Religião com Sarandeio — O Modo Pentecostal
“ALELUIA!” “Louvai ao Senhor!” “Glória a Deus!” “Jesus, Jesus!” “Sêde salvos!” “Amém!” Tais são exclamações fervorosas que se ouvem em cultos de igrejas pentecostais. Grande é o alvorôço religioso. A assistência composta na maioria de mulheres e crianças é acoroçoada até se arrepiar mediante a música excitante de tamborins, tambores ou violão. Palmas rítmicas e cantigas seguem o ritmo dos instrumentos musicais, ao passo que a sessão religiosa ganha ímpeto e sarandeio. Na hora apropriada, um veemente sermão é proferido com ardor de abalar a alma, e a assistência tôda entra na roda com um espírito dominado por emoção e êxtase.
Grandes manifestações emocionais e físicas podem ocorrer, inclusive chôro, gemidos, quedas, meneios e transe. Por causa destas demonstrações, às vêzes os pentecostais têm sido chamados de ‘santos roladores’ e de ‘puladores’. Suas ações, porém, muitas vêzes são involuntárias, sendo atribuídas a poder vindo do alto. Às vêzes uma pessoa recebe um impulso que a possibilita a falar uma ‘língua desconhecida’, e, ao mesmo tempo, outra pode receber impulso no espírito que a possibilita a interpretar a mensagem.
Quando o acoroçoamento religioso está alto, geralmente são feitas chamadas ao altar, e neófitos que se sentem encorajados, respondem. Os doentes ou enfermos também podem ser chamados ao altar, e, entre muita imploração da parte dos outros, tentam curar-se. Depois de mais ou menos duas horas de agitação religiosa, voltam para casa. Permitindo-se algumas variações, isto esboça brevemente os cultos semanais dos vários grupos do movimento pentecostal. Deveras, eis uma religião com sarandeio!
PRIMÓRDIOS PENTECOSTAIS
Reanimações religiosas por volta do início dêste século lançaram a base para o movimento pentecostal. No seu livro The Assemblies of God: A Popular Survey (As Assembléias de Deus: Um Exame Popular), J. R. Flower, uma proeminente autoridade pentecostal, observou que “foi durante o século dezenove que grandes reanimações ocorreram sob a liderança de homens tais como Peter Cartwright”, e que estas “foram presságios do levante do Movimento Pentecostal”.
Os relatórios sôbre estas primevas reanimações eram realmente espetaculares. William W. Sweet, que consultou muitos relatórios de testemunhas oculares, descreve como “o adepto, geralmente ‘com grito agudo, caía no assoalho ou no chão como uma tora’, parecendo morto, às vêzes ficando assim por horas de uma vez. Tôdas as testemunhas oculares testificaram referente à habitualidade desta ocorrência. Empuxos se apoderavam das pessoas de modos diferentes. Muitas vêzes apenas um membro era atingido, às vezes o corpo inteiro, e muitas vêzes só a cabeça. . . . ‘Às vêzes a cabeça ficava movendo-se para a direita e para a esquerda, à meia volta, em tal velocidade que feição alguma podia ser discernida.’” Peter Cartwright, um famoso pregador da reanimação daquele tempo, explicou que se as pessoas “não lutassem contra isto e orassem com bom fervor, os empuxões geralmente se abateriam”, mas “quanto mais resistissem, tanto mais se repuxariam”.
Em 1906, apenas poucos anos depois do início do movimento pentecostal, um grupo se reuniu em uma casa particular, em Los Angeles, para ouvir W. J. Seymour pregar. Enquanto pregava êle, “a companhia inteira foi derrubada das cadeiras para o chão”. Em resultado desta poderosa manifestação, veio gente de todo o redor para investigar. Segundo The Pentecostal Evangel de 6 de abril de 1946: “Êles bradaram ali até que o alicerce da casa cedeu, mas ninguém foi ferido.” Daí, os reunidos mudaram-se para uma velha casa de madeira, para um enderêço famoso entre os pentecostais — Rua Azusa, 312. Ali as reuniões continuaram dia e noite por três anos. Isto deu um tremendo impulso ao movimento.
Manifestações do poder do espírito fazia alguns presentes às reuniões experimentarem manipulações físicas no rosto e no corpo. Eventualmente tais manifestações tornaram-se motivo de preocupação para Seymour. Carl Brumback escreve em seu livro Suddenly from Heaven (De Repente do Céu): “Então êle instou que Parham viesse, porque ‘fôrças hipnóticas e contorções físicas, tais como as conhecidas nas reuniões de reanimação dos de côr no sul, grassavam nas reuniões’. Êle instou que o Sr. Parham viesse depressa para ajudá-lo a discernir entre o que era real e o que era falso, e eliminar o que não fôsse de Deus.”
Segundo Klaude Kendrick, um membro destacado das Assembléias de Deus, a “Missão de Azusa é geralmente considerada o centro de onde a influência pentecostal se espalhou, não sòmente para muitos lugares dos Estados Unidos, mas também para diversas outras nações do mundo”.
MUITAS DIVISÕES
Houve duas causas mais destacadas pelas quais se desenvolveu o movimento pentecostal. Primeiro, havia a comunhão de Santidade que abraçou a teologia pentecostal como um corpo depois de 1906, e, segundo, havia as congregações que eram formadas por crentes pentecostais que se tinham separado ou nunca estiveram associados com uma seita estabelecida.
Ao passo que aumentava o movimento, muitas outras seitas pentecostais eram formadas ou se separavam das maiores. Seria impossível identificar tôdas as muitas seitas pentecostais diferentes. Algumas das maiores são: Assembléia de Deus, Igreja de Deus, Igreja de Deus em Cristo, Igreja Pentecostal Unida, Inc., Igreja Pentecostal de Deus na América e Igreja Internacional do Evangelho Quadrilátero. No seu livro Pillars of Pentecost, Charles W. Conn, um historiador da Igreja de Deus, anota que “há atualmente quase quarenta corpos pentecostais só na América do Norte”, pois, segundo admite êle, “o movimento pentecostal tem tido a sua parte nas infelizes cismas e controvérsias”.
A seguinte é uma lista de alguns dos corpos pentecostais maiores, juntamente com seus membros respectivos, segundo relatado no Anuário das igrejas americanas para 1963:
[Quadro]
Assembléias de Deus 514.317
Igreja de Deus em Cristo 411.466
Igreja Pentecostal Unida, Inc. 175.000
Igreja Pentecostal de Deus na América 109.000
Igreja Padrão da Bíblia Aberta 26.000
Igreja Internacional do Evangelho Quadrilátero 84.741
Assembléias Pentecostais do Mundo 45.000
Igreja de Deus (Clevelândia, Ten.) 179.651
Igreja de Deus, Matriz do Mundo 71.606
Igreja de Deus de Profecia 35.349
Igreja (Original) de Deus 6.000
Igreja Pentecostal da Santidade 55.502
A Igreja Batista Pentecostal da Vontade Livre, Inc. 7.000
Igreja Pentecostal da Santidade Batizada com Fogo 573
Santa Igreja Vencedora Apostólica de Deus 75.000
Igreja Pentecostal do Calvário 8.000
Assembléias Missionárias de Elim 4.000
Igreja Santidade de Emanuel 1.200
Assembléias Pentecostais Internacionais 15.000
Igreja Pentecostal de Cristo 1.198
1.825.603
ESFORÇOS DE UNIFICAÇÃO
Nos anos recentes têm sido feitos esforços para unir a dividida casa pentecostal. Embora fusões tenham tido êxito em unir alguns grupos, parece improvàvel a consolidação das seitas maiores. Em anos recentes, porém, grupos pentecostais se têm unido a organizações que têm conceitos similares. Por exemplo, muitos grupos pentecostais pertencem à Associação Nacional Evangélica, da qual Thomas F. Zimmerman, chefe das Assembléias de Deus, é presidente.
Talvez, o maior esfôrço em prol da unificação fôsse a organização da Conferencia Pentecostal Mundial. No seu primeiro congresso, realizado em Zurique, Suíça, em 1947, foram feitas recomendações para a formação de associações de áreas. Em harmonia com as recomendações, traçaram os planos em 1948 para estabelecer a Associação Pentecostal da América do Norte.
CREDOS
Crêem os pentecostais que o movimento moderno dêles, que destaca o falar em línguas, seja em cumprimento de profecia bíblica. Sustentam que o derramamento do espírito santo em Pentecostes e durante o primeiro século não terminou as manifestações miraculosas e visíveis do espírito. Interpretam que as “primeiras e as últimas chuvas” mencionadas em Tiago 5:7 (ALA) se aplicam ao derramamento do espírito de Deus. Crendo que o derramamento do espírito de Deus no primeiro século fôsse as “primeiras chuvas”, concluem que também precisa haver as “últimas chuvas”. O movimento pentecostal, dizem êles, é resultado da derramamento das “últimas chuvas”.
É um ensino distintivo do movimento pentecostal que falar em ínguas sempre acompanha o batismo com espírito santo. Tôdas as pessoas têm esta experiência lingüística como evidência do batismo, diz o pentecostal, mas nem tôdas recebem a seguir o “dom de línguas”. Êste ensino pentecostal, porém, não tem apoio bíblico.a
Os dons miraculosos do espírito santo de Deus, inclusive o dom de línguas, foram dados como credenciais para a congregação cristã, na sua infância, no primeiro século. Eram, portanto, para cessar quando a congregação crescesse à madureza, conforme explicou o apóstolo Paulo: “O amor nunca falha. Mas, quer haja dons de profetizar, serão eliminados; quer haja línguas, cessarão.” — 1 Cor. 13:8.
Procurando algo que Deus não concede hoje, os pentecostais entregam-se ao engano de Satanás e de seus demônios. (1 Tim. 4:1) Os gritos, os murmúrios incoerentes, os gemidos, o jogar-se no chão e o sarandeio não são evidência do espírito de Deus. Até mesmo certos pentecostais proeminentes concordam que certas manifestações extremas não procedem de Deus. Lembre-se de que Séymour escreveu para que Parham viesse à Rua Azusa para “discernir entre o que era real e o que era falso”.
Não são as suas manifestações físicas similares às experimentadas pelas mães-de-santo africanas na prática da macumba? A mãe-de-santo sarandeia e repuxa todos os membros, ficando de pé em contínuo movimento por horas. Não são êstes similares ao repuxamento que se apoderou de uma criança nos dias de Jesus, quando ela foi tomada pelo poder de um espírito? “De modo que lho trouxeram. Mas à vista dêle, o espírito lançou o menino imediatamente em convulsões, e depois de êle cair ao chão, rolava por ali espumando.” — Mar. 9:20.
Quando o espírito santo de Deus é derramado sôbre uma pessoa, conforme revelam as Escrituras, êle produz resultados intelectuais e enobrecedores na pessoa, em vez de repuxamentos ou contorções físicas sem valor. Não há registro de que os discípulos fizessem tais coisas em Pentecostes, quando receberam o espírito santo. Pelo contrário, êste os moveu a dar testemunho edificante sôbre a verdade, em benefício de muitas pessoas vindas a Jerusalém de muitas terras estrangeiras. Êste os fêz falar nas línguas daquelas diversas pessoas. — Atos 2:1-4, 14-40.
É verdade que nas reuniões Pentecostais há muitas expressões sinceras de “Senhor, Senhor”. Mas o próprio Jesus mostrou que não são tais declarações que comprovam a verdadeira religião, mas, antes, é o fazer a vontade de Deus. “Nem todo o que me disser: ‘Senhor, Senhor’, entrará no reino dos céus, senão aquêle que fizer a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome e não expulsamos demônios em teu nome, e não fizemos muitas obras poderosas em teu nome?’ Contudo, eu lhes confessarei então: Nunca vos conheci!” — Mat. 7:21-23.
No início dêste artigo fêz-se uma descrição da espécie que são as reuniões do movimento pentecostal. Em geral estas são de natureza de manifestações emocionais antes que de estudo intelectual que transforma a mente e o coração. O culto todo tem um sarandeio rítmico, fazendo-se que tôda a assistência sinta que toma parte. Os que estão sobrecarregados de preocupações e ansiedades da vida esquecem-se de suas dificuldades. Há uma participação na experiência estimulante. O insignificante indivíduo passa então a sentir-se importante, que Deus está dirigindo-se a êle pessoalmente, produzindo assim confiança religiosa. Nestes cultos não se requer que a pessoa pense, apenas sinta. Muitas asserções são feitas pelos oradores, mas sem prova. A assistência apenas acha que êles estão certos.
Embora a pessoa possa encontrar satisfação pessoal no movimento pentecostal e possa ficar emocionada com o que é considerado manifestações do espírito de Deus, ela deve lembrar-se de que a verdade bíblica é mais importante do que experiência emocional religiosa. É para a verdade bíblica e não para sinais físicos que a pessoa deve olhar em busca da verdadeira religião. Ela deve ter fé por causa das verdades bíblicas que aprende e não por causa de sinais físicos que vê. Lembre-se do aviso bíblico: “A presença daquele que é contra a lei é segundo a operação de Satanás, com tôda obra poderosa, e sinais e portentos mentirosos, e com todo engano injusto para com os que estão perecendo, em retribuição por não terem aceito o amor da verdade, para que fôssem salvos.” — 2 Tes. 2:9, 10.
Visto que as manifestações dos pentecostais incluem algumas coisas que admitidamente até êles crêem que são falsas, segundo notado pela experiência de W. J. Seymour, não há, pois motivo para duvidar de tôdas elas? Visto que possessão demoníaca pode causar repuxamentos físicos, é para se concluir que alguns repuxamentos são causados pelo espírito santo e que outros são causados pelo poder demoníaco, sendo necessário distinguir entre os verdadeiros e os falsos? “Será que uma fonte faz brotar pela mesma abertura o que é doce e o que é amargo?” (Tia. 3:11) Deve-se considerar sóbria e refletidamente a evidência que indica influência demoníaca na prática pentecostal. Lembre-se do que o inspirado apóstolo cristão Paulo escreveu aos cristãos, prevenindo-os contra a “operação de Satanás, com tôda obra poderosa, e sinais e portentos” para enganar os que não aceitam “o amor da verdade”. — 2 Tes. 2:9, 10.
[Nota(s) de rodapé]
a Para mais pormenores, veja a discussão dêste assunto na Sentinela de 15 de outubro de 1963.