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O “Novo Testamento” — história ou mito?A Bíblia — Palavra de Deus ou de Homem?
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Capítulo 5
O “Novo Testamento” — história ou mito?
“O Novo Testamento pode hoje ser descrito como o livro mais investigado da literatura mundial.” Assim disse Hans Küng no seu livro “Sobre Ser Cristão”. E ele tem razão. Durante os últimos 300 anos, as Escrituras Gregas Cristãs foram investigadas ao máximo. Foram mais cabalmente dissecadas e mais minuciosamente analisadas do que qualquer outra literatura.
1, 2. (Inclua a introdução.) (a) A que tratamento foram submetidas as Escrituras Gregas Cristãs nos últimos 300 anos? (b) A que conclusões estranhas chegaram alguns investigadores?
AS CONCLUSÕES a que alguns investigadores chegaram são estranhas. Lá no século 19, Ludwig Noack, da Alemanha, concluiu que o Evangelho de João foi escrito em 60 EC pelo discípulo amado — o qual, segundo Noack, era Judas! O francês Joseph Ernest Renan sugeriu que a ressurreição de Lázaro provavelmente foi uma fraude elaborada pelo próprio Lázaro, para dar apoio à afirmação de Jesus, de fazer milagres, ao passo que o teólogo alemão Gustav Volkmar insistiu em que o Jesus histórico de maneira alguma podia ter feito reivindicações messiânicas.1
2 Bruno Bauer, por outro lado, decidiu que Jesus nunca existiu! “Ele sustentou que as verdadeiras forças criativas no primitivo cristianismo eram Filo, Sêneca e os gnósticos. No fim, ele declarou que nunca houve um Jesus histórico . . . que a gênese da religião cristã ocorreu em fins do segundo século e procedeu de um judaísmo no qual o estoicismo se tornara dominante.”2
3. Que opinião formam ainda muitos sobre a Bíblia?
3 Hoje em dia, poucos sustentam tais ideias extremas. Mas, ao ler as obras de eruditos modernos, verificará que muitos ainda acreditam que as Escrituras Gregas Cristãs contêm lendas, mitos e exageros. Será que isso é verdade?
Quando Foram Escritas?
4. (a) Por que é importante saber quando foram escritos os livros das Escrituras Gregas Cristãs? (b) Quais são algumas das opiniões sobre o tempo da escrita das Escrituras Gregas Cristãs?
4 Mitos e lendas levam tempo para se desenvolver. Por isso é importante fazer a pergunta: quando foram escritos esses livros? Michael Grant, historiador, diz que os escritos históricos das Escrituras Gregas Cristãs tiveram início “trinta ou quarenta anos após a morte de Jesus”.4 O arqueólogo bíblico William Foxwell Albright citou C. C. Torrey como chegando à conclusão de “que todos os Evangelhos foram escritos antes de 70 A.D. e que não há neles nada que não pudesse ter sido escrito dentro de vinte anos após a Crucificação”. A opinião do próprio Albright era que sua escrita foi completada “o mais tardar por volta de 80 A.D.”. Outros apresentam cálculos um pouco diferentes, mas a maioria concorda que a escrita do “Novo Testamento” estava completa por volta do fim do primeiro século.
5, 6. O que devemos concluir do fato de que as Escrituras Gregas Cristãs foram escritas pouco depois dos acontecimentos registrados nelas?
5 O que significa isso? Albright conclui: “Só podemos dizer que um período de vinte a cinquenta anos é limitado demais para permitir qualquer corrupção substancial do conteúdo essencial e mesmo da fraseologia específica dos dizeres de Jesus.”5 O Professor Gary Habermas acrescenta: “Os Evangelhos são de bem perto do período que registram, ao passo que as histórias antigas costumam descrever eventos que ocorreram séculos antes. Todavia, os atuais historiadores conseguem com bom êxito derivar os eventos mesmo de tais períodos antigos.”6
6 Em outras palavras, as partes históricas das Escrituras Gregas Cristãs merecem pelo menos tanto crédito quanto as histórias seculares. Por certo, nas poucas décadas decorridas entre os acontecimentos do primitivo cristianismo e o tempo em que foram assentados por escrito, não houve tempo para se desenvolverem mitos e lendas, e para esses serem universalmente aceitos.
Testemunho Ocular
7, 8. (a) Quem vivia ainda enquanto as Escrituras Gregas Cristãs estavam sendo escritas e circuladas? (b) O que devemos concluir disso, em harmonia com o comentário do Professor F. F. Bruce?
7 Isso se dá especialmente em vista do fato de muitos dos relatos falarem à base de testemunho ocular. O escritor do Evangelho de João disse: “Este é o discípulo [o discípulo a quem Jesus amava] que dá testemunho destas coisas e que escreveu estas coisas.” (João 21:24) O escritor do livro de Lucas diz: “[Os fatos] no-los transmitiram os que desde o princípio se tornaram testemunhas oculares e assistentes da mensagem.” (Lucas 1:2) O apóstolo Paulo, falando daqueles que testemunharam a ressurreição de Jesus, disse: “A maioria [deles] permanece até o presente, mas alguns já adormeceram na morte.” — 1 Coríntios 15:6.
8 Nesse respeito, o Professor F. F. Bruce faz uma perspicaz observação: “De modo algum deve ter sido tão fácil, como alguns escritores parecem pensar, inventar palavras e atos de Jesus naqueles primeiros anos, quando ainda existiam tantos dos discípulos Dele, que podiam lembrar-se do que havia e do que não havia acontecido. . . . Os discípulos não podiam arriscar-se a cometer inexatidões (sem se falar em deliberadamente manipular os fatos), que seriam imediatamente expostas por aqueles que teriam muito prazer em fazer isso. Ao contrário, um dos pontos fortes da pregação apostólica original é o apelo confiante para o conhecimento dos ouvintes; eles não somente disseram: ‘Somos testemunhas destas coisas’, mas também: ‘Conforme vós mesmos também sabeis’ (Atos 2:22).”7
É o Texto Digno de Confiança?
9, 10. No que se refere às Escrituras Gregas Cristãs, que certeza podemos ter?
9 Existe a possibilidade de que esses testemunhos oculares fossem registrados com exatidão, porém mais tarde corrompidos? Em outras palavras, introduziram-se mitos e lendas depois de se completar a escrita original? Já vimos que o texto das Escrituras Gregas Cristãs está em melhores condições do que qualquer outra literatura antiga. Kurt e Barbara Aland, peritos do texto grego da Bíblia, alistam quase 5.000 manuscritos que sobreviveram desde a antiguidade até agora, alguns deles já desde o segundo século EC.8 O testemunho geral dessa grande quantidade de evidência é no sentido de que o texto é essencialmente correto. Além disso, há muitas traduções antigas — as mais antigas sendo de cerca do ano 180 EC — que ajudam a provar que o texto é exato.9
10 Portanto, não importa como encaremos isso, podemos ter a certeza de que não se infiltraram lendas e mitos nas Escrituras Gregas Cristãs depois de os escritores originais terem terminado seu trabalho. O texto que temos é substancialmente o mesmo que os escritores originais registraram, e sua exatidão é confirmada pelo fato de que foi aceito pelos cristãos contemporâneos. Então, é possível verificarmos a historicidade da Bíblia por compará-la com outras histórias antigas? Até certo ponto, sim.
A Evidência Documentária
11. Até que ponto apoia a evidência documentária externa os relatos históricos das Escrituras Gregas Cristãs?
11 De fato, no que se refere aos eventos na vida de Jesus e de seus apóstolos, a evidência documentária fora da Bíblia é bastante limitada. Isso é somente lógico, visto que, no primeiro século, os cristãos eram um grupo relativamente pequeno, que não se envolvia na política. Mas a evidência que a história secular de fato provê concorda com o que lemos na Bíblia.
12. O que nos diz Josefo sobre João, o Batizador?
12 Por exemplo, depois de Herodes Ântipas ter sofrido uma esmagadora derrota militar, o historiador judaico Josefo, escrevendo em 93 EC, disse: “A alguns dos judeus parecia que a destruição do exército de Herodes era vingança divina, e certamente uma vingança justa, pelo tratamento que dispensou a João, apelidado de Batista. Porque Herodes mandara matá-lo, embora fosse um homem bom e tivesse exortado os judeus a levar uma vida justa, a praticar a justiça para com o seu próximo e a piedade para com Deus.”10 Josefo confirma assim o relato bíblico de que João, o Batizador, era homem justo, que pregava o arrependimento e foi executado por Herodes. — Mateus 3:1-12; 14:11.
13. Como apoia Josefo a historicidade de Tiago e do próprio Jesus?
13 Josefo menciona também o meio-irmão de Jesus, Tiago, que, segundo nos diz a Bíblia, no começo não seguiu Jesus, mas depois tornou-se um ancião de destaque em Jerusalém. (João 7:3-5; Gálatas 1:18, 19) Ele documenta a prisão de Tiago com as seguintes palavras: “[O sumo sacerdote Ananus] convocou os juízes do Sinédrio e levou perante eles um homem chamado Tiago, irmão de Jesus, que era chamado o Cristo, e certos outros.”11 Escrevendo essas palavras, Josefo confirma adicionalmente que “Jesus, que era chamado o Cristo”, era uma pessoa histórica, real.
14, 15. Que apoio dá Tácito ao registro bíblico?
14 Outros dos antigos escritores também se referem a coisas mencionadas nas Escrituras Gregas. Por exemplo, os Evangelhos nos dizem que a pregação de Jesus na Palestina teve ampla aceitação. Quando ele foi sentenciado à morte, por Pôncio Pilatos, seus seguidores ficaram confusos e desanimados. Pouco depois, esses mesmos discípulos, destemidamente, encheram Jerusalém com a mensagem de que seu Senhor havia sido ressuscitado. Em poucos anos, o cristianismo se espalhou pelo Império Romano. — Mateus 4:25; 26:31; 27:24-26; Atos 2:23, 24, 36; 5:28; 17:6.
15 Testemunho a respeito da veracidade disso é dado pelo historiador romano Tácito, que não era amigo do cristianismo. Escrevendo logo depois do ano 100 EC, ele fala sobre a perseguição cruel que Nero movera aos cristãos e acrescenta: “O autor desse seu nome foi Cristo, que no governo de Tibério foi condenado ao último suplício pelo procurador Pôncio Pilatos. A sua perniciosa superstição, que até ali tinha estado reprimida, já tornava de novo a grassar não só por toda a Judeia, origem desse mal, mas até dentro de Roma.”12
16. Que acontecimento histórico mencionado na Bíblia também é mencionado por Suetônio?
16 Em Atos 18:2, o escritor bíblico se refere ao fato de que “[o imperador romano] Cláudio tinha ordenado que todos os judeus saíssem de Roma”. Suetônio, historiador romano do segundo século, também menciona essa expulsão. Na sua obra O Deificado Cláudio, o historiador diz: “Visto que os judeus causavam constantemente distúrbios às instigações de Cresto, ele [Cláudio] os expulsou de Roma.”13 Se o Cresto aqui mencionado se refere a Jesus Cristo, e se os eventos em Roma acompanhavam o que ocorria em outras cidades, então os distúrbios realmente não eram às instigações de Cristo (quer dizer, os seguidores de Cristo). Antes, eram a reação violenta dos judeus à fiel atividade de pregação dos cristãos.
17. Que fontes estavam disponíveis a Justino, o Mártir, no segundo século, que apoiam o relato bíblico sobre os milagres de Jesus e a morte dele?
17 Justino, o Mártir, em meados do segundo século, escreveu com referência à morte de Jesus: “Que essas coisas realmente aconteceram, podes averiguar dos Atos de Pôncio Pilatos.”14 Além disso, segundo Justino, o Mártir, os mesmos registros mencionavam os milagres de Jesus, a respeito dos quais ele diz: “Que Ele fez essas coisas, podes saber dos Atos de Pôncio Pilatos.”15 É verdade que esses “Atos”, ou registros oficiais, não mais existem. Mas eles evidentemente existiam no segundo século, e Justino, o Mártir, confiantemente desafiava seus leitores a verificá-los para confirmar a veracidade do que ele dizia.
A Evidência Arqueológica
18. Que apoio dá a arqueologia à existência de Pôncio Pilatos?
18 As descobertas arqueológicas também têm ilustrado e confirmado aquilo que lemos nas Escrituras Gregas. Assim, em 1961, o nome de Pôncio Pilatos foi encontrado numa inscrição nas ruínas dum teatro romano em Cesareia.16 Até essa descoberta, havia apenas evidência limitada, à parte da própria Bíblia, da existência desse governante romano.
19, 20. Que personagens bíblicos mencionados por Lucas (em Lucas e em Atos) foram confirmados pela arqueologia?
19 No Evangelho de Lucas, lemos que João, o Batizador, iniciou seu ministério “quando . . . Lisânias era governante distrital de Abilene”. (Lucas 3:1) Alguns duvidaram dessa declaração, por Josefo mencionar um Lisânias que governou Abilene e que morreu em 34 AEC, muito antes do nascimento de João. No entanto, os arqueólogos descobriram uma inscrição em Abilene que menciona outro Lisânias, que era tetrarca (governante distrital) durante o reinado de Tibério, que governou como César em Roma quando João iniciou seu ministério.17 Este facilmente pode ter sido o Lisânias mencionado por Lucas.
20 Lemos em Atos que Paulo e Barnabé foram enviados para fazer uma obra missionária em Chipre e que ali encontraram um procônsul chamado Sérgio Paulo, “homem inteligente”. (Atos 13:7) Em meados do século 19, em escavações feitas em Chipre, descobriu-se uma inscrição datando de 55 EC, a qual menciona esse mesmo homem. Sobre isso diz o arqueólogo G. Ernest Wright: “Essa é a única referência que temos a esse procônsul, fora da Bíblia, e é interessante que Lucas nos forneça seu nome e título corretos.”18
21, 22. Que práticas religiosas, registradas na Bíblia, foram confirmadas pelas descobertas arqueológicas?
21 Durante a estada de Paulo em Atenas, ele disse que havia observado um altar dedicado “A um Deus Desconhecido”. (Atos 17:23) Em outras partes do território do Império Romano descobriram-se altares dedicados em latim a deuses anônimos. Um deles foi encontrado em Pérgamo, com uma inscrição em grego, como seria o caso em Atenas.
22 Mais tarde, enquanto Paulo estava em Éfeso, sofreu oposição violenta por parte dos prateiros, cujo rendimento provinha da fabricação de santuários e imagens da deusa Ártemis. Éfeso era chamada de “guardiã do templo da grande Ártemis”. (Atos 19:35) Em harmonia com isso, descobriram-se diversas estatuetas de Ártemis, de terracota e de mármore, no lugar da antiga Éfeso. No último século, escavaram-se os restos do próprio enorme templo.
O Tom da Verdade
23, 24. (a) Onde encontramos a prova mais forte da veracidade dos escritos das Escrituras Gregas Cristãs? (b) Que qualidade inerente no registro bíblico atesta sua veracidade? Ilustre isso.
23 Portanto, a história e a arqueologia ilustram, e até certo ponto confirmam, os elementos históricos das Escrituras Gregas. Mas, novamente, a prova mais forte da veracidade desses escritos se encontra nos próprios livros. Sua leitura não dá a impressão de mitos. Eles têm o tom da verdade.
24 Em primeiro lugar, são muito francos. Pense no que se registrou a respeito de Pedro. Pormenoriza-se seu embaraçoso fracasso quanto a andar sobre água. Depois, Jesus disse a esse altamente respeitado apóstolo: “Para trás de mim, Satanás!” (Mateus 14:28-31; 16:23) Além disso, depois de protestar vigorosamente que, mesmo que todos os outros abandonassem Jesus, ele é que nunca faria isso, Pedro adormeceu na sua vigília noturna e então negou ao seu Senhor três vezes. — Mateus 26:31-35, 37-45, 73-75.
25. Que fraquezas dos apóstolos foram francamente expostas pelos escritores bíblicos?
25 Mas Pedro não é o único cujas fraquezas foram expostas. O registro franco não encobre as discussões dos apóstolos quanto a quem seria o maior deles. (Mateus 18:1; Marcos 9:34; Lucas 22:24) Tampouco deixa de contar-nos que a mãe dos apóstolos Tiago e João pediu que Jesus desse aos seus filhos as posições mais favorecidas no seu Reino. (Mateus 20:20-23) O “forte acesso de ira” entre Barnabé e Paulo também é documentado fielmente. — Atos 15:36-39.
26. Que pormenor sobre a ressurreição de Jesus só seria incluído se fosse verdadeiro?
26 Digno de nota também é o fato de que o livro de Lucas nos informa que foram “as mulheres, que tinham vindo com ele desde a Galileia”, que primeiro souberam da ressurreição de Jesus. Esse é um pormenor bem incomum na sociedade dominada pelos homens, do primeiro século. De fato, segundo o registro, o que as mulheres disseram ‘parecia tolice’ aos apóstolos. (Lucas 23:55–24:11) Se a história das Escrituras Gregas não for verdade, então deve ter sido inventada. Mas por que inventaria alguém uma história que retratasse personagens tão respeitados de forma nada lisonjeira? Tais pormenores só teriam sido incluídos se fossem verdade.
Jesus — Uma Pessoa Real
27. Como confirma um historiador a existência histórica de Jesus?
27 Muitos têm encarado Jesus, assim como ele é descrito na Bíblia, como ficção inventada. Mas o historiador Michael Grant observa: “Se aplicamos ao Novo Testamento, conforme devemos, o mesmo critério que devemos aplicar a outros escritos antigos que contêm matéria histórica, não podemos rejeitar a existência de Jesus assim como tampouco podemos rejeitar a existência duma multidão de personagens pagãos, cuja realidade como figuras históricas nunca é questionada.”19
28, 29. Por que é significativo que os quatro Evangelhos apresentam um quadro uniforme da personalidade de Jesus?
28 Não somente a existência de Jesus, mas também a sua personalidade se manifesta na Bíblia com um decidido tom de verdade. Não é fácil inventar um personagem incomum e depois apresentar um retrato coerente dele em todo um livro. É quase que impossível quatro escritores diferentes escreverem sobre um mesmo personagem e coerentemente apresentarem o mesmo quadro dele, se esse personagem realmente nunca existiu. O fato de que o Jesus descrito nos quatro Evangelhos é obviamente a mesma pessoa é evidência persuasiva da veracidade dos Evangelhos.
29 Michael Grant cita uma pergunta bem apropriada: “Como é que, em todas as tradições evangélicas, sem exceção, surge um quadro de traços notavelmente firmes de um atraente jovem, que andava livremente no meio de todo tipo de mulheres, inclusive as decididamente mal-afamadas, sem qualquer traço de sentimentalismo, falta de naturalidade, ou melindre, e que, no entanto, em todo momento, mantinha uma integridade simples de caráter?”20 A única resposta é que tal homem realmente existiu e agiu assim como a Bíblia diz.
O Motivo de Alguns Não Crerem
30, 31. Por que é que muitos não aceitam as Escrituras Gregas Cristãs como historicamente exatas, apesar de toda a evidência?
30 Visto que existe evidência irrefutável para se dizer que as Escrituras Gregas são história verdadeira, por que dizem alguns que não são? Por que é que muitos, embora aceitem partes delas como genuínas, não obstante recusam aceitar tudo o que elas contêm? Isso se dá principalmente porque a Bíblia registra coisas em que os modernos intelectuais não querem crer. Por exemplo, ela diz que Jesus tanto cumpriu como proferiu profecias. Diz também que ele realizou milagres e que, após a sua morte, foi ressuscitado.
31 Neste céptico século 20, coisas assim são incríveis. A respeito de milagres, o Professor Ezra P. Gould observa: “Há uma ressalva que alguns dos críticos se sentem justificados a fazer . . . que milagres não acontecem.”21 Alguns aceitam que Jesus tenha feito curas, mas apenas do tipo psicossomático, do ‘domínio da mente sobre a matéria’. Quanto aos outros milagres, a maioria deles os rejeita, quer como invenções, quer como eventos reais que foram deturpados no relato.
32, 33. Como tentaram alguns rejeitar a ocorrência do milagre de Jesus alimentar uma grande multidão, mas por que é isso ilógico?
32 Como exemplo, considere a ocasião em que Jesus alimentou uma multidão de mais de 5.000 com apenas alguns pães e dois peixes. (Mateus 14:14-22) O erudito Heinrich Paulus, do século 19, sugeriu que o que aconteceu mesmo foi o seguinte: Jesus e seus apóstolos se viram acompanhados por uma grande multidão que estava ficando com fome. De modo que ele decidiu dar um bom exemplo aos ricos presentes. Tomou o pouco alimento que ele e seus apóstolos tinham e compartilhou-o com a multidão. Logo, outros que trouxeram alimentos consigo seguiram o exemplo dele e compartilharam o que tinham. Por fim, a multidão inteira foi alimentada.22
33 Se isso foi o que realmente aconteceu, porém, então é uma notável prova do poder dum bom exemplo. Por que se deturparia uma história tão interessante e significativa para fazê-la parecer um milagre sobrenatural? De fato, todos esses esforços para explicar os milagres como não tendo sido algo miraculoso criam mais problemas do que solucionam. E baseiam-se em premissas falsas. Começam por presumir que milagres são impossíveis. Mas por que se daria isso?
34. Se a Bíblia realmente contém profecias exatas e relatos de milagres genuínos, o que isso prova?
34 De acordo com as normas mais razoáveis, tanto as Escrituras Hebraicas como as Gregas são história genuína, no entanto, ambas contêm exemplos de profecias e de milagres. (Veja 2 Reis 4:42-44.) Que dizer, então, se as profecias são mesmo genuínas? E que dizer se os milagres realmente aconteceram? Nesse caso, Deus, de fato, estava por detrás da escrita da Bíblia, e ela realmente é a palavra dele, não a de homem. Num outro capítulo consideraremos a questão das profecias, mas, primeiro examinemos os milagres. É razoável, neste século 20, crer que milagres realmente aconteceram em séculos anteriores?
[Destaque na página 66]
Por que relataria a Bíblia que a ressurreição de Jesus foi primeiro descoberta por mulheres, se isso realmente não tivesse ocorrido?
[Quadro na página 56]
A Moderna Crítica É Falha
Como exemplo da natureza incerta da moderna crítica bíblica, considere as seguintes observações feitas por Raymond E. Brown a respeito do Evangelho de João: “No fim do século passado e nos primeiros anos deste século, a erudição passou por um período de extremo cepticismo a respeito desse Evangelho. João foi datado muito tarde, até mesmo como da segunda metade do 2.º século. Pensava-se que, como produto do mundo helenístico, estava totalmente desprovido de valor histórico e tinha pouca relação com a Palestina de Jesus de Nazaré . . .
“Não há nem um único de tais postulados que não tenha sido afetado por uma série de inesperadas descobertas arqueológicas, documentárias e textuais. Estas descobertas nos levaram a questionar de modo inteligente os conceitos críticos que quase se tornaram ortodoxos e a reconhecer quão frágil era a base em que se apoiava a análise altamente céptica de João. . . .
“A datação do Evangelho foi recuada, para o fim do 1.º século, ou mesmo antes. . . . Talvez o mais estranho de tudo isso seja que alguns eruditos até mesmo se atrevem mais uma vez a sugerir que João, filho de Zebedeu, talvez tivesse mesmo algo que ver com o Evangelho”!3
Por que deve parecer estranho crer que João escreveu o livro que tradicionalmente lhe é atribuído? Só porque não se enquadra nas ideias preconcebidas dos críticos.
[Quadro na página 70]
Apenas Mais um Ataque Contra a Bíblia
Timothy P. Weber escreve: “As conclusões da alta crítica obrigaram muitos leigos a duvidar da sua capacidade de entender alguma coisa [da Bíblia]. . . . A. T. Pierson expressou a frustração de muitos evangélicos quando declarou que, ‘igual ao romanismo, [a alta crítica] praticamente retira a Palavra de Deus do povo comum por presumir que apenas os eruditos podem interpretá-la; ao passo que Roma coloca um sacerdote entre o homem e a Palavra, a crítica coloca um expositor erudito entre o crente e a sua Bíblia’.”23 De modo que a moderna alta crítica fica exposta como apenas mais um ataque contra a Bíblia.
[Foto na página 62]
Este altar em Pérgamo evidentemente estava dedicado “a deuses desconhecidos”.
[Foto na página 63]
Ruínas do antigamente magnífico templo de Ártemis, do qual os efésios tanto se orgulhavam.
[Foto na página 64]
A Bíblia relata honestamente que Pedro negou conhecer Jesus.
[Foto na página 67]
A Bíblia registra candidamente o “forte acesso de ira” entre Paulo e Barnabé.
[Foto na página 68]
A coerência do retrato de Jesus apresentado nos quatro Evangelhos é forte prova da sua genuinidade.
[Foto na página 69]
A maioria dos modernos críticos presume que milagres não acontecem.
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Os milagres — aconteceram realmente?A Bíblia — Palavra de Deus ou de Homem?
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Capítulo 6
Os milagres — aconteceram realmente?
Certo dia, em 31 EC, Jesus e seus discípulos viajavam para Naim, uma cidade na Palestina setentrional. Quando se aproximavam do portão da cidade, veio ao encontro deles um cortejo fúnebre. O falecido era um jovem. A mãe dele era viúva, e este fora seu único filho, de modo que agora ela estava sozinha. Segundo o registro, Jesus “teve pena dela e disse-lhe: ‘Para de chorar.’ Com isso se aproximou e tocou no esquife, e os portadores ficaram parados, e ele disse: ‘Jovem, eu te digo: Levanta-te!’ E o morto sentou-se e principiou a falar.” — Lucas 7:11-15.
1. (Inclua a introdução.) (a) Que milagre realizou Jesus perto da cidade de Naim? (b) Quão importantes são os milagres relatados na Bíblia, mas, creem todos que eles realmente aconteceram?
ESTA é uma história que anima o coração, mas é ela verídica? Muitos acham difícil de crer que algo assim tenha realmente acontecido. Não obstante, milagres são uma parte integrante do registro bíblico. Crer na Bíblia significa acreditar que milagres aconteceram. De fato, todo o padrão da verdade bíblica depende de um milagre muito importante: a ressurreição de Jesus Cristo.
Por Que Alguns Não Creem
2, 3. Qual é um raciocínio usado pelo filósofo escocês David Hume no empenho de provar que milagres não acontecem?
2 Acredita em milagres? Ou acha que, nesta era científica, não é lógico crer em milagres — quer dizer, em eventos extraordinários, que dão evidência de intervenção sobre-humana? Se não acredita, não é o primeiro. Há dois séculos, o filósofo escocês David Hume tinha o mesmo problema. Pode ser que você tenha os mesmos motivos que ele para descrer.
3 As objeções de Hume à ideia de haver milagres incluíam três pontos destacados.1 Primeiro, ele escreve: “Um milagre é uma violação das leis da natureza.” O homem, por tempos imemoráveis, tem contado com leis da natureza. Ele sabe que, se largar um objeto, esse cai; que o sol se levanta toda manhã e se põe toda noitinha, e assim por diante. Sabe instintivamente que os acontecimentos sempre seguem tais padrões familiares. Nada jamais acontecerá em desarmonia com as leis naturais. Essa ‘prova’, achava Hume, “é tão íntegra como qualquer argumento baseado em experiência” contra a possibilidade de haver milagres.
4, 5. Quais são outros dois motivos apresentados por David Hume para rejeitar a possibilidade de haver milagres?
4 Um segundo argumento que ele apresentou era que as pessoas são facilmente enganadas. Alguns querem crer em maravilhas e milagres, especialmente quando têm que ver com religião, e muitos dos chamados milagres mostraram ser farsas. Um terceiro argumento era que os milagres costumam ser relatados em tempos de ignorância. Quanto mais instruídas as pessoas ficam, tanto menos milagres se relatam. Conforme o expressou Hume: “Tais eventos prodigiosos nunca acontecem em nossos dias.” De modo que, segundo ele, isso prova que eles nunca aconteceram.
5 Até o dia de hoje, a maioria dos argumentos contrários aos milagres seguem esses princípios gerais, de modo que examinaremos uma por uma as objeções de Hume.
São Contrários às Leis da Natureza?
6. Por que é ilógico objetar à ideia de haver milagres por argumentar que eles são ‘violações das leis da natureza’?
6 Que dizer da objeção de que os milagres são ‘violações das leis da natureza’, e, portanto, não podem ser verídicos? À primeira vista, essa objeção pode parecer persuasiva, mas analise o que isso realmente quer dizer. Usualmente, um milagre pode ser definido como algo que foge às leis normais da natureza.a É uma ocorrência tão inesperada, que os espectadores ficam convencidos de que presenciaram uma intervenção sobre-humana. Portanto, o verdadeiro sentido da objeção é: ‘Milagres são impossíveis, porque são milagrosos!’ Por que não considerar primeiro a evidência, antes de tirar tal conclusão?
7, 8. (a) Com respeito às leis da natureza, conforme as conhecemos, em que sentido tornaram-se os cientistas mais liberais no seu conceito do que é e do que não é possível? (b) Se cremos em Deus, em que também devemos crer quanto à sua capacidade de fazer coisas incomuns?
7 Acontece que hoje em dia pessoas de certa instrução estão menos dispostas do que David Hume estava para insistir em que as leis familiares da natureza são válidas em toda a parte e em todos os tempos. Os cientistas estão dispostos a especular sobre se, além das três dimensões conhecidas, de comprimento, largura e altura, não há talvez muitas dimensões adicionais no universo.2 Teorizam sobre a existência de buracos negros, enormes estrelas que entraram em colapso gravitacional a ponto de sua densidade ser virtualmente infinita. Diz-se que na vizinhança deles o tecido do espaço está tão distorcido, que o próprio tempo para.3 Os cientistas até mesmo debateram se o tempo, em certas condições, retrocederia em vez de avançar!4
8 Stephen W. Hawking, professor de matemática na Universidade de Cambridge, ao considerar como o Universo começou, disse: “Na teoria clássica da relatividade geral . . . o começo do Universo tem de ser uma singularidade de infinita densidade e de curvatura espaço-tempo. Em tais condições, todas as conhecidas leis da física entrariam em colapso.”5 De modo que os cientistas hodiernos não concordam que, por algo ser contrário às leis normais da natureza, nunca possa acontecer. Em condições incomuns, coisas incomuns podem acontecer. Certamente, se cremos num Deus Todo-Poderoso, devemos admitir que ele tem o poder de causar a ocorrência de eventos incomuns — milagrosos — quando isso se enquadra no seu propósito. — Êxodo 15:6-10; Isaías 40:13, 15.
Que Dizer das Fraudes?
9. É verdade que alguns milagres são fraudes? Queira explicar sua resposta.
9 Nenhuma pessoa razoável negaria que há milagres fraudulentos. Por exemplo, alguns afirmam ter o poder de sarar os doentes por meio da cura milagrosa pela fé. Um médico, o Dr. William A. Nolan, tomou a si o projeto especial de investigar tais curas. Investigou diversas alegações de cura, tanto entre curadores pela fé, evangélicos, nos Estados Unidos, como entre os chamados cirurgiões psíquicos na Ásia. E qual foi o resultado? Só encontrou exemplos de desapontamento e de fraude.6
10. Acha que o fato de que se demonstrou que alguns milagres são fraudes prova que todos os milagres são fraudulentos?
10 Será que, em vista de tais fraudes, nunca ocorreram milagres genuínos? Não necessariamente. Às vezes ficamos sabendo que dinheiro falsificado foi posto em circulação, mas isso não significa que todas as cédulas são falsas. Alguns doentes têm muita fé em charlatães, falsos médicos, e pagam-lhes muito dinheiro. Mas isso não significa que todos os médicos são falsos. Alguns artistas foram peritos em imitar pinturas de “antigos mestres”. Mas isso não significa que todas as pinturas são falsificações. Do mesmo modo, só porque alguns pretensos milagres são claramente fraudes, isso não significa que nunca podem acontecer milagres genuínos.
‘Hoje Não Acontecem Milagres’
11. Qual foi a terceira objeção de David Hume à ideia de haver milagres?
11 A terceira objeção resumiu-se na expressão: “Tais eventos prodigiosos nunca acontecem em nossos dias.” Hume nunca vira um milagre, de modo que se negava a crer que milagres pudessem acontecer. Esse tipo de raciocínio, porém, é incoerente. Qualquer pessoa de reflexão tem de admitir que, antes dos dias desse filósofo escocês, aconteceram “eventos prodigiosos” que não se repetiram durante a vida dele. Que eventos?
12. Que maravilhosos eventos ocorridos no passado não podem ser explicados pelas leis da natureza hoje em operação?
12 Em primeiro lugar, teve início a vida na Terra. Daí, vieram a existir certas formas de vida dotadas da capacidade de estar conscientes. Por fim, apareceu o homem, dotado de sabedoria, de imaginação, da capacidade de amar e da faculdade da consciência. Nenhum cientista pode explicar à base das leis da natureza hoje em operação como essas coisas extraordinárias aconteceram. No entanto, possuímos evidência viva de que ocorreram mesmo.
13, 14. Que coisas, hoje comuns, teriam parecido milagrosas a David Hume?
13 E que dizer de “eventos prodigiosos” que aconteceram desde os dias de David Hume? Suponhamos que pudéssemos viajar para trás no tempo e contar-lhe algo sobre o nosso mundo atual. Imagine tentar explicar que um empresário em Hamburgo pode conversar com alguém a milhares de quilômetros de distância, em Tóquio, sem mesmo elevar a voz; que uma partida de futebol, na Espanha, pode ser vista em toda a Terra ao vivo; que naves muito maiores do que os navios oceânicos dos dias de Hume podem elevar-se da superfície da Terra e levar 500 pessoas pelo ar, por milhares de quilômetros, em questão de horas. Pode imaginar a resposta dele? ‘Impossível! Tais eventos prodigiosos nunca acontecem em nossos dias!’
14 No entanto, tais ‘prodígios’ acontecem realmente em nossos dias. Por quê? Porque o homem, usando princípios científicos, dos quais Hume não tinha nenhuma ideia, aprendeu a construir telefones, televisores e aviões. Então, será que é tão difícil crer que, em certas ocasiões no passado, dum modo que para nós ainda é incompreensível, Deus realizou coisas que achamos milagrosas?
Como Podemos Ter Certeza?
15, 16. Se milagres realmente aconteceram, de que única maneira poderíamos saber deles? Queira ilustrar sua resposta.
15 Naturalmente, apenas dizer que milagres poderiam ter acontecido não significa que aconteceram mesmo. Como podemos ter certeza, neste século 20, de que Deus, lá nos tempos bíblicos, operou genuínos milagres por meio de seus servos na Terra? Que espécie de evidência de tais coisas se esperaria obter? Imagine um primitivo nativo tribal que foi levado do seu lar na selva para visitar uma cidade grande. Ao voltar para casa, como poderia ele descrever à sua gente as maravilhas da civilização? Não conseguiria explicar como um automóvel funciona, nem por que sai música dum rádio portátil. Não poderia construir um computador para provar que tal coisa existe. A única coisa que conseguiria fazer é contar o que viu.
16 Nós nos encontramos na mesma situação dos companheiros de tribo daquele homem. Se Deus realmente operou milagres, a única maneira de sabermos deles é por meio de testemunhas oculares. As testemunhas oculares não podem explicar como os milagres aconteceram, nem podem repeti-los. Podem apenas contar-nos o que viram. Obviamente, testemunhas oculares podem ser enganadas. Também podem facilmente exagerar e desinformar. Então, se havemos de crer no testemunho deles, precisamos saber se essas testemunhas oculares falam a verdade, se são de alta qualidade e se mostraram ter bons motivos.
O Milagre Mais Atestado
17. (a) Qual é o milagre mais atestado mencionado na Bíblia? (b) Quais foram as circunstâncias que levaram à morte de Jesus?
17 O milagre mais atestado mencionado na Bíblia é a ressurreição de Jesus Cristo; portanto, por que não usar esse como teste, por assim dizer? Primeiro, considere os fatos relatados: Jesus foi preso na noite de 14 de nisã — que era a noite duma quinta-feira, segundo o nosso modo moderno de calcular a semana.b Ele compareceu perante os líderes dos judeus, que o acusaram de blasfêmia e decidiram que tinha de morrer. Os líderes judeus levaram Jesus perante o governador romano, Pôncio Pilatos, que cedeu à pressão deles e o entregou para ser executado. Talvez tarde na manhã de sexta-feira — ainda o 14 de nisã no calendário judaico — ele foi pregado numa estaca de tortura, e em poucas horas estava morto. — Marcos 14:43-65; 15:1-39.
18. Segundo a Bíblia, como começou a espalhar-se a notícia da ressurreição de Jesus?
18 Depois de um soldado furar o lado de Jesus com uma lança, para certificar-se de que realmente estava morto, o cadáver de Jesus foi sepultado num túmulo novo. O dia seguinte, 15 de nisã (sexta-feira/sábado), era um dia sabático. Mas na manhã de 16 de nisã — a manhã de domingo — alguns discípulos foram ao túmulo e o encontraram vazio. Logo se espalhou a notícia de que Jesus fora visto vivo. A reação inicial a essas histórias foi exatamente a que seria hoje — descrença. Até mesmo os apóstolos recusaram-se a acreditar. Mas, quando eles mesmos viram o Jesus vivo, não tiveram outra escolha senão aceitar que ele de fato fora ressuscitado dentre os mortos. — João 19:31–20:29; Lucas 24:11.
O Túmulo Vazio
19-21. (a) De acordo com Justino, o Mártir, como reagiram os judeus à pregação dos cristãos sobre a ressurreição de Jesus? (b) Que certeza podemos ter a respeito de como se encontrava o túmulo de Jesus em 16 de nisã?
19 Fora Jesus ressuscitado, ou era tudo apenas uma invenção? Uma coisa que as pessoas daquele tempo provavelmente iriam perguntar é: encontra-se o cadáver de Jesus ainda no túmulo? Os seguidores de Jesus ter-se-iam confrontado com um enorme obstáculo, se seus oponentes pudessem ter apontado para o próprio cadáver ainda no lugar do sepultamento como evidência de que ele não fora ressuscitado. No entanto, não há nenhum registro de que eles fizeram isso. Antes, segundo a Bíblia, deram dinheiro aos soldados designados para guardar o túmulo e disseram-lhes: “Dizei: ‘Seus discípulos vieram de noite e o furtaram, enquanto estávamos dormindo.’” (Mateus 28:11-13) Temos também evidência à parte da Bíblia de que os líderes judaicos agiram assim.
20 Cerca de um século após a morte de Jesus, Justino, o Mártir, escreveu uma obra chamada Diálogo com o Judeu Trífon. Nessa, ele disse: “Vós, [os judeus,] enviastes homens escolhidos e ordenados pelo mundo afora para proclamar que surgira uma heresia ímpia e ilegal da parte de certo Jesus, um enganador galileu, a quem crucificamos, mas que os discípulos dele o furtaram de noite do túmulo, onde fora deitado.”7
21 Ora, Trífon era judeu, e o Diálogo com o Judeu Trífon foi escrito para defender o cristianismo contra o judaísmo. Portanto, é pouco provável que Justino, o Mártir, tivesse dito aquilo — que os judeus acusaram os cristãos de furtar o cadáver de Jesus do túmulo — se os judeus não tivessem feito tal acusação. De outra forma, ele se teria exposto a uma facilmente verificável acusação de estar mentindo. Justino, o Mártir, só teria dito isso se os judeus realmente tivessem enviado tais mensageiros. E eles teriam feito isso apenas se o túmulo realmente estivesse vazio em 16 de nisã de 33 EC, e se não pudessem apontar para o cadáver de Jesus no túmulo como evidência de que ele não fora ressuscitado. Portanto, visto que o túmulo estava vazio, o que havia acontecido? Será que os discípulos furtaram mesmo o cadáver? Ou fora milagrosamente removido como evidência de que Jesus realmente fora ressuscitado?
A Conclusão Tirada por Lucas, o Médico
22, 23. Quem era um homem instruído do primeiro século que investigou a ressurreição de Jesus, e que fontes de informações tinha à disposição?
22 Um homem bem instruído do primeiro século, que examinou cuidadosamente a evidência, foi Lucas, o médico. (Colossenses 4:14) Lucas escreveu dois livros que agora fazem parte da Bíblia: um era um Evangelho, ou história do ministério de Jesus, e o outro, chamado de Atos dos Apóstolos, era uma história da expansão do cristianismo nos anos após a morte de Jesus.
23 Na introdução do seu Evangelho, Lucas cita muitas evidências que ele tinha à sua disposição, mas que hoje não temos mais. Ele fala de documentos escritos sobre a vida de Jesus, que havia consultado. Menciona também que falara com testemunhas oculares da vida, da morte e da ressurreição de Jesus. Daí, ele diz: “[Tenho] pesquisado todas as coisas com exatidão, desde o início.” (Lucas 1:1-3) Evidentemente, a pesquisa de Lucas foi cabal. Era ele historiador competente?
24, 25. Como encaram muitos as qualificações de Lucas como historiador?
24 Muitos têm confirmado que ele era. Lá em 1913, Sir William Ramsay comentou numa conferência a historicidade das obras de Lucas. A que conclusão chegou? “Lucas é historiador de primeira categoria; não somente suas declarações de fatos são fidedignas; possui verdadeiro senso histórico.”8 Pesquisadores mais recentes chegaram à mesma conclusão. The Living Word Commentary (O Comentário Sobre a Palavra Viva), ao introduzir seus volumes sobre Lucas, diz: “Lucas era tanto historiador (e ainda um bem exato) como teólogo.”
25 O Dr. David Gooding, ex-professor do Grego do Antigo Testamento na Irlanda do Norte, declara que Lucas era “um antigo historiador na tradição dos historiadores do Antigo Testamento e na tradição de Tucídides [classificado como um dos maiores historiadores do mundo antigo]. Igual a eles, deve ter tido muito cuidado em investigar suas fontes, em selecionar sua matéria e em dispor essa matéria. . . . Tucídides combinou esse método com uma paixão pela exatidão histórica: não há motivo para se pensar que Lucas fizesse menos.”9
26. (a) Que conclusão tirou Lucas sobre a ressurreição de Jesus? (b) O que talvez lhe fortalecesse essa conclusão?
26 Que conclusão tirou esse altamente qualificado homem sobre o motivo de o túmulo de Jesus estar vazio em 16 de nisã? Tanto no seu Evangelho como no livro de Atos, Lucas relata como fato que Jesus fora ressuscitado dentre os mortos. (Lucas 24:1-52; Atos 1:3) Não tinha nenhuma dúvida sobre isso. Talvez a sua crença no milagre da ressurreição fosse fortalecida pelas suas próprias experiências. Embora, pelo visto, ele não fosse testemunha ocular da ressurreição, relata ter presenciado milagres realizados pelo apóstolo Paulo. — Atos 20:7-12; 28:8, 9.
Eles Viram o Ressuscitado Jesus
27. Quem são alguns dos que afirmaram ter visto o ressuscitado Jesus?
27 Dois dos Evangelhos são tradicionalmente atribuídos a homens que conheceram Jesus, que o viram morrer e que afirmaram tê-lo visto realmente após a sua ressurreição. São o apóstolo Mateus, ex-cobrador de impostos, e João, amado apóstolo de Jesus. Outro escritor bíblico, o apóstolo Paulo, também afirmou ter visto o ressuscitado Cristo. Além disso, Paulo alista por nome outros que viram Jesus vivo depois de ter morrido, e diz que, numa ocasião, Jesus apareceu “a mais de quinhentos irmãos”. — 1 Coríntios 15:3-8.
28. Que efeito teve a ressurreição de Jesus sobre Pedro?
28 Um dos mencionados por Paulo como testemunha ocular é Tiago, meio-irmão carnal de Jesus, que deve ter conhecido Jesus desde a infância. Outro é o apóstolo Pedro; o historiador Lucas relata que ele deu destemido testemunho a respeito da ressurreição de Jesus apenas poucas semanas depois da morte deste. (Atos 2:23, 24) Duas cartas da Bíblia são tradicionalmente atribuídas a Pedro, e, na primeira delas, Pedro mostra que sua crença na ressurreição de Jesus ainda lhe dava forte motivação, mesmo muitos anos depois de ter acontecido. Ele escreveu: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, pois, segundo a sua grande misericórdia, ele nos deu um novo nascimento para uma esperança viva por intermédio da ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos.” — 1 Pedro 1:3.
29. Embora não possamos falar com testemunhas oculares da ressurreição, não obstante, que impressionante evidência temos?
29 Portanto, do mesmo modo que Lucas podia falar com aqueles que afirmavam ter visto Jesus após a sua morte e ter falado com ele, também nós podemos ler as palavras que alguns deles escreveram. E podemos julgar por nós mesmos se eles foram enganados, se estavam tentando enganar-nos ou se realmente viram o ressuscitado Cristo. Francamente, não há meio de terem sido enganados. Diversos deles haviam sido amigos íntimos de Jesus até a morte dele. Alguns deles presenciaram sua agonia na estaca de tortura. Viram o sangue e a água sair da ferida causada pela lança do soldado. O soldado sabia, e eles também, que Jesus indisputavelmente estava morto. Dizem que mais tarde viram Jesus vivo e que realmente falaram com ele. Não, eles não podiam ter sido enganados. Então, será que tentaram enganar-nos por dizer que Jesus fora ressuscitado? — João 19:32-35; 21:4, 15-24.
30. Por que era impossível que as primitivas testemunhas oculares da ressurreição de Jesus mentissem?
30 Para responder a isso, só precisamos perguntar-nos: criam eles mesmos no que diziam? Sim, sem qualquer dúvida. Para os cristãos, inclusive os que afirmavam ser testemunhas oculares, a ressurreição de Jesus era toda a base para a sua crença. O apóstolo Paulo disse: “Se Cristo não foi levantado, a nossa pregação certamente é vã e a nossa fé é vã . . . Se Cristo não foi levantado, a vossa fé é inútil.” (1 Coríntios 15:14, 17) São essas as palavras dum homem que mente quando diz que viu o ressuscitado Cristo?
31, 32. Que sacrifícios fizeram os primitivos cristãos, e por que é isso uma forte evidência de que esses cristãos falaram a verdade quando disseram que Jesus fora ressuscitado?
31 Pense no que significava ser cristão naqueles dias. Não se ganhava prestígio, nem poder ou riqueza com isso. Bem ao contrário. Muitos dos primitivos cristãos ‘suportaram alegremente o saque de seus bens’ por causa da sua fé. (Hebreus 10:34) O cristianismo exigia uma vida de sacrifícios e de perseguição, que em muitos casos terminava no martírio por meio duma morte vergonhosa e dolorosa.
32 Alguns cristãos procediam de família próspera, tais como o apóstolo João, cujo pai evidentemente tinha um bem-sucedido negócio de pesca na Galileia. Muitos tinham boas perspectivas quanto ao futuro, tais como Paulo tinha, o qual, na época em que aceitou o cristianismo, fora estudante do famoso rabino Gamaliel e passara a distinguir-se aos olhos dos governantes judeus. (Atos 9:1, 2; 22:3; Gálatas 1:14) No entanto, todos viraram as costas ao que este mundo oferecia, a fim de divulgar uma mensagem baseada no fato de Jesus ter sido ressuscitado dentre os mortos. (Colossenses 1:23, 28) Por que fariam tais sacrifícios para sofrer por uma causa que soubessem basear-se numa mentira? A resposta é que não os fariam. Estavam dispostos a sofrer e a morrer por uma causa que sabiam basear-se em verdade.
Milagres Acontecem Mesmo
33, 34. Visto que a ressurreição realmente aconteceu, o que podemos dizer dos outros milagres da Bíblia?
33 De fato, a evidência testemunhal é absolutamente convincente. Jesus foi realmente ressuscitado dentre os mortos em 16 de nisã de 33 EC. E visto que essa ressurreição aconteceu mesmo, todos os outros milagres da Bíblia também são possíveis — milagres para os quais também temos sólida confirmação de testemunhas oculares. O mesmo Poder que ressuscitou Jesus dentre os mortos também habilitou Jesus a ressuscitar o filho da viúva de Naim. Ele habilitou também Jesus a realizar milagres menores — mas ainda assim maravilhosos — de cura. Foi Ele quem estava por trás da alimentação milagrosa da multidão, e quem habilitou também Jesus a andar sobre a água. — Lucas 7:11-15; Mateus 11:4-6; 14:14-21, 23-31.
34 Assim, falar a Bíblia de milagres não é motivo de duvidar da veracidade dela. Antes, o fato de que milagres aconteceram mesmo nos tempos bíblicos é uma poderosa prova de que a Bíblia realmente é a Palavra de Deus. Mas outra acusação é levantada contra a Bíblia. Muitos dizem que ela se contradiz e que, por isso, não pode ser a Palavra de Deus. É isso verdade?
[Nota(s) de rodapé]
a Dizemos “usualmente”, porque alguns milagres mencionados na Bíblia podem ter envolvido fenômenos naturais, tais como terremotos ou deslizamentos de terra. No entanto, ainda assim são considerados milagres, porque aconteceram exatamente na hora em que eram necessários, e assim, evidentemente, sob a direção de Deus. — Josué 3:15, 16; 6:20.
b O dia judaico começava por volta das 18 horas, à noitinha, e continuava até as 18 horas do dia seguinte.
[Destaque na página 81]
Os inimigos do cristianismo disseram que os discípulos furtaram o cadáver de Jesus. Se esse fosse o caso, por que estariam os cristãos dispostos a morrer por uma fé baseada na ressurreição dele?
[Quadro na página 85]
Por Que Não Ocorrem Hoje Milagres?
Às vezes se faz a pergunta: ‘Por que não ocorrem hoje milagres do tipo bíblico?’ A resposta é que os milagres cumpriram sua finalidade lá naquele tempo, mas Deus espera que hoje vivamos pela fé. — Habacuque 2:2-4; Hebreus 10:37-39.
Nos dias de Moisés, ocorreram milagres para confirmar as credenciais de Moisés. Mostraram que Jeová o estava usando e também que o pacto da Lei era deveras de origem divina, e que os israelitas, daí em diante, eram o povo escolhido de Deus. — Êxodo 4:1-9, 30, 31; Deuteronômio 4:33, 34.
No primeiro século, os milagres ajudaram a confirmar as credenciais de Jesus e, depois dele, da jovem congregação cristã. Ajudaram a demonstrar que Jesus era o prometido Messias, que depois da morte dele o Israel carnal foi substituído pela congregação cristã como povo especial de Deus, e, assim, que a Lei de Moisés não era mais obrigatória. — Atos 19:11-20; Hebreus 2:3, 4.
Após os dias dos apóstolos, passou o tempo dos milagres. O apóstolo Paulo explicou: “Quer haja dons de profetizar, serão eliminados; quer haja línguas, cessarão; quer haja conhecimento, será eliminado. Pois temos conhecimento parcial e profetizamos parcialmente; mas, quando chegar o que é completo, será eliminado o que é parcial.” — 1 Coríntios 13:8-10.
Hoje em dia, temos a Bíblia completa, a qual inclui todas as revelações e conselhos de Deus. Temos o cumprimento de profecias, e temos um entendimento adiantado dos propósitos de Deus. Portanto, não há mais necessidade de milagres. Todavia, o mesmo espírito de Deus, que tornou possível os milagres, ainda existe e produz resultados que fornecem uma igualmente forte evidência do poder divino. Veremos mais sobre isso num capítulo futuro.
[Foto na página 75]
Muitos encaram a fidedignidade das leis da natureza, tais como o fato de o sol se levantar toda manhã, como prova de que milagres não podem acontecer.
[Foto na página 77]
A criação da Terra como lar para coisas vivas era um ‘evento prodigioso’ que aconteceu apenas uma vez.
[Fotos na página 78]
Como explicaria as maravilhas da ciência moderna a alguém que viveu 200 anos atrás?
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É a Bíblia contraditória?A Bíblia — Palavra de Deus ou de Homem?
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Capítulo 7
É a Bíblia contraditória?
Muitas vezes se levanta contra a Bíblia a acusação de ela ser contraditória. Usualmente, aqueles que fazem tal acusação não leram a Bíblia; apenas repetem o que ouviram falar. Alguns, porém, encontraram o que parecem ser genuínas contradições, e isso os perturba.
1, 2. (Inclua a introdução.) (a) Que acusação é muitas vezes levantada contra a Bíblia? (b) De que devemos lembrar-nos ao comparar diversas passagens bíblicas? (c) Quais são alguns motivos de às vezes haver uma diferença no modo em que dois escritores bíblicos relatam o mesmo evento?
SE A BÍBLIA realmente é a Palavra de Deus, ela deve ser harmoniosa, não contraditória. Então, por que parecem algumas passagens dela contradizer outras? Para responder a isso, temos de lembrar-nos de que, embora a Bíblia seja a Palavra de Deus, ela foi escrita por diversos homens durante um período de vários séculos. Esses escritores tinham formações, estilos de escrita e dons diferentes, e todas essas diferenças se refletem na escrita.
2 Além disso, quando dois ou mais escritores tratam do mesmo evento, um deles talvez inclua pormenores que o outro omite. Outrossim, escritores diferentes apresentam a matéria de modo diverso. Um deles talvez a escreva em ordem cronológica, ao passo que outro talvez siga um arranjo diferente. Neste capítulo, apresentaremos algumas das supostas contradições na Bíblia e consideraremos como podem ser conciliadas, tomando em conta as considerações acima mencionadas.
Testemunhas Independentes
3, 4. Quanto ao oficial do exército, cujo servo estava doente, que aparente discrepância existe entre o relato de Mateus e o de Lucas, e como podem esses relatos ser conciliados?
3 Algumas “contradições” surgem quando temos dois ou mais relatos sobre o mesmo incidente. Por exemplo, em Mateus 8:5 lemos que, quando Jesus entrou em Cafarnaum, “veio a ele um oficial do exército, suplicando-lhe” que Jesus curasse o servo dele. Mas em Lucas 7:3 lemos que esse oficial do exército “enviou-lhe anciãos dos judeus para lhe pedirem [i.e., a Jesus] que viesse e fizesse seu escravo passar por isso a salvo”. Foi o oficial do exército quem falou com Jesus ou enviou ele anciãos?
4 A resposta, obviamente, é que o homem enviou anciãos dos judeus. Então, por que diz Mateus que o próprio homem suplicou a Jesus? Porque, na realidade, o homem pediu isso a Jesus por meio dos anciãos judeus. Os anciãos serviram de porta-vozes dele.
5. Por que diz a Bíblia que Salomão construiu o templo, quando a obra propriamente dita foi claramente feita por outros?
5 Para ilustrar isso, lemos em 2 Crônicas 3:1: “Por fim, Salomão principiou a construir a casa de Jeová em Jerusalém.” Mais adiante, lemos: “Assim Salomão acabou a casa de Jeová.” (2 Crônicas 7:11) Será que Salomão pessoalmente construiu o templo do começo ao fim? Claro que não. A construção propriamente dita foi feita por uma multidão de artífices e trabalhadores. Mas Salomão foi o organizador da obra, o responsável por ela. Por isso, a Bíblia diz que foi ele quem construiu a casa. Do mesmo modo, o Evangelho de Mateus nos diz que o comandante militar se dirigiu a Jesus. Mas Lucas acrescenta o pormenor de que ele se dirigiu a Jesus por meio dos anciãos judeus.
6, 7. Como podemos conciliar os dois relatos evangélicos diferentes sobre o pedido dos filhos de Zebedeu?
6 O seguinte é um exemplo similar. Em Mateus 20:20, 21, lemos: “Aproximou-se [de Jesus] a mãe dos filhos de Zebedeu com os seus filhos, prestando homenagem e pedindo-lhe algo.” Ela pediu que seus filhos obtivessem a posição mais favorecida quando Jesus entrasse no seu Reino. No relato de Marcos sobre esse mesmo evento lemos: “Tiago e João, os dois filhos de Zebedeu, aproximaram-se [de Jesus] e disseram-lhe: ‘Instrutor, queremos que faças para nós o que for que te peçamos.’” (Marcos 10:35-37) Foram os dois filhos de Zebedeu, ou foi a mãe deles, quem fez o pedido a Jesus?
7 É evidente que foram os dois filhos de Zebedeu que fizeram o pedido, conforme Marcos declara. Mas fizeram-no por meio da sua mãe, conforme Mateus diz. Ela era porta-voz deles. Isso é apoiado pelo relato de Mateus, de que, quando os outros apóstolos souberam o que a mãe dos filhos de Zebedeu tinha feito, ficaram indignados, não com a mãe, mas “com os dois irmãos”. — Mateus 20:24.
8. Como é possível que dois relatos diferentes sobre o mesmo acontecimento difiram um do outro e que ambos ainda assim sejam verídicos?
8 Escutou alguma vez duas pessoas descreverem um acontecimento presenciado por ambas? Em caso afirmativo, notou que cada pessoa enfatizou os pormenores que mais a impressionaram? Uma delas talvez deixasse fora coisas que a outra incluiu. Ambas, porém, falaram a verdade. O mesmo se dá com os quatro relatos evangélicos sobre o ministério de Jesus, assim como se dá com outros eventos históricos relatados por mais de um escritor bíblico. Cada escritor escreveu informações exatas, mesmo que um relatasse pormenores que outro omitiu. Por se considerarem todos os relatos, pode-se obter um entendimento mais pleno do que aconteceu. Essas variações provam que os relatos bíblicos são independentes. E sua harmonia básica prova que são verídicos.
Leia o Contexto
9, 10. Como nos ajuda o contexto a entender onde Caim obteve sua esposa?
9 Muitas vezes, aparentes incoerências podem ser solucionadas por se examinar o contexto. Por exemplo, considere o muitas vezes levantado problema da esposa de Caim. Lemos em Gênesis 4:1, 2: “A seu tempo, [Eva] deu à luz Caim e disse: ‘Produzi um homem com o auxílio de Jeová.’ Mais tarde deu novamente à luz, seu irmão Abel.” Conforme é bem conhecido, Caim matou Abel; mas, depois, lemos sobre Caim ter uma esposa e filhos. (Gênesis 4:17) Se Adão e Eva tiveram apenas dois filhos, onde encontrou Caim a sua esposa?
10 A solução está no fato de que Adão e Eva tiveram mais do que dois filhos. De acordo com o contexto, tiveram uma grande família. Em Gênesis 5:3 lemos que Adão tornou-se pai de outro filho, chamado Sete, e então, no versículo seguinte, lemos: “Ele se tornou pai de filhos e de filhas.” (Gênesis 5:4) De modo que Caim pode ter se casado com uma das suas irmãs ou mesmo com uma das suas sobrinhas. Naquele estágio inicial da história humana, quando a humanidade estava ainda tão perto da perfeição, tal casamento evidentemente não apresentava os riscos para os filhos da união como apresentaria hoje em dia.
11. Que suposta discordância entre Tiago e o apóstolo Paulo é indicada por alguns?
11 Considerarmos o contexto ajuda-nos também a entender o que alguns afirmam ser uma discordância entre o apóstolo Paulo e Tiago. Em Efésios 2:8, 9, Paulo diz que os cristãos são salvos pela fé, não por obras. Ele diz: “Fostes salvos por intermédio da fé . . . não se deve a obras.” Tiago, porém, insiste na importância das obras. Ele escreve: “Assim como o corpo sem espírito está morto, assim também a fé sem obras está morta.” (Tiago 2:26) Como essas duas declarações podem ser conciliadas?
12, 13. Como complementam as palavras de Tiago aquelas do apóstolo Paulo, em vez de contradizê-las?
12 Ao considerar o contexto das palavras de Paulo, verificamos que uma declaração complementa a outra. O apóstolo Paulo refere-se aos esforços dos judeus de guardar a Lei mosaica. Eles acreditavam que, se guardassem a Lei em todos os seus pormenores, seriam justos. Paulo salientou que isso era impossível. Nunca podemos tornar-nos justos — e assim merecer a salvação — por nossas próprias obras, porque somos inerentemente pecaminosos. Podemos ser salvos apenas pela fé no sacrifício resgatador de Jesus. — Romanos 5:18.
13 Tiago, porém, acrescenta o ponto vital de que a fé, por si só, não tem valor, se não é apoiada por obras. Quem afirma ter fé em Jesus deve provar isso por aquilo que faz. A fé inativa é uma fé morta, e não resulta em salvação.
14. Em que passagens mostra Paulo que estava de pleno acordo com o princípio de que a fé viva tem de ser demonstrada por obras?
14 O apóstolo Paulo estava de pleno acordo com isso, e ele frequentemente menciona as espécies de obras em que os cristãos devem empenhar-se para demonstrar sua fé. Por exemplo, ele escreveu aos romanos: “Com o coração se exerce fé para a justiça, mas com a boca se faz declaração pública para a salvação.” Fazermos uma “declaração pública” — compartilhar nossa fé com outros — é vital para a salvação. (Romanos 10:10; veja também 1 Coríntios 15:58; Efésios 5:15, 21-33; 6:15; 1 Timóteo 4:16; 2 Timóteo 4:5; Hebreus 10:23-25.) No entanto, nenhuma obra que o cristão possa fazer, e certamente nenhum esforço de cumprir a Lei de Moisés, lhe granjeará o direito de ter vida eterna. Essa é “o dom dado por Deus” aos que exercem fé. — Romanos 6:23; João 3:16.
Pontos de Vista Diferentes
15, 16. Como podiam tanto Moisés como Josué estar certos quando um disse que o leste do Jordão era “deste lado” do rio, ao passo que o outro disse que era do “outro lado”?
15 Às vezes, os escritores bíblicos escreveram de pontos de vista diferentes sobre o mesmo acontecimento, ou apresentaram seus relatos de modos diferentes. Quando essas diferenças são tomadas em consideração, é fácil solucionar outras aparentes contradições. Um exemplo disso encontra-se em Números 35:14, onde Moisés fala a respeito do território a leste do Jordão como “deste lado do Jordão”. Josué, porém, falando sobre a terra a leste do Jordão, chamou-a de o “outro lado do Jordão”. (Josué 22:4) O que é certo?
16 Na realidade, ambos estão certos. Segundo o relato em Números, os israelitas ainda não haviam atravessado o rio Jordão para a Terra da Promessa, de modo que o leste do Jordão era ‘este lado’. Mas Josué já atravessara o Jordão. Ele se encontrava então literalmente ao oeste do rio, na terra de Canaã. De modo que o leste do Jordão, para ele, era o “outro lado”.
17. (a) Que suposta incoerência é indicada por alguns nos primeiros dois capítulos de Gênesis? (b) Qual é a razão básica da suposta discrepância?
17 Além disso, a maneira em que uma narrativa é composta pode levar a uma aparente contradição. Em Gênesis 1:24-26, a Bíblia indica que os animais foram criados antes do homem. Mas Gênesis 2:7, 19, 20 parece dizer que o homem foi criado antes dos animais. Por que essa discrepância? Porque os dois relatos da criação consideram-na de dois pontos de vista diferentes. O primeiro descreve a criação dos céus e da terra, e de tudo o que há neles. (Gênesis 1:1–2:4) O segundo concentra-se na criação da raça humana e na sua queda no pecado. — Gênesis 2:5–4:26.
18. Como podemos conciliar a aparente discrepância entre os dois relatos da criação, nos primeiros capítulos de Gênesis?
18 O primeiro relato é composto cronologicamente, dividido em seis “dias” consecutivos. O segundo se acha escrito em ordem da importância dos assuntos. Depois de um curto prólogo, passa diretamente, de forma lógica, para a criação de Adão, visto que ele e sua família são o assunto daquilo que segue. (Gênesis 2:7) Outras informações são então acrescentadas conforme necessárias. Ficamos sabendo que Adão, depois da sua criação, devia viver num jardim no Éden. De modo que se menciona então o estabelecimento do jardim do Éden. (Gênesis 2:8, 9, 15) Jeová mandou que Adão desse nome a “todo animal selvático do campo e toda criatura voadora dos céus”. Era então tempo de mencionar que “Jeová Deus estava formando do solo” todas essas criaturas, embora a criação delas começasse muito antes de Adão aparecer no cenário. — Gênesis 2:19; 1:20, 24, 26.
Leia o Relato com Cuidado
19. Que aparente confusão existe no relato bíblico sobre a tomada de Jerusalém?
19 Às vezes, para resolver aparentes contradições, só é preciso ler o relato com cuidado e raciocinar sobre as informações providas. Isso se dá quando consideramos a conquista de Jerusalém pelos israelitas. Jerusalém estava alistada como parte da herança de Benjamim, mas lemos que a tribo de Benjamim não conseguiu conquistá-la. (Josué 18:28; Juízes 1:21) Lemos também que Judá não conseguiu conquistar Jerusalém — como se fizesse parte da herança dessa tribo. Por fim, Judá capturou Jerusalém, incendiando-a. (Josué 15:63; Juízes 1:8) Todavia, registra-se também que Davi, centenas de anos depois, conquistou Jerusalém. — 2 Samuel 5:5-9.
20, 21. Quando se examinam cuidadosamente todos os pormenores relevantes, qual a história que emerge sobre os hebreus tomarem a cidade de Jerusalém?
20 À primeira vista, tudo isso pode parecer confuso, mas realmente não há contradições. De fato, a fronteira entre a herança de Benjamim e a de Judá estendia-se ao longo do vale de Hinom, atravessando a antiga cidade de Jerusalém. A parte que mais tarde passou a ser chamada de Cidade de Davi estava realmente no território de Benjamim, assim como Josué 18:28 diz. Mas é provável que a cidade jebuseia de Jerusalém se estendesse para o outro lado do vale de Hinom e assim passasse para o território de Judá, de modo que também Judá tinha de guerrear contra os seus habitantes cananeus.
21 Benjamim não conseguiu tomar a cidade. Em certa ocasião, Judá tomou Jerusalém e incendiou-a. (Juízes 1:8, 9) Mas as forças de Judá evidentemente passaram adiante, e alguns dos habitantes originais recuperaram a posse da cidade. Mais tarde, constituíam um bolsão de resistência que nem Judá nem Benjamim conseguiram remover. De modo que os jebuseus continuaram em Jerusalém até Davi conquistar a cidade centenas de anos mais tarde.
22, 23. Quem carregou a estaca de tortura de Jesus ao lugar de execução?
22 Encontramos um segundo exemplo nos Evangelhos. Lemos no Evangelho de João a respeito de Jesus ser levado para ser morto: “Levando ele mesmo a estaca de tortura, saiu.” (João 19:17) No entanto, lemos em Lucas: “Então, quando o levaram embora, pegaram Simão, certo nativo de Cirene, que vinha do campo, e puseram nele a estaca de tortura para a levar atrás de Jesus.” (Lucas 23:26) Foi Jesus quem carregou o instrumento da sua morte ou foi Simão quem o carregou para ele?
23 No começo, Jesus evidentemente carregou a sua própria estaca de tortura, assim como João indica. Mais tarde, porém, conforme atestam Mateus, Marcos e Lucas, Simão de Cirene foi recrutado para carregá-la por ele o restante do caminho até o lugar da execução.
Prova de Independência
24. Por que não nos deve surpreender encontrar algumas aparentes incoerências na Bíblia, mas o que não devemos concluir disso?
24 É verdade que há na Bíblia algumas aparentes incoerências difíceis de serem conciliadas. Mas não devemos presumir que se trata definitivamente de contradições. Muitas vezes se trata apenas dum caso de falta de informações completas. A Bíblia fornece suficiente conhecimento para satisfazer nossas necessidades espirituais. Mas se ela nos fornecesse todos os pormenores sobre cada evento mencionado, ela seria uma enorme biblioteca, difícil de manejar, em vez de ser o livro jeitoso, fácil de carregar, que temos hoje.
25. O que diz João a respeito do registro sobre o ministério de Jesus, e como nos ajuda isso a entender por que a Bíblia não fornece todos os pormenores a respeito de cada evento?
25 Falando sobre o ministério de Jesus, o apóstolo João escreveu com justificável exagero: “Há, de fato, também muitas outras coisas que Jesus fez, as quais, se alguma vez fossem escritas em todos os pormenores, suponho que o próprio mundo não poderia conter os rolos escritos.” (João 21:25) Mais impossível ainda seria registrar todos os pormenores da longa história do povo de Deus, desde os patriarcas até a congregação cristã do primeiro século!
26. A Bíblia contém informações suficientes para termos certeza de que fato vital?
26 Na realidade, a Bíblia é um milagre de condensação. Contém informações suficientes para habilitar-nos a reconhecê-la como mais do que mera obra humana. Quaisquer variações que contém provam que os escritores deveras eram testemunhas independentes. Por outro lado, a notável unidade da Bíblia — que consideraremos em mais detalhes num capítulo mais adiante — demonstra sem qualquer dúvida a sua origem divina. Ela é a palavra de Deus, não de homem.
[Destaque na página 89]
As aparentes discrepâncias na Bíblia provam que os escritores eram realmente testemunhas independentes.
[Destaque na página 91]
A consideração do contexto frequentemente ajuda a resolver supostas contradições.
[Quadro na página 93]
“Discrepâncias” Não São Necessariamente Contradições
Kenneth S. Kantzer, teólogo, certa vez ilustrou como dois relatos sobre o mesmo evento podem parecer contraditórios e ainda assim ser verídicos. Ele escreveu: “Há algum tempo, a mãe de um querido amigo nosso foi morta. Soubemos da sua morte primeiro através de um amigo mútuo de confiança, que relatou que a mãe de nosso amigo estivera de pé na esquina da rua à espera dum ônibus, que ela foi atingida por outro ônibus que passava, foi ferida fatalmente e morreu alguns minutos depois.”
Pouco depois, ele ouviu um relato bem diferente. Ele diz: “Soubemos do neto da falecida que ela fora vítima duma colisão, foi jogada fora do carro em que viajava e teve morte instantânea. O rapaz estava bastante seguro desses fatos.
“Muito mais tarde . . . tentamos harmonizar isso. Soubemos que a avó estava esperando um ônibus, foi atingida por outro ônibus e foi gravemente ferida. Ela fora levada às pressas ao hospital por um carro que passava, mas, na pressa, o carro em que ela estava sendo transportada ao hospital colidiu com outro carro. Ela foi jogada fora do carro e morreu instantaneamente.”
Sim, dois relatos sobre o mesmo evento podem ser verídicos, embora pareçam discordar entre si. Isso se dá às vezes com a Bíblia. Testemunhas independentes podem descrever pormenores diferentes do mesmo evento. Em vez de ser contraditório, porém, o que escrevem é complementar, e se levarmos em conta todos os relatos, obteremos um entendimento melhor do que aconteceu.
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