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Nunca retrocedamos para a destruição!A Sentinela — 1999 | 15 de dezembro
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Nunca retrocedamos para a destruição!
“Nós não somos dos que retrocedem para a destruição.” — HEBREUS 10:39.
1. Que situação levou o apóstolo Pedro a ser vencido pelo medo?
OS APÓSTOLOS devem ter ficado chocados quando seu amado Mestre, Jesus, lhes disse que todos eles se espalhariam e o abandonariam. Como podia uma coisa dessas acontecer logo quando ele mais precisava deles? Pedro insistiu: “Ainda que todos os outros tropecem, eu não.” Deveras, Pedro era homem valente e corajoso. Mas quando Jesus foi traído e preso, os apóstolos — inclusive Pedro — se espalharam. Mais tarde, quando Jesus estava sendo interrogado na casa do Sumo Sacerdote Caifás, Pedro ficou no pátio, nervoso. No decorrer da noite fria, Pedro provavelmente começou a temer que Jesus e quem estivesse associado com ele fossem executados. Quando alguns dos espectadores reconheceram a Pedro como um dos íntimos associados de Jesus, ele entrou em pânico. Negou três vezes que tivesse alguma ligação com Jesus. Pedro até mesmo negou que o conhecia! — Marcos 14:27-31, 66-72.
2. (a) Por que o proceder temeroso de Pedro, na noite em que Jesus foi preso, não o colocou entre os “que retrocedem”? (b) O que devemos estar decididos a fazer?
2 Este foi um ponto fraco na vida de Pedro, um momento que, sem dúvida, ele lamentou pelo resto da vida. Mas, será que o proceder de Pedro naquela noite fez dele um covarde? Fez dele um “dos que retrocedem”, que o apóstolo Paulo expôs mais tarde ao escrever: “Ora, nós não somos dos que retrocedem para a destruição”? (Hebreus 10:39) A maioria de nós provavelmente concordaria que as palavras de Paulo não se aplicavam a Pedro. Por que não? Porque o medo de Pedro foi temporário, um breve lapso numa vida cheia de notável coragem e fé. De forma similar, muitos de nós fizemos coisas no passado de que nos lembramos com alguma vergonha, momentos em que o medo nos pegou de surpresa e impediu que nos mantivéssemos tão firmes a favor da verdade como queríamos. (Note Romanos 7:21-23.) Podemos ter a certeza de que esses lapsos momentâneos não nos colocam entre os que retrocedem para a destruição. Ainda assim, temos de estar decididos a nunca nos tornar tais. Por quê? E como podemos evitar tornar-nos tal pessoa?
O que significa retroceder para a destruição
3. Como foi que os profetas Elias e Jonas foram vencidos pelo medo?
3 Quando Paulo escreveu sobre ‘os que retrocedem’, ele não se referiu aos que podem ter lapsos momentâneos de coragem. Paulo certamente conhecia tanto o caso de Pedro como outros casos similares. Elias, profeta destemido e franco, certa vez ficou com medo e fugiu para salvar a vida, por causa duma ameaça de morte proferida pela iníqua Rainha Jezabel. (1 Reis 19:1-4) O profeta Jonas sentiu mais medo ainda. Jeová mandou-o viajar para a cidade notoriamente violenta e iníqua de Nínive. Jonas logo embarcou num navio com destino a Társis — 3.500 quilômetros na direção oposta. (Jonas 1:1-3) No entanto, nenhum desses profetas fiéis, nem o apóstolo Pedro, poderiam ser descritos corretamente como pessoas que retrocederam. Por que não?
4, 5. (a) Como nos ajuda o contexto a saber o que Paulo queria dizer com “destruição”, em Hebreus 10:39? (b) Que queria Paulo dizer com: “Nós não somos dos que retrocedem para a destruição”?
4 Note a frase inteira usada por Paulo: “Ora, nós não somos dos que retrocedem para a destruição.” A que se referia ele com “destruição”? A palavra grega que usou se refere às vezes à destruição eterna. Esta definição se encaixa no contexto. Paulo havia advertido: “Se praticarmos o pecado deliberadamente, depois de termos recebido o conhecimento exato da verdade, não há mais nenhum sacrifício pelos pecados, mas há uma certa expectativa terrível de julgamento e há um ciúme ardente que vai consumir os que estão em oposição.” — Hebreus 10:26, 27.
5 Portanto, quando Paulo disse aos concrentes: “Nós não somos dos que retrocedem para a destruição”, queria dizer que ele e seus fiéis leitores cristãos estavam decididos a nunca se desviar de Jeová e a nunca deixar de servi-lo. Fazer isso só podia levar à destruição eterna. Judas Iscariotes retrocedeu para tal destruição, assim como fizeram outros inimigos da verdade, que deliberadamente agiram contrário ao espírito de Jeová. (João 17:12; 2 Tessalonicenses 2:3) Esses fazem parte dos “covardes” que sofrem a destruição eterna no simbólico lago de fogo. (Revelação [Apocalipse] 21:8) Não, nós nunca queremos estar entre estes!
6. Que proceder Satanás, o Diabo, quer que adotemos?
6 Satanás, o Diabo, quer que retrocedamos para a destruição. Sendo mestre em usar “artimanhas”, ele sabe que tal proceder prejudicial muitas vezes começa com coisas pequenas. (Efésios 6:11, nota, NM com Referências) Quando a perseguição direta não alcança os seus objetivos, ele procura arruinar a fé dos verdadeiros cristãos por meios mais sutis. Quer fazer calar as destemidas e zelosas Testemunhas de Jeová. Vejamos quais as táticas que ele usou contra os cristãos hebreus aos quais Paulo escreveu.
Como se pressionou os cristãos para que retrocedessem
7. (a) Qual era a história da congregação em Jerusalém? (b) Que situação espiritual existia no caso de alguns dos leitores de Paulo?
7 A evidência indica que Paulo escreveu sua carta aos hebreus por volta de 61 EC. A história da congregação em Jerusalém era tumultuosa. Depois da morte de Jesus, começou uma onda de violenta perseguição, obrigando muitos cristãos na cidade a se espalharem. No entanto, seguiu-se um período de paz, permitindo que o número dos cristãos aumentasse. (Atos 8:4; 9:31) Com o passar dos anos, houve ocasionalmente outras perseguições e dificuldades. Parece que, na época em que Paulo escreveu a carta aos hebreus, a congregação usufruía novamente um período de relativa paz. Mesmo assim, havia pressões. Tinham-se passado quase três décadas desde que Jesus predissera a destruição de Jerusalém. É provável que alguns achassem que o fim estava demorando sem motivo e que não ocorreria durante a sua vida. Outros, especialmente os mais novos na fé, ainda não haviam sido provados por uma perseguição severa e pouco sabiam da necessidade de perseverança quando em provação. (Hebreus 12:4) Satanás certamente procurava aproveitar-se desta situação. Que “artimanhas” usou ele?
8. Qual era a atitude de muitos judeus para com a novata congregação cristã?
8 A comunidade judaica em Jerusalém e na Judéia encarava a novata congregação cristã com desprezo. A julgar pelo conteúdo da carta de Paulo, podemos ter uma noção de como os arrogantes líderes religiosos judaicos e seus seguidores escarneciam dos cristãos. Eles podem ter dito, em outras palavras: ‘Nós temos o grande templo em Jerusalém já por séculos! Temos nele oficiando um nobre sumo sacerdote, junto com seus subsacerdotes. Oferecem-se diariamente sacrifícios. Temos a Lei, transmitida por anjos a Moisés e estabelecida com grandes sinais no monte Sinai. Esta seita novata, esses cristãos, que apostataram do judaísmo, não têm nada disso!’ Atingiram tais escárnios o seu alvo? Alguns cristãos hebreus, pelo visto, ficaram perturbados com estes ataques. A carta de Paulo veio em sua ajuda exatamente no momento certo.
Por que eles nunca deviam retroceder para a destruição
9. (a) Que tema permeia a carta aos hebreus? (b) Em que sentido serviam os cristãos num templo melhor do que aquele em Jerusalém?
9 Examinemos dois motivos mencionados por Paulo aos seus irmãos e irmãs na Judéia, para que nunca retrocedessem para a destruição. O primeiro — a superioridade do sistema de adoração cristã — permeia a carta aos hebreus. Paulo desenvolveu este tema em toda a sua carta. O templo em Jerusalém era apenas uma cópia de uma realidade muito maior, o templo espiritual de Jeová, uma construção “não feita por mãos”. (Hebreus 9:11) Esses cristãos tinham o privilégio de servir neste arranjo espiritual para a adoração pura. Serviam sob um pacto melhor, o havia muito prometido novo pacto, que tinha um Mediador superior a Moisés, Jesus Cristo. — Jeremias 31:31-34.
10, 11. (a) Por que a linhagem de Jesus não o desqualificou de servir como Sumo Sacerdote no templo espiritual? (b) Em que sentidos era Jesus um sumo sacerdote superior ao que servia no templo em Jerusalém?
10 Esses cristãos tinham também um Sumo Sacerdote muito melhor, Jesus Cristo. Não, ele não descendeu de Arão. Antes, era Sumo Sacerdote “à maneira de Melquisedeque”. (Salmo 110:4) Melquisedeque, de cuja linhagem não há registro, era rei da antiga Salém, bem como o sumo sacerdote dela. Era assim um adequado tipo profético de Jesus, cujo sacerdócio não dependia de antepassados humanos imperfeitos, mas de algo muito superior — o juramento do próprio Jeová Deus. Assim como Melquisedeque, Jesus serve não apenas como Sumo Sacerdote, mas também como Rei que nunca morrerá. — Hebreus 7:11-21.
11 Além disso, dessemelhante do sumo sacerdote no templo em Jerusalém, Jesus não precisava oferecer sacrifícios ano após ano. Seu sacrifício foi a sua própria vida perfeita, que ele ofereceu uma vez para sempre. (Hebreus 7:27) Todos aqueles sacrifícios oferecidos no templo foram apenas sombras, retratando o que Jesus ofereceu. O sacrifício perfeito dele proveu o verdadeiro perdão dos pecados de todos os que exercem fé. Também são animadores os comentários de Paulo, que mostram que este Sumo Sacerdote é o mesmo imutável Jesus que os cristãos conheceram em Jerusalém. Ele era humilde, bondoso, e alguém que pode ‘compadecer-se das nossas fraquezas’. (Hebreus 4:15; 13:8) Aqueles cristãos ungidos tinham a perspectiva de servir como subsacerdotes de Cristo! Como é que podiam pensar em retroceder para as coisas “fracas e mesquinhas” do judaísmo corrupto? — Gálatas 4:9.
12, 13. (a) Que segundo motivo forneceu Paulo para nunca se retroceder? (b) Por que a perseverança no passado incentivaria os cristãos hebreus a nunca retrocederem para a destruição?
12 Como se isso não bastasse, Paulo deu aos hebreus um segundo motivo pelo qual nunca deviam retroceder para a destruição — a própria perseverança anterior deles. Ele escreveu: “Persisti em lembrar-vos dos dias anteriores, em que, depois de terdes sido esclarecidos, perseverastes em uma grande competição, debaixo de sofrimentos.” Paulo lembrou-lhes que haviam sido “expostos como que num teatro” para vitupérios e tribulações. Alguns haviam sido encarcerados; outros se tinham compadecido dos encarcerados e os tinham apoiado. Deveras, eles tinham demonstrado fé e perseverança exemplares. (Hebreus 10:32-34) No entanto, por que pediu Paulo que eles ‘persistissem em lembrar-se’ de tais experiências penosas? Não era isso desanimador?
13 Ao contrário, ‘lembrarem-se dos dias anteriores’ recordaria aos hebreus como Jeová os havia sustentado quando estavam sob provações. Com a ajuda dele, já haviam resistido a muitos dos ataques de Satanás. Paulo escreveu: “Deus não é injusto, para se esquecer de vossa obra e do amor que mostrastes ao seu nome.” (Hebreus 6:10) Deveras, Jeová lembrava-se de todas as obras fiéis deles, guardando-as na sua ilimitada memória. Somos lembrados da exortação de Jesus, de armazenarmos tesouros no céu. Nenhum ladrão pode roubar esses tesouros; nem podem ser consumidos por traça ou ferrugem. (Mateus 6:19-21) Na realidade, esses tesouros só podem ser destruídos quando o cristão retrocede para a destruição. Isso desperdiçaria quaisquer tesouros que ele tivesse armazenado no céu. Que forte motivo Paulo deu aos cristãos hebreus para que nunca adotassem tal proceder! Por que deviam desperdiçar todos os seus anos de serviço fiel? Seria correto e muito melhor continuarem a perseverar.
Por que nunca devemos retroceder para a destruição
14. Confrontamo-nos com que desafios similares aos com que se confrontavam os cristãos do primeiro século?
14 Hoje em dia, os verdadeiros cristãos têm motivos igualmente fortes para não retroceder. Primeiro, devemos lembrar-nos da bênção que temos na forma pura de adoração que Jeová nos tem dado. Assim como os cristãos do primeiro século, vivemos numa época em que os membros das religiões mais populares nos desprezam e zombam de nós, apontando orgulhosamente para seus impressionantes edifícios religiosos e a antiguidade das suas tradições. No entanto, Jeová nos assegura que ele aprova a nossa forma de adoração. Na realidade, usufruímos hoje bênçãos que os cristãos do primeiro século não tiveram. Talvez você se pergunte: ‘Como pode ser isso?’ Afinal, eles viveram na época em que o templo espiritual entrou em operação. Cristo tornou-se seu Sumo Sacerdote quando foi batizado em 29 EC. Alguns deles tinham visto o Filho de Deus realizar milagres. Mesmo após a morte dele, houve mais milagres. Todavia, conforme predito, esses dons por fim cessaram. — 1 Coríntios 13:8.
15. Os verdadeiros cristãos vivem hoje durante o cumprimento de que profecia, e o que significa isso para nós?
15 No entanto, nós vivemos durante um cumprimento significativo da extensa profecia sobre o templo, nos capítulos 40-48 de Ezequiel.a Temos assim visto a restauração do arranjo de Deus para a adoração pura. Este templo espiritual foi purificado de todas as formas de poluição religiosa e idolatria. (Ezequiel 43:9; Malaquias 3:1-5) Imagine quanta vantagem esta purificação nos deu!
16. Com que tendência desanimadora se confrontavam os cristãos do primeiro século?
16 No primeiro século, o futuro parecia sombrio para a organizada congregação cristã. Jesus havia predito que seria como se tivessem semeado joio num recém-plantado campo de trigo, tornando quase indistinguível o trigo do joio. (Mateus 13:24-30) E assim aconteceu. Ao fim do primeiro século, quando o idoso apóstolo João atuava como última restrição contra a corrupção, a apostasia já estava prosperando. (2 Tessalonicenses 2:6; 1 João 2:18) Não muito tempo depois da morte dos apóstolos, surgiu uma classe clerical separada que oprimia o rebanho e usava vestes distintivas. A apostasia espalhou-se como gangrena. Como isso foi desanimador para os cristãos fiéis! Eles viram o recém-estabelecido arranjo da adoração pura ser sobrepujado por uma forma corrupta. Isso aconteceu menos de um século depois de Cristo ter fundado a congregação.
17. Em que sentido a congregação cristã da atualidade tem durado mais do que seu equivalente do primeiro século?
17 Considere agora um contraste. Atualmente, a adoração pura já dura mais tempo do que o período decorrido até a morte dos apóstolos. Desde o tempo da publicação do primeiro número desta revista (em inglês), em 1879, Jeová nos tem abençoado com uma adoração cada vez mais purificada. Jeová e Cristo Jesus entraram no templo espiritual em 1918 com o objetivo de purificá-lo. (Malaquias 3:1-5) Desde 1919, o arranjo da adoração de Jeová Deus tem sido progressivamente refinado. Nosso entendimento das profecias e dos princípios bíblicos tem ficado mais claro. (Provérbios 4:18) A quem se deve dar crédito por isso? Não a meros humanos imperfeitos. Somente Jeová, com seu Filho qual Cabeça da congregação, podia proteger Seu povo contra a corrupção durante esses tempos corrompidos. Portanto, que nunca deixemos de agradecer a Jeová por nos permitir tomar hoje parte na adoração pura! E estejamos firmemente resolvidos a nunca retroceder para a destruição!
18. Que motivo temos para nunca retroceder para a destruição?
18 Nós, como aqueles cristãos hebreus, temos um segundo motivo para rejeitar um proceder covarde e temeroso — nossos próprios antecedentes de perseverança. Quer tenhamos começado a servir a Jeová só em anos recentes, quer o estejamos fazendo fielmente já por décadas, temos estabelecido antecedentes de obras cristãs. Muitos de nós sofreram perseguição, encarceramento, proscrição, brutalidade ou perda de propriedade. Muitos outros tiveram de enfrentar oposição da família, desprezo, zombaria e indiferença. Todos nós perseveramos, continuando no nosso serviço fiel prestado a Jeová apesar dos desafios e das provações da vida. Por isso, criamos antecedentes de perseverança de que Jeová não se esquecerá, um tesouro no céu. Portanto, é certo que a atual não é uma época para retrocedermos para o velho sistema corrupto que deixamos para trás! Por que tornar sem valor todo o nosso trabalho árduo? Isto se dá especialmente hoje, quando resta só “um pouquinho” de tempo antes de vir o fim. — Hebreus 10:37.
19. O que se considerará no nosso próximo artigo?
19 Portanto, estejamos resolvidos a ‘não ser dos que retrocedem para a destruição’! Antes, sejamos “dos que têm fé”. (Hebreus 10:39) Como podemos ter certeza de que nos enquadramos nesta descrição e como podemos ajudar concristãos a fazer o mesmo? O nosso próximo artigo considerará este assunto.
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Sejamos dos que têm féA Sentinela — 1999 | 15 de dezembro
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Sejamos dos que têm fé
“Somos . . . dos que têm fé para preservar viva a alma.” — HEBREUS 10:39.
1. Por que se pode dizer que a fé que cada servo leal de Jeová tem é preciosa?
A PRÓXIMA vez que estiver num Salão do Reino cheio dos adoradores de Jeová, pare e olhe para os que estão à sua volta. Pense nas muitas maneiras pelas quais eles demonstram fé. Poderá notar alguns mais idosos, que servem a Deus já por décadas, ou jovens que diariamente suportam as pressões de colegas, e pais que trabalham arduamente para criar filhos que temam a Deus. Há anciãos e servos ministeriais da congregação, que arcam com muitas responsabilidades. Deveras, pode notar irmãos e irmãs espirituais de todas as idades, que superam todo tipo de obstáculos para servir a Jeová. Como é preciosa a fé que cada um deles tem! — 1 Pedro 1:7.
2. Por que é proveitoso para nós hoje o conselho de Paulo nos capítulos 10 e 11 de Hebreus?
2 Poucos humanos imperfeitos, se houve alguns, compreenderam a importância da fé melhor do que o apóstolo Paulo. Na realidade, ele notou que a fé genuína resulta em “preservar viva a alma”. (Hebreus 10:39) No entanto, Paulo sabia que a fé está sujeita a ataques e à erosão neste mundo sem fé. Ele estava profundamente preocupado com os cristãos hebreus em Jerusalém e na Judéia, que lutavam para preservar a sua fé. Ao examinarmos partes dos capítulos 10 e 11 de Hebreus, devemos notar os métodos que Paulo usou para edificar a fé que eles tinham. Fazendo isso, notaremos como nós podemos criar uma fé mais forte em nós mesmos e naqueles que nos rodeiam.
Mostremos que confiamos uns nos outros
3. Como mostram as palavras de Paulo em Hebreus 10:39 que ele tinha confiança nos seus irmãos e irmãs na fé?
3 A primeira coisa que talvez notemos é a atitude positiva de Paulo para com os seus leitores. Ele escreveu: “Nós não somos dos que retrocedem para a destruição, mas dos que têm fé para preservar viva a alma.” (Hebreus 10:39) Paulo pensava o melhor, não o pior, dos seus fiéis concristãos. Queira também notar que ele usou o pronome “nós”. Paulo era um homem justo. No entanto, não se dirigia aos seus leitores com ares de superioridade, como se estivesse num plano mais elevado de justiça do que eles. (Note Eclesiastes 7:16.) Antes, incluiu-se entre eles. Expressou de coração confiança em que ele e seus fiéis leitores cristãos — todos — enfrentariam os assustadores obstáculos que surgiriam, que se negariam corajosamente a retroceder para a destruição e que provariam ser dos que têm fé.
4. Por que motivos tinha Paulo confiança nos seus concrentes?
4 Como podia ter Paulo tal confiança? Não enxergava as falhas dos cristãos hebreus? Ao contrário, ele lhes ofereceu conselho específico para ajudá-los a vencerem suas fraquezas espirituais. (Hebreus 3:12; 5:12-14; 6:4-6; 10:26, 27; 12:5) Mesmo assim, Paulo tinha pelo menos dois bons motivos para ter confiança nos seus irmãos. (1) Paulo, como imitador de Jeová, esforçava-se a encarar o povo de Deus como Este o encarava. Não se concentrava nas falhas, mas nas suas boas qualidades e seu potencial de escolher no futuro fazer o que é bom. (Salmo 130:3; Efésios 5:1) (2) Paulo tinha absoluta fé no poder do espírito santo. Sabia que nenhum obstáculo, nem a fragilidade humana, podia impedir que Jeová conferisse “poder além do normal” a todo cristão que se esforçasse a servi-Lo fielmente. (2 Coríntios 4:7; Filipenses 4:13) De modo que a confiança que Paulo tinha nos seus irmãos e irmãs não era mal depositada, irrealística ou cegamente otimista. Tinha base sólida e apoio bíblico.
5. Como podemos imitar a confiança de Paulo, e com que resultado provável?
5 Certamente, a confiança que Paulo tinha mostrou ser contagiante. Deve ter significado muito para as congregações em Jerusalém e na Judéia Paulo ter se dirigido a elas com tal encorajamento. Em vista do fulminante desprezo e da orgulhosa indiferença dos seus opositores judeus, os cristãos hebreus foram ajudados por essas expressões a decidir no coração ser dos que têm fé. Podemos hoje fazer o mesmo uns para com os outros? É muito fácil ver nos outros apenas uma longa série de falhas e de peculiaridades estranhas de personalidade. (Mateus 7:1-5) No entanto, podemos ajudar-nos muito mais uns aos outros se observarmos e dermos valor à fé ímpar que cada um tem. Com tal encorajamento, é mais provável que a fé aumente. — Romanos 1:11, 12.
Uso apropriado da Palavra de Deus
6. Que fonte citou Paulo ao escrever as palavras registradas em Hebreus 10:38?
6 Paulo também aumentou a fé dos seus concrentes por usar habilmente as Escrituras. Por exemplo, ele escreveu: “‘Mas o meu justo viverá em razão da fé’, e, ‘se ele retroceder, minha alma não terá prazer nele’.” (Hebreus 10:38) Paulo citava ali o profeta Habacuque.a Essas palavras provavelmente eram conhecidas aos leitores de Paulo, os cristãos hebreus que conheciam muito bem os livros proféticos. Levando-se em conta os objetivos dele — de fortalecer a fé dos cristãos que estavam em Jerusalém e nas vizinhanças dela por volta do ano 61 EC — o exemplo de Habacuque foi uma escolha apropriada. Por quê?
7. Quando Habacuque registrou a sua profecia, e quais eram as condições em Judá naquela época?
7 Pelo visto, Habacuque escreveu seu livro um pouco mais de duas décadas antes da destruição de Jerusalém em 607 AEC. Numa visão, o profeta viu os caldeus (ou babilônios), “nação amarga e impetuosa”, investir contra Judá e destruir Jerusalém, apoderando-se, neste processo, de povos e de nações. (Habacuque 1:5-11) Mas esta calamidade havia sido predita desde os dias de Isaías, mais de um século antes. No tempo de Habacuque, Jeoiaquim sucedeu ao bom Rei Josias, e a iniqüidade floresceu de novo em Judá. Jeoiaquim perseguiu e até mesmo assassinou os que falavam em nome de Jeová. (2 Crônicas 36:5; Jeremias 22:17; 26:20-24) Não é de admirar que o angustiado profeta Habacuque clamasse: “Até quando, ó Jeová?” — Habacuque 1:2.
8. Por que o exemplo de Habacuque seria útil para os cristãos no primeiro século e também para os de hoje?
8 Habacuque não sabia quão perto estava a destruição de Jerusalém. De modo similar, os cristãos do primeiro século não sabiam quando ia acabar o sistema de coisas judaico. Tampouco nós sabemos hoje ‘o dia e a hora’ quando se executará o julgamento de Jeová contra este sistema iníquo. (Mateus 24:36) Notemos, porém, a resposta dupla que Jeová deu a Habacuque. Primeiro, ele assegurou ao profeta que o fim viria exatamente na hora marcada. “Não tardará”, disse Deus, embora talvez do ponto de vista humano pareça demorar. (Habacuque 2:3) Segundo, Jeová lembrou a Habacuque: “Quanto ao justo, continuará a viver pela sua fidelidade.” (Habacuque 2:4) Que verdades belas e simples! O mais importante não é saber quando virá o fim, mas se nós continuamos a levar uma vida de fé.
9. Como é que os servos obedientes de Jeová continuaram a viver pela sua fidelidade (a) em 607 AEC, e (b) depois de 66 EC? (c) Por que é vital que fortaleçamos a nossa fé?
9 Quando Jerusalém foi saqueada em 607 AEC, Jeremias, seu secretário Baruque, Ebede-Meleque e os recabitas leais viram a confirmação da promessa de Jeová feita a Habacuque. ‘Continuaram a viver’ por escapar da terrível destruição de Jerusalém. Por quê? Jeová recompensou a fidelidade deles. (Jeremias 35:1-19; 39:15-18; 43:4-7; 45:1-5) De modo similar, os cristãos hebreus do primeiro século devem ter prestado bastante atenção ao conselho de Paulo, porque quando os exércitos romanos atacaram Jerusalém em 66 EC e depois se retiraram inexplicavelmente, esses cristãos acataram fielmente o aviso de Jesus para que fugissem. (Lucas 21:20, 21) Continuaram vivos por causa da sua fidelidade. Do mesmo modo, nós continuaremos vivos se formos achados fiéis quando vier o fim. Que motivo vital para reforçarmos nossa fé agora!
Avivando exemplos de fé
10. Como descreveu Paulo a fé que Moisés tinha, e como podemos imitar a Moisés neste respeito?
10 Paulo também reforçou a fé por usar exemplos de maneira eficaz. Ao passo que você lê o capítulo 11 de Hebreus, note como ele torna vívidos os exemplos de personagens bíblicos. Por exemplo, ele diz que Moisés “permanecia constante como que vendo Aquele que é invisível”. (Hebreus 11:27) Em outras palavras, Jeová era tão real para Moisés que era como se ele pudesse ver o Deus invisível. Pode-se dizer o mesmo de nós? É fácil falar sobre ter uma relação com Jeová, mas desenvolver e fortalecer esta relação requer esforço. Trata-se de um esforço que precisamos fazer! É Jeová tão real para nós que o levamos em consideração ao tomar decisões, mesmo as aparentemente menores? Uma fé deste tipo nos ajudará a perseverar mesmo sob a pior oposição.
11, 12. (a) Em que condições talvez tenha sido provada a fé que Enoque tinha? (b) Que recompensa animadora recebeu Enoque?
11 Considere também a fé que Enoque tinha. É difícil imaginarmos a oposição que ele enfrentou. Enoque teve de transmitir uma pungente mensagem de julgamento contra as pessoas iníquas que viviam naquela época. (Judas 14, 15) A perseguição que ameaçava este homem fiel evidentemente era tão feroz, tão violenta, que Jeová ‘o transferiu’, levando-o da condição viva para o sono da morte antes que seus inimigos se apoderassem dele. De modo que Enoque não viu o cumprimento da profecia que transmitiu. No entanto, recebeu uma dádiva que, em certo sentido, era ainda melhor. — Hebreus 11:5; Gênesis 5:22-24.
12 Paulo explica: “Antes de sua transferência, [Enoque] teve o testemunho de que agradara bem a Deus.” (Hebreus 11:5) O que significava isso? Antes de adormecer na morte, Enoque talvez tenha tido algum tipo de visão, talvez do Paraíso terrestre em que um dia, dentro em breve, irá despertar. De qualquer modo, Jeová deixou Enoque saber que se agradava bem do proceder fiel dele. Enoque havia alegrado o coração de Jeová. (Note Provérbios 27:11.) É comovente pensar na vida de Enoque, não é verdade? Gostaria você de levar uma vida assim de fé? Então pense em tais exemplos; encare-os como pessoas reais. Esteja decidido a viver pela fé, dia após dia. Lembre-se também de que aqueles que têm fé não servem a Jeová à base duma data ou dum prazo fixo de quando Deus cumprirá todas as suas promessas. Antes, estamos resolvidos a servir a Jeová para sempre! Fazer isso é o melhor modo de vida neste sistema de coisas e no próximo.
Como se fortalece a fé
13, 14. (a) Como nos podem ajudar as palavras de Paulo registradas em Hebreus 10:24, 25, a tornar nossas reuniões ocasiões alegres? (b) Qual é o objetivo primário das reuniões cristãs?
13 Paulo mostrou aos cristãos hebreus vários modos práticos de poderem fortalecer a fé. Consideremos apenas dois deles. Provavelmente conhecemos a sua exortação em Hebreus 10:24, 25, que nos incentiva a nos reunirmos regularmente nas nossas reuniões cristãs. No entanto, lembre-se de que essas palavras inspiradas de Paulo não significam que devemos ser apenas observadores passivos nessas reuniões. Antes, Paulo descreve as reuniões como oportunidades de chegarmos a conhecer melhor uns aos outros, de induzir uns aos outros a servir mais plenamente a Deus e de encorajar-nos mutuamente. Estamos presentes ali para dar, não apenas para receber. Isto ajuda a fazer com que nossas reuniões sejam ocasiões alegres. — Atos 20:35.
14 No entanto, assistimos às reuniões cristãs principalmente para adorar a Jeová Deus. Fazemos isso por participar nas orações e nos cânticos, por escutar com atenção e por oferecer “o fruto de lábios” — expressões de louvor a Jeová nos nossos comentários e nas partes que temos nas reuniões. (Hebreus 13:15) Se mantivermos esses objetivos em mente e agirmos de acordo com eles em cada reunião, nossa fé, sem falta, será cada vez mais edificada.
15. Por que exortou Paulo os cristãos hebreus a se apegarem ao seu ministério, e por que é este mesmo conselho apropriado hoje?
15 Outra maneira de edificarmos a fé é a pregação. Paulo escreveu: “Apeguemo-nos à declaração pública da nossa esperança, sem vacilação, pois aquele que prometeu é fiel.” (Hebreus 10:23) Você poderá exortar outros a se apegarem a algo quando parecem estar em perigo de desistir. Satanás certamente pressionava aqueles cristãos hebreus para que abandonassem o ministério, e ele também está pressionando hoje os do povo de Deus. Em face de tal pressão, o que devemos fazer? Considere o que Paulo fez.
16, 17. (a) Como obteve Paulo denodo para o ministério? (b) Que medidas devemos adotar quando nos sentimos intimidados em participar de uma modalidade de nosso ministério cristão?
16 Paulo escreveu aos cristãos em Tessalônica: “Depois de primeiro termos sofrido e termos sido tratados com insolência em Filipos (conforme sabeis), ficamos denodados, por meio de nosso Deus, para falar-vos as boas novas de Deus com bastante luta.” (1 Tessalonicenses 2:2) Como é que Paulo e seus companheiros tinham sido “tratados com insolência” em Filipos? Segundo alguns eruditos, a palavra grega usada por Paulo expressa tratamento insultuoso, vergonhoso ou ultrajante. As autoridades filipenses os haviam espancado com varas, jogado na prisão e prendido em troncos. (Atos 16:16-24) Como afetou a Paulo este acontecimento doloroso? Será que as pessoas que moravam na próxima cidade na sua viagem missionária, Tessalônica, acharam que Paulo estava com medo? Não, porque ele ‘ficou denodado’. Venceu o medo e continuou a pregar destemidamente.
17 De onde obteve Paulo tal denodo? Do seu íntimo? Não, ele disse que ficou com denodo “por meio de nosso Deus”. Uma obra de referência para tradutores da Bíblia diz que esta declaração pode ser vertida “Deus tirou o medo dos nossos corações”. Portanto, quando você não se sente com muita coragem no seu ministério, ou quando especialmente algum aspecto dele lhe parece intimidador, por que não pede a Jeová que faça o mesmo para você? Peça que lhe tire o medo do coração. Peça que o ajude a ficar denodado na obra. Além disso, tome algumas outras medidas práticas. Por exemplo, providencie trabalhar com alguém hábil na modalidade de dar testemunho que preocupa você. Talvez envolva território comercial, testemunho nas ruas, pregação informal ou por telefone. Pode ser que seu companheiro esteja disposto a tomar a iniciativa. Neste caso, observe-o e aprenda. Daí, crie coragem para fazer uma tentativa.
18. Que bênçãos podemos ter se ficarmos denodados no ministério?
18 Se você adquirir denodo, pense no resultado que isso poderá ter. Quando você persiste e não fica desanimado, é provável que tenha boas experiências em transmitir a verdade, as quais de outro modo não teria tido. (Veja a página 25.) Terá a satisfação de saber que agradou a Jeová por fazer algo que lhe é difícil. Sentirá a bênção e a ajuda dele em vencer seus temores. Sua fé ficará mais forte. Na realidade, ao passo que você edifica a fé de outros estará, ao mesmo tempo, edificando a sua própria fé. — Judas 20, 21.
19. Que preciosa recompensa aguarda ‘os que têm fé’?
19 Continue a fortalecer a sua fé e a daqueles à sua volta. Pode fazer isso por edificar a si mesmo e a outros pelo uso hábil da Palavra de Deus, por estudar exemplos bíblicos de fé e por torná-los vívidos, por se preparar para as reuniões cristãs e por participar nelas e por se apegar ao privilégio precioso do ministério público. Agindo assim, poderá ter a certeza de que você, deveras, é um “dos que têm fé”. Lembre-se, também, de que estes têm uma preciosa recompensa. São “dos que têm fé para preservar viva a alma”.b Que sua fé continue a aumentar, e que Jeová Deus o preserve vivo para sempre!
[Nota(s) de rodapé]
a Paulo citou Habacuque 2:4 da versão da Septuaginta, que inclui a frase “se alguém retroceder, minha alma não terá prazer nele”. Esta declaração não ocorre em nenhum dos manuscritos hebraicos agora existentes. Alguns sugeriram que a Septuaginta baseou-se em manuscritos hebraicos anteriores, que não mais existem. De qualquer modo, Paulo a incluiu aqui sob a influência do espírito santo de Deus. Portanto, ela tem autorização divina.
b Para as Testemunhas de Jeová, o texto para o ano 2000 será: “Não somos dos que retrocedem . . . mas dos que têm fé.” — Hebreus 10:39.
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