome, de modo que jantamos num restaurante. A única maneira que conhecíamos para voltar aonde nos hospedamos era tomar um trem perto da Avenida Michigan.

POR QUE DESISTIMOS

Aproximamo-nos da estação, quando um grupo de policiais veio correndo pela esquina. “Queremos tomar um trem”, disse eu. Eles nos amaldiçoaram, e, sem provocação, agarraram-nos e começaram a espancar a irmã de Jeanne, quando ela resistiu. Fomos lançados dentro do “tintureiro”. Na delegacia, mais de cem de nós ficamos detidos a noite inteira numa sala chamada “o tanque”.

Na manhã seguinte, compareci perante o Juiz. Mas ele nem me deu uma oportunidade de dizer uma palavra em explicação; nem mesmo olhou para mim! Eu não podia, em boa consciência, declarar-me culpado, de modo que decidi provar que as acusações eram falsas.

No ínterim, Jeanne havia voltado para a universidade no Havaí, e eu voltei para Massachusetts, para o meu bacharelado. Nos meses seguintes, fiz repetidas viagens de avião a Chicago, para comparecer ao tribunal. Cada vez, porém, o policial que devia acusar-me deixava de comparecer, de modo que o juiz adiava o caso para o mês seguinte. Depois de gastar várias centenas de dólares com despesas, meu advogado disse que era inútil — eles simplesmente continuariam a fazer isso indefinidamente, até que eu deixasse de comparecer, e então me declarariam culpado.

Essas experiências fizeram com que eu passasse a achar que o sistema não podia ser reformado. Desisti de tentar mudá-lo; minha filosofia passou a ser ‘comer, beber e alegrar-me’. Cursei a universidade apenas para me formar. Jeanne veio do Havaí, e passamos a viver juntos, ficando muito envolvidos com drogas. Mas, essa vida, apenas para o prazer pessoal, tampouco era satisfatória.

HAVERIA ESPERANÇA EM ALGUMA PARTE?

Pensávamos que, por nossa roupa, nossa aparência e nosso comportamento mostrávamos nossa rebelião contra a hipocrisia e as injustiças da chamada “instituição”. Mas, eram melhores as drogas, a flagrante promiscuidade e outros aspectos de nosso estilo de vida? Comecei a duvidar. Muitos jovens achavam que casamento era antiquado, mas eu podia ver que mudar de uma companheira sexual para outra, ou vice-versa, tampouco lhes dava verdadeira felicidade. Não queria isso para Jeanne e para mim, de modo que nos casamos no verão de 1969.

Embora eu achasse fúteis os esforços de mudar o sistema, ainda assim queria ajudar as pessoas, de modo que decidi tornar-me professor. Visto que eu queria ir aonde as crianças necessitavam mais de ajuda, comecei a lecionar para a terceira série num gueto de negros, no Norte de Filadélfia.

Ao examinar as fichas médicas dos estudantes, verifiquei que a maioria estava subnutrida e abaixo do peso normal. Muitos moravam em habitações incrivelmente insalubres e superlotadas. Vim a saber que alguns deles já tinham envolvimento imoral com os do sexo oposto. Uns poucos eram puxadores de drogas para seus pais. A maioria não sabia somar 2 + 3 ou reconhecer as letras do alfabeto. Nunca havia imaginado que as condições pudessem ser tão ruins assim; parecia desesperador! Era frustrador só de pensar que depois de se despenderem todos os esforços, podia-se fazer tão pouco de bom que durasse. Onde é que podíamos achar um empenho recompensador e satisfatório?

Havíamos pesquisado a fundo a astrologia, o ocultismo e religiões orienteis, sem achar algo satisfatório. Depois li por acaso o livro A Bomba Demográfica, do Professor Paul Ehrlich, da Universidade Stanford. Quando Ehrlich veio a Filadélfia, também fomos à sua conferência. Ele disse que já era tarde demais, que a humanidade estava confrontada com as derradeiras calamidades de dimensões sem precedentes, por causa de seu abuso do meio ambiente e da má administração dos assuntos da terra. Eu pensei, porém, que talvez houvesse esperança no presente movimento ecológico.

Lembrando-nos das frustrações a que levara nosso envolvimento com o movimento contra a guerra, aceitamos, mas com hesitação, um convite para uma reunião organizacional, ecológica, na Universidade Temple. Quando entramos numa sala cheia de fumaça de cigarros e ouvimos uma palestra sobre a poluição do ar, sabíamos que este movimento também não resultaria em nada. Não obstante, comecei a ler muitos livros sobre ecologia e matriculei-me num curso de formação em educação ambiental. Eu estava convencido de que a sociedade industrializada em breve entraria em colapso e comecei a preparar-me para a vida após esse acontecimento.

Meu pai possuía uns quarenta hectares de floresta virgem de samambaias na ilha de Havaí. Começamos a fazer planos para uma comunidade completamente auto-suficiente ali, que estivesse em equilíbrio ecológico com o ambiente local. Investigamos seriamente estilos de vida alternativos, visto que estávamos convencidos de que o sistema estava condenado. No entanto, as respostas que havíamos procurado começaram a surgir duma fonte inteiramente inesperada.

Nas férias escolares de verão, meu irmão mais moço, Davi, veio do Havaí, e nós três fizemos uma pequena viagem de camping. Davi, que considerava o ministério como carreira, trouxe consigo uma Bíblia, e cada noite, em volta da fogueira no acampamento, lia para nós capítulos escolhidos. Ao escutarmos as narrativas sobre José e seus irmãos, sobre Davi e Golias, ficamos surpresos de descobrir quão interessante a Bíblia pode ser. E quando lemos o livro de Eclesiastes, as conclusões sobre as vaidades da vida neste sistema de coisas pareciam estar muito em dia.

Naquele verão, Jeanne e eu tínhamos muito tempo disponível. Nosso único projeto era uma tentativa de produzir alimentos suficientes no nosso lote de 4 por 4 metros, em Filadélfia, para nos sustentar. De modo que obtivemos uma Versão Autorizada da Bíblia e a começamos ler em voz alta, um para o outro. Primeiro, lemos os Evangelhos e os Atos dos Apóstolos. Ao escutarmos as denúncias acerbas de Jesus contra os líderes religiosos dos seus dias (Mateus, capítulo 23), não pudemos deixar de pensar nos clérigos atuais. Nós havíamos sido ‘desligados’ pela hipocrisia deles. Um exemplo dela foi seu apoio ativo à guerra do Vietname, quando a opinião pública favorecia a guerra, e seu protesto contra ela só veio depois de a opinião pública se ter voltado contra a guerra.

Também, lemos as profecias de Isaías, que nos impressionaram especialmente. Ao encontrarmos as palavras, “forjarão das suas espadas relhas de arados, e das suas lanças, podadeiras: nação não levantará espada contra nação, nem aprenderão mais a guerra”, observei para Jeanne: “Ora, este Isaías protestava contra a guerra. De fato, metia-se na ecologia; queria investir os fundos de guerra na agricultura.” — Isa. 2:4, VA.

Daí, notamos as palavras imediatamente antes disso, “acontecerá nos últimos dias”, e ficamos imaginando se estas palavras, de algum modo, se destinavam aos nossos dias. Prosseguindo com a leitura, pudemos ver que Isaías falava da antiga Judá e Jerusalém, mas ficamos admiradíssimos com a notável similaridade com as condições do século vinte. Quanto mais líamos, tanto mais convencidos ficávamos de que estas profecias tinham de aplicar-se de algum modo ao nosso atual sistema de coisas.

Se isso era verdade, então significava que o atual sistema corruto iria ser destruído, conforme uma profecia predizia: “Também a terra está aviltada sob os habitantes dela; porque transgrediram as leis, mudaram a ordenança, violaram o pacto eterno. Por isso, a maldição devorou a terra, e os que moram nela estão desolados: por isso os habitantes da terra são queimados, e restam poucos homens.” — Isa. 24:5, 6, VA.

Podíamos crer nestas profecias? Críamos num Deus Todo-poderoso. E maravilhávamo-nos com a sua criação da vida e os ciclos naturais da terra. Ficávamos admirados de como pequenas sementes plantadas por nós, em pouco tempo, produziam tal variedade de alimentos. Seria o Criador, responsável por tais milagres, também o Deus que deu a Isaías essa mensagem, tão apta para os nossos dias?

Começamos a achar que sim. Mas, se este sistema, conforme a Bíblia indicava, havia de ser destruído, será que seria substituído por algo de bom? Queríamos saber isso. Para nos ajudar na nossa investigação, obtivemos uma moderna versão inglesa, A Bíblia de Jerusalém, e às vezes passávamos o dia inteiro lendo-a juntos.

UM DEUS PESSOAL, COM PROPÓSITO

Numa página após outra, nesta Bíblia de Jerusalém, aparecia o nume “Yahweh” (“Javé”) em vez dos títulos “Senhor” e “Deus”. Lembrei-me, dum curso de religião na faculdade, de que Javé (ou a forma mais popular, Jeová) é o equivalente do nome de Deus, que aparece nos manuscritos da língua original da Bíblia. Lermos vez após vez o nome de Deus começou a influenciar-nos. Começamos a encarar a Deus como pessoa real, alguém com quem nos podíamos comunicar e que tinha um propósito. Mas, perguntamo-nos: Que espécie de pessoa é Javé?

Nosso apreço de Javé aumentou ao lermos sobre os seus propósitos. Prestamos atenção especial aos lugares em que a Bíblia prediz a destruição do atual sistema corruto, visto que confirmava o que críamos. Mas, então, começamos a notar que também falava sobre um novo sistema. A leitura de profecias tais como a encontrada na última parte de Isaías, capítulo 65, fez com que achássemos que talvez houvesse esperança dum futuro melhor. Diz ali:

“Crio novos céus e uma nova terra . . . Construirão casas e habitarão nelas, plantarão vinhedos e comerão seu fruto. . . . Não labutarão em vão, nem terão filhos para a sua própria ruína, porque serão uma raça abençoada por Javé, e seus filhos com eles. Muito antes de chamarem, eu responderei; antes de pararem de falar, eu terei ouvido. O lobo e o cordeirinho pastarão juntos, o leão comerá palha como o boi . . . Não causarão dano, nem prejuízo, em todo o meu santo monte, diz Javé.” — Isa. 65:17-25, BJ.

Poderia este Javé criar realmente um novo sistema em que se realizaria tal modo atraente de vida? Se ele for o mesmo que criou este maravilhoso universo, nós achávamos que então ele talvez cumprisse estas promessas. Mas, perguntamo-nos: Iria Javé preservar alguém vivo através da vindoura destruição do mundo e para um novo sistema? Em caso afirmativo, a quem?

Nenhuma das igrejas que conhecíamos pareciam enquadrar-se nisso. Tanto quanto podíamos ver, os homens corrutos que manipulavam a política e o comércio, na maior parte, eram membros respeitados dessas igrejas. E eram membros dessas igrejas que lutavam no sudeste da Ásia. Quanto mais líamos a Bíblia, tanto mais as igrejas pareciam condenadas pelo próprio livro que professavam seguir.

Em poucos dias, eu estaria lecionando novamente e prosseguiria com os meus estudos na universidade. Também, ficáramos desanimados com a nossa leitura da Bíblia, porque tínhamos muitas perguntas sem respostas. Num momento de desespero, fizemos algo que nunca antes tínhamos feito. Jeanne e eu curvamos a cabeça e eu orei em voz alta a Javé, pedindo-lhe orientação quanto a quem devíamos recorrer e o que fazer.

FICAMOS SABENDO COMO SE DARÁ A MUDANÇA

Depois de termos orado, acendemos cigarros de maconha. Mas, logo em seguida, tocou a campainha da porta. Seria a polícia? Jeanne correu feito louca pela casa para esconder as drogas e borrifar o ar com desodorante de aerossol, enquanto eu saí, fechando a porta atrás de mim.

Lá estava uma moça de cor, que se identificou como Testemunha de Jeová. Ela começou a falar-me sobre as mesmíssimas coisas a respeito das quais acabávamos de orar. Ofereceu-me o livro A Verdade Que Conduz à Vida Eterna, que eu aceitei. Perguntei também: “Onde é que posso observar as Testemunhas de Jeová de primeira mão?” Ela nos convidou para a reunião delas no Salão do Reino local e também nos deu exemplares das revistas A Sentinela e Despertai!.

Era sábado à tarde, e Jeanne sentou-se num quarto para ler A Sentinela e Despertai!, e eu comecei a ler o livro em outro quarto. Não demorou muito até que chamássemos um ao outro: “Eh! Escute isso aqui!” “Isso é espantoso!” Tarde naquela noite, eu já havia terminado o livro. Durante os dois meses anteriores, eu havia lido a Bíblia inteira, e agora um entendimento de suas partes relacionadas começou a tomar forma na minha mente.

Desde a minha juventude eu havia orado assim como Jesus ensinara a seus discípulos: “Pai nosso que estás nos céus, Santificado seja o teu nome. Venha o teu reino. Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.” (Mat. 6:9, 10, VA) Eu havia pensado que o reino de Deus era um estado pacífico da mente e do coração. Mas não! Era evidente! Eu podia ver então que o reino de Deus é um governo real! É o instrumento que Deus usará para eliminar este sistema corruto!

Isto se tornou claro quando li novamente Daniel 2:44, que reza: “Nos dias destes reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído . . . Esmiuçará e consumirá todos estes reinos, e será estabelecido para sempre.” (VA) Cheguei assim a reconhecer que meus esforços anteriores de mudar o sistema, por empenhar-me em demonstrações públicas, não apenas eram fúteis, mas até contrários ao que a Bíblia diz em Romanos 13:1-7. Eu podia assim ver que os verdadeiros cristãos permanecem neutros para com os assuntos políticos e esperam que o próprio Deus mude o sistema, por destruí-lo.

Comecei também a compreender que, depois de o governo de Deus destruir este sistema mundial, Ele cuidará de que se cumpra seu propósito original, de que a terra seja um paraíso, assim como indicado por aquelas profecias que havíamos lido. Mas, aprendi então algo maravilhoso que havia despercebido: Deus concederá às pessoas viver para sempre naquele paraíso terrestre! Textos tais como o seguinte impressionaram-me muito: “Os justos herdarão a terra e habitarão nela para sempre.” — Sal. 37:29, VA.

Comecei a ver, porém, que a chave era o REINO DE DEUS. Sim, Deus se importa, e ele tem um governo real por meio do qual cumprirá seus propósitos. Aquele capítulo no livro Verdade, “Por Que Permitiu Deus a Iniqüidade Até Hoje?”, ajudou-me a entender a sua aparente vagarosidade em agir. Esclareceu-me que questões vitais, afetando até mesmo o domínio espiritual, precisam ser resolvidas antes de ele destruir este sistema corruto.

No entanto, será que tudo isso era apenas teoria?, Havia alguma prova tangível de que o governo de Deus realmente existia? Eu queria saber isso.

AQUILO QUE HAVÍAMOS PROCURADO

No dia seguinte, 6 de setembro de 1970, Jeanne e eu fomos ao Salão do Reino, chegando lá após o início da reunião. Notamos que todos eram bem apresentáveis e pareciam muito felizes. Até mesmo as crianças participavam, lendo fluentemente passagens da Bíblia. Conhecendo a situação no sistema escolar, dei-me conta de que seus pais tinham de ter verdadeiro interesse neles. Fiquei também impressionado com o conhecimento bíblico demonstrado pelas pessoas. Mas, o que me impressionou mais, ocorreu no fim da reunião.

Mais de cem pessoas, desde as criancinhas até os idosos, vieram e nos deram as mais cordiais boas-vindas que já recebemos. Ficamos especialmente surpresos com isso, visto que eu usava o cabelo comprido e tinha barba, e Jeanne estava vestida dum modo que a identificava com os hippies. Também, a maioria das pessoas eram negros, visto que se tratava duma comunidade negra. Na escola onde eu lecionava, levou muito tempo antes de os negros me aceitarem. Pareciam ter suspeita dos brancos, mas isto não se deu no Salão do Reino.

Fomos convidados a voltar na quinta-feira, para a Escola Teocrática. Quando chegamos, todos nos trataram como se fôssemos velhos amigos. O que nos impressionou foi que o objetivo dessas reuniões obviamente era para se obter entendimento mais profundo da Bíblia. Podíamos também ver que aquilo que essas pessoas aprendiam afetava realmente a sua vida. Fomos convidados para uma refeição, e o marido nos exortou a aceitar a oferta dum estudo bíblico semanal, gratuito, o que fizemos.

Depois de algumas semanas, Jeanne e eu sabíamos que encontramos aquilo que havíamos procurado. Ali havia pessoas que realmente se amavam mutuamente e que se preparavam confiantemente para a vida num novo sistema. Todo aspecto de sua vida era governado pelas leis de Deus na Bíblia — de modo que, na realidade, eram súditos do governo de Deus. E ao passo que continuamos a estudar, o cumprimento das profecias bíblicas nos convenceu de que vivemos perto da parte final da geração que verá o governo de Deus esmiuçar todo o sistema iníquo de coisas. — Mat. 24:3-14.

Pudemos ver logo a urgência de que todos ouçam esta informação vital sobre o reino de Deus, de modo que pedimos para participar com as Testemunhas em falar a outros sobre isso. Havíamos deixado de usar drogas, e, pouco depois, mudamos de aparência e maneira de nos vestir. Em janeiro de 1971, fomos batizados pelas Testemunhas de Jeová, em símbolo de nossa dedicação de servir a Jeová Deus. Renunciei ao meu trabalho de ensino, obtive outro emprego, e Jeanne e eu ingressamos na obra de pregação por tempo integral. Isto tem levado de uma experiência satisfatória a outra.

Depois de recebermos treinamento missionário na Escola Bíblica de Gileade da Torre de Vigia na cidade de Nova Iorque, vamos para a África, para pregar as boas novas do reino de Deus. Quão bom é poder mostrar-lhes com a Palavra de Deus, a Bíblia, que a pobreza, as guerras, os preconceitos e as injustiças deste sistema vão acabar em breve, a fim de serem substituídos por condições justas sob a regência do governo do Reino de Deus! (2 Ped. 3:13) — Contribuído.

[Destaque na página 486]

“Quando li sobre as injustiças . . . meus olhos muitas vezes se encheram de lágrimas.”

[Destaque na página 487]

“Até mesmo as notícias regulares expunham as declarações oficiais enganosas sobre a guerra.”

[Destaque na página 488]

“A polícia e os soldados impediram nosso avanço e começaram a atacar com gás lacrimogêneo, gás estonteante e cassetetes.”

[Destaque na página 489]

“Muitos jovens achavam que o casamento era antiquado.”

[Destaque na página 490]

‘Os clérigos protestaram só depois de a opinião pública se ter voltado contra a guerra.’

[Destaque na página 491]

“Quanto mais líamos a Bíblia, tanto mais as igrejas pareciam condenadas pelo próprio livro que professavam seguir.”

[Destaque na página 493]

”Ali havia pessoas que realmente se amavam mutuamente.”

[Foto na página 492]

Jeanne e eu achávamos as respostas que havíamos procurado.

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