Ajuda ao Entendimento da Bíblia
[Matéria condensada de Aid to Bible Understanding, Edição de 1971.]
TEMPOS DESIGNADOS DAS NAÇÕES. [Continuação]
Visão-sonho da árvore, em Daniel, capítulo 4
Novamente, no livro de Daniel, encontramos íntimo paralelo à utilização, por parte de Jesus, da palavra “tempos”, com respeito às “nações” ou potências gentias. E, novamente, é a Nabucodonosor, o destronador de Zedequias, descendente de Davi, que foi dada outra visão, interpretada por Daniel, relacionada a realeza divinamente designada. A visão simbólica era duma imensa árvore que um anjo do céu mandou abater. Seu toco foi então cingido com uma banda de ferro e cobre, e tinha de permanecer assim entre a relva do campo até se passarem “sete tempos”. “Mude-se-lhe o coração daquele do gênero humano e dê-se-lhe um coração de animal, e passem sobre ele sete tempos. . . . para que os viventes saibam que o Altíssimo é Governante no reino da humanidade e que ele o dá a quem quiser, e estabelece nele até mesmo o mais humilde dos homens.” — Queira ler a visão completa em Daniel 4:10-17.
Cumprimento relacionado aos “tempos designados das nações”
A visão definitivamente teve cumprimento no próprio Nabucodonosor. (Veja Daniel 4:31-35.) Por conseguinte, alguns a encaram como tendo aplicação profética direta apenas a ele, e vêem nesta visão simplesmente a apresentação da verdade eterna da ‘supremacia de Deus sobre todos os demais poderes, quer humanos quer supostamente divinos’. Reconhecem a aplicação dessa verdade ou princípio além do próprio caso de Nabucodonosor, mas não o consideram como se relacionando a qualquer período de tempo ou cronograma divino específico. Todavia, um exame de todo o livro de Daniel revela que o elemento tempo é destacado em toda a parte, nas visões e nas profecias que apresenta, e que se demonstra que as potências e os eventos mundiais descritos em cada uma de tais visões não são algo isolado, nem que ocorre ao acaso, ficando ambíguo o elemento tempo, mas que, ao invés, são algo que se ajusta ao ambiente histórico ou a seqüência cronológica. (Compare com Daniel 2:36-45; 7:3-12, 17-26; 8:3-14, 20-25; 9:2, 24-27; 11:2-45; 12:7-13.) Adicionalmente, o livro repetidas vezes aponta a conclusão que constitui o tema de suas profecias: o estabelecimento dum Reino universal e eterno de Deus, exercido mediante a regência do “filho do homem”. (Dan. 2:35, 44, 45; 4:17, 25, 32; 7:9-14, 18, 22, 27; 12:1) O livro também se distingue nas Escrituras Hebraicas por suas referências ao “tempo do fim”. — Dan. 8:19; 11:35, 40; 12:4, 9.
Em vista do acima, não parece lógico avaliar a visão da “árvore” simbólica e sua referência a “sete tempos” como não tendo nenhuma outra aplicação, a não ser aos sete anos de loucura, e de subseqüente recuperação e retorno ao poder, experimentados por um regente babilônico, especialmente à luz da referência profética do próprio Jesus aos “tempos designados das nações”. O tempo em que tal visão foi dada: no ponto crítico da história, quando Deus, o Soberano Universal, tinha permitido que se derrubasse o próprio reino que ele estabelecera entre seu povo pactuado; a pessoa a quem a visão foi revelada: o próprio regente que serviu como o instrumento divino de tal derrubada, que, desta forma, tornou-se o recebedor do domínio mundial por permissão divina, isto é, sem interferência de qualquer reino representativo de Jeová Deus; e o tema inteiro da visão, a saber: “para que os viventes saibam que o Altíssimo é Governante no reino da humanidade e que ele o dá a quem quiser, e estabelece nele até mesmo o mais humilde dos homens” (Dan. 4:17) — tudo isto fornece forte razão para se crer que a extensa visão e sua interpretação foram incluídas no livro de Daniel por revelarem a duração dos “tempos designados das nações” e o tempo para o estabelecimento do reino de Deus, por seu Cristo.
O simbolismo da árvore e a soberania de Deus
Os simbolismos usados nesta visão profética não são, de forma alguma, ímpares. As árvores são usadas em outras partes para representar os poderes que regem, inclusive o do reino típico de Deus, em Jerusalém. (Compare com Juízes 9:6-15; Ezequiel 17:1-24; 31:2-18.) Fazer-se com que um toco brote, e o símbolo dum “raminho” ou “renovo” encontram-se várias vezes, como representando a renovação da regência em certa família ou linhagem, especialmente nas profecias messiânicas. (Isa. 10:33 a 11:10; 53:2-7; Jer. 23:5; Eze. 17:22-24; Zac. 6:12, 13; coteje com Jó 14:7-9.) Jesus falou de si mesmo como “a raiz e a descendência de Davi”. — Rev. 5:5; 22:16.
É evidente que o ponto-chave da visão é o exercício, por parte de Jeová Deus, de irreprimível soberania no “reino da humanidade”, e isto fornece a orientação para o pleno significado da visão. Mostra-se que a árvore tem aplicação a Nabucodonosor, que, nesse ponto da história, era o cabeça da potência mundial dominante, Babilônia. Todavia, antes da conquista de Jerusalém por Nabucodonosor, o reino típico de Deus, que regia a partir daquela cidade, era o veículo por meio do qual Jeová expressava sua legítima soberania para com a terra. Constituía, assim, um bloqueio ou impedimento divino para que Nabucodonosor atingisse seu alvo do domínio mundial. Por permitir que fosse derrubado o reino típico em Jerusalém, Jeová permitiu que fosse abatida a sua própria expressão visível de soberania mediante a dinastia davídica de reis. A expressão e o exercício do domínio mundial no “reino da humanidade”, desobstruídos de qualquer reino representativo de Deus, passava então para as mãos das nações gentias. (Lam. 1:5; 2:2, 16, 17) À luz destes fatos, vê-se que a “árvore” representava, mais além e acima de sua aplicação a Nabucodonosor, a soberania ou domínio mundial pelo arranjo de Deus.
Renovação do domínio mundial por direito divino
Deus, contudo, torna aqui claro que Ele não entregou para sempre tal domínio mundial às potências gentias. A visão mostra que a autocontenção por parte de Deus (representada pelas bandas de ferro e cobre ao redor do “toco” da árvore) continuaria até ‘passarem sobre ele sete tempos’. (Dan. 4:16, 23, 25) Daí, visto que o “Altíssimo é Governante no reino da humanidade”, Deus daria o domínio mundial “a quem quiser”. (Dan. 4:17) O próprio livro profético de Daniel mostra que este seria o “filho do homem”, a quem é dado “domínio, e dignidade, e um reino, para que todos os povos, grupos nacionais e línguas o servissem”. (Dan. 7:13, 14) A própria profecia de Jesus, em que ocorre a referência aos “tempos designados das nações”, aponta definitivamente para o exercício de tal domínio mundial por parte de Cristo Jesus, como o rei escolhido de Deus, o herdeiro da dinastia davídica. (Mat. 24:30, 31; 25:31-34; Luc. 21:27-31, 36) Assim, o “toco” simbólico, representando a retenção, por parte de Deus, do direito soberano de exercer o domínio mundial no “reino da humanidade”, deveria brotar de novo no reino de seu Filho. — Sal. 89:27, 35-37.
SETE TEMPOS SIMBÓLICOS
Na experiência pessoal de Nabucodonosor sobre o cumprimento da visão, os “sete tempos” eram, evidentemente, sete anos, durante os quais ele admite que enlouqueceu, apresentando sintomas semelhantes à licantropia, abandonando seu trono para comer gramíneas como um animal do campo. (Dan. 4:33-36) Notavelmente, a descrição bíblica do exercício do domínio mundial por parte das potências gentias é apresentada sob a figura de animais, em oposição ao povo santo de Deus e seu “Príncipe dos príncipes”. (Compare com Daniel 7:2-8, 12, 17-26; 8:3-12, 20-25; Rev. 11:7; 13:1-11; 17:7-14.) A respeito da palavra “tempos” (do aramaico ‘iddán), conforme usada na profecia de Daniel, os lexicógrafos mostram que, aqui, significa “anos”. [Veja Lexicon in Veteris Testamenti Libros (Léxico dos Livros do Velho Testamento), de Koehler e Baumgartner, p. 1106; A Hebrew and English Lexicon of the Old Testament (Léxico Hebraico-Inglês do Velho Testamento), de Brown, Driver e Briggs, p. 1105.] A duração de um ano, conforme assim usada, é indicada como contendo 360 dias, visto que se mostra que três tempos e meio equivalem a “mil duzentos e sessenta dias”, em Revelação 12:6,14. (Compare-se também com Revelação 11:2, 3.) “Sete tempos”, segundo esta contagem, equivaleriam a 2.520 dias. Que se pode usar um número específico de dias no registro bíblico para representar profeticamente um número equivalente de anos pode ser visto por uma leitura dos relatos de Números 14:34 e Ezequiel 4:6. Apenas por se aplicar a fórmula aqui expressa, de “um dia por um ano” aos “sete tempos” desta profecia é que a visão de Daniel, capítulo 4, pode ter um cumprimento significativo, além dos dias já passados de Nabucodonosor, conforme a evidência até agora apresentada fornece motivos para se esperar. Por conseguinte, representam 2.520 anos.
É um fato histórico, digno de nota, que, à base dos pontos e da evidência acima apresentados, o ano de 1914 foi identificado como o tempo para o término dos “tempos designados das nações” (e o fim do arrendamento de poder concedido aos regentes gentios), na edição de março de 1880 da revista Watch Tower (A Sentinela). Isto se deu cerca de trinta e quatro anos antes de tal ano chegar, bem como os eventos momentosos que fez iniciar. Na edição de 30 de agosto de 1914 de The World (O Mundo), destacado jornal nova-iorquino daquela época, um artigo de destaque na revista de domingo daquele jornal comentava sobre isto da seguinte forma: “O horrível irrompimento da guerra na Europa tem cumprido uma profecia extraordinária. No último quarto de século, por meio de pregadores e pela imprensa, os ‘Estudantes Internacionais da Bíblia’ . . . têm proclamado ao mundo que o Dia da Ira, profetizado na Bíblia, amanheceria em 1914.”
Os eventos ocorridos a partir do outono setentrional do ano de 1914 E.C. são história bem conhecida de todos, começando com a grande guerra que irrompeu, a primeira guerra mundial da história da humanidade, e a primeira a ser travada por causa da questão, não do domínio da Europa apenas, nem da África, nem da Ásia, mas do domínio do mundo. — Luc. 21:7-33; Rev. 11:15-18; veja ÚLTIMOS DIAS; PRESENÇA.
SANGUE. “Líquido normalmente vermelho que corre pelas veias e artérias, formado de plasma, glóbulos vermelhos e glóbulos brancos, e que serve à nutrição e purificação do organismo.” (Novo Dicionário Aurélio) Assim, o sangue tanto nutre como purifica o corpo. A constituição química do sangue é tão extraordinariamente complexa que existe muita coisa que, para os cientistas, ainda se acha no domínio do desconhecido.
Na Bíblia, diz-se que a alma está no sangue, porque o sangue está tão intimamente envolvido nos processos vitais. A Palavra de Deus diz: “Pois a alma da carne está no sangue, e eu mesmo o pus para vós sobre o altar para fazer expiação pelas vossas almas, porque é o sangue que faz expiação pela alma nele.” (Lev. 17:11) Por similar razão, mas tornando a ligação ainda mais direta, a Bíblia afirma: “A alma de todo tipo de carne é seu sangue.” — Lev. 17:14.
A vida é sagrada. Por conseguinte, o sangue, em que reside a vida da criatura, é sagrado, e não se deve brincar com ele. Noé, o progenitor de todas as pessoas que agora vivem na terra, obteve de Jeová a permissão de acrescentar carne à sua dieta alimentícia depois do Dilúvio, mas foi-lhe estritamente ordenado que não comesse sangue. Ao mesmo tempo, foi-lhe ordenado que mostrasse respeito pela vida — o sangue — de seu próximo. — Gên. 9:3-6.
TIRAR A VIDA
Com Jeová está a fonte da vida. (Sal. 36:9) O homem não pode dar de novo uma vida que tire. “Todas as almas — a mim me pertencem”, afirma Jeová. (Eze. 18:4) Por conseguinte, tirar a vida é tirar a propriedade de Jeová. Toda coisa viva tem um propósito e um lugar na criação de Deus. Nenhum homem tem o direito de tirar a vida, exceto quando Deus o permita, e do modo que Ele instrua. Quando, após o Dilúvio, Deus permitiu bondosamente que o homem acrescesse a carne à sua dieta, Deus exigiu que o homem reconhecesse que a vida dessa criatura pertencia a Deus, por derramar no solo o sangue de qualquer animal selvagem caçado, e cobrisse o sangue com pó. Isto era como devolvê-la a Deus, não a utilizando para seus próprios objetivos. (Lev. 17:13) No caso dos animais levados ao santuário como ofertas de comunhão, em que o sacerdote e aquele que trazia o sacrifício (e sua família) tinham participação, como se fosse numa refeição, o sangue era deixado escoar no solo. Quando Israel se fixou na Palestina, e o santuário estava muito distante, um homem podia matar um animal, em casa, para servir de alimento, mas tinha de derramar o sangue dele no solo. — Deut. 12:15, 16.
O homem tinha direito de gozar a vida que Deus lhe concedera, e qualquer pessoa que o privasse dessa vida teria de prestar contas a Deus. Isto foi indicado quando Deus disse ao homicida Caim: “O sangue de teu irmão está clamando a mim desde o solo.” (Gên. 4:10) Mesmo alguém que odiasse seu irmão, e assim quisesse vê-lo morto, ou o caluniasse ou desse falso testemunho contra ele, de modo a pôr em perigo a vida dele, traria sobre si a culpa de sangue relacionada ao sangue do seu próximo. — Lev. 19:16; Deut. 19:18-21; 1 João 3:15.
O valor da vida é considerado tão sagrado por Deus que o sangue duma pessoa assassinada é encarado por Ele como poluindo a terra, e tal poluição só pode ser limpa pelo derramamento do sangue do homicida. Nessa base, a Bíblia autoriza a pena capital para o assassino, mediante a autoridade devidamente constituída. (Núm. 35:33, Gên. 9:5, 6) No antigo Israel, não se aceitava nenhum resgate para livrar o assassino deliberado da pena de morte. — Núm. 35:19-21, 31.
Mesmo nos casos em que o homicida não pudesse ser encontrado numa investigação, a cidade mais próxima do local onde o corpo fora encontrado era considerada culpada de sangue. Para remover tal culpa, os anciãos responsáveis da cidade tinham de seguir certo proceder exigido por Deus, e refutar qualquer culpa ou conhecimento do assassínio, e orar a Deus, pedindo Sua misericórdia. (Deut. 21:1-9) Se um homicida acidental não se preocupasse seriamente com o tirar uma vida, e não seguisse o arranjo de Deus para sua proteção, por fugir para uma cidade de refúgio e permanecer ali, o parente mais próximo do morto era o vingador autorizado e obrigado a matá-lo, de modo a remover a culpa de sangue daquela terra. — Núm. 35:26, 27.
[Continua]