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  • g93 8/12 pp. 20-22
  • A vida citadina nos morros de Caracas

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  • A vida citadina nos morros de Caracas
  • Despertai! — 1993
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Despertai! — 1993
g93 8/12 pp. 20-22

A vida citadina nos morros de Caracas

Do correspondente de Despertai! na Venezuela

CARACAS, Venezuela. Altos e modernos prédios de escritório se elevam sobre um trânsito ruidoso, lojas movimentadas e restaurantes lotados. Turistas vagam pelas praças de short e chapéu-de-sol, com câmeras a tiracolo. As calçadas fervilham de gente.

Mas há um outro lado de Caracas. Para além do cromo, do aço e do vidro, estão los cerros (os morros), comunidades incomuns construídas nas encostas de morros. Estas comunidades se grudam nas encostas íngremes que cercam a cidade a leste, oeste e sul. Quase dois milhões de pessoas vivem ali, em centenas de vizinhanças chamadas de barrios.

Como essas comunidades vieram à existência? Em 1958, o governo criou um plano que concedia dinheiro a moradores de cidade desempregados. Assim, as pessoas inundaram a capital para se aproveitar dessa provisão. Muitos abandonaram as províncias em busca dos benefícios da cidade — hospitais, escolas, universidades.

A violência política e a recessão econômica em países vizinhos também provocaram uma imigração, as pessoas vindo a Caracas em busca de trabalho. Em pouco tempo a região plana do vale de Caracas estava toda ocupada, obrigando as pessoas a se mudarem para lugares mais altos em busca de um lugar para morar. Assim nasceram as comunidades dos morros.

A jornada de subida

Começamos a nossa viagem entrando numa longa fila de pessoas. Elas não estão à espera de um ônibus mas sim de um jipe, um veículo mais apropriado para a subida íngreme à frente. Chega um jipe de chassis longo, e uma dúzia de pessoas sobe a bordo. Cinco sentam-se em cada banco ao comprido, na parte traseira; duas ocupam o preferido assento dianteiro. Entramos todo encurvados pela porta traseira. Ocupamos um espaço apertado no banco, com os joelhos à altura do queixo, evitando pisar na sacola de verduras de uma senhora.

Começamos uma subida íngreme. As ruas são estreitas e muitas vezes sinuosas. Às vezes parecem ser quase verticais. O motorista coloca sua fita de música preferida, e logo muitos começam a acompanhar o ritmo latino com os pés. Subitamente alguém brada ao motorista: “¡Donde pueda!” (Onde puder!) Parece uma maneira estranha de pedir para ele parar. Mas é melhor confiar no julgamento dele. Se o jipe parasse num dos trechos mais íngremes da rua, talvez não conseguisse mais se movimentar — pelo menos não para frente! Alguns passageiros desordenados saem pulando pela porta traseira, depois de pisarem nos pés de alguns ao passarem.

Pouco depois estávamos atrás de um veículo lento do qual pingava água de todas as emendas. Era o caminhão da água, que leva sua preciosa carga para as casas em que água encanada é praticamente um luxo desconhecido. As pessoas em geral estocam água em tanques ou em tambores de óleo vazios.

O jipe chega aos solavancos até mais uma de suas muitas paradas, e percebemos que chegou o momento de desembarcar. Parece estranho pisar em solo firme de novo, e pausamos um momento para nos localizar.

As casas nos morros

As casas são construídas em qualquer lugar e de qualquer maneira. Parece que quartos adicionais ou até mesmo andares são simplesmente acrescentados à medida que a família aumenta. Algumas são moradias sólidas feitas de tijolos cozidos. Mas outras são feitas de tábuas, de latas achatadas ou até mesmo de engradados de transporte ainda marcados com as palavras “Este lado para cima”.

Está bem silencioso agora que o jipe saiu roncando e desapareceu de vista. A visão é extasiante. Lá, bem embaixo, é o centro de Caracas. Subitamente o silêncio é rompido por uma voz dissonante de alto-falante. “Olha a cebola. Olha a batata, a iúca e a banana-são-tomé.” Virando-nos, vemos que um caminhão, que estava quietamente estacionado nas imediações, começou as suas atividades. Um rapaz atende aos fregueses pelos fundos do caminhão.

Existem calculadamente 500 barrios em Caracas. Alguns têm o nome de um “santo”, de uma data histórica ou de uma figura política. Ainda outros nomes refletem as aspirações dos moradores em vez de a realidade. Exemplos: El Progreso, Nuevo Mundo e El Encanto.

A vida num barrio

Há um forte espírito comunitário aqui. Muitas vezes unem-se esforços para livrar o barrio do abuso de drogas ou do crime. A maioria dos barrios tem bodegas — armazéns que vendem uma variedade de produtos — bem como uma escola e uma farmácia, com um farmacêutico sempre pronto para diagnosticar e recomendar tratamentos para pequenos males.

Todavia, a vida aqui é difícil. O criminologista Dr. Elio Gómez Grillo fala dos problemas: “No presente, dois milhões de pessoas que mal conseguem suprir as necessidades básicas da vida vivem nessas áreas marginais. O índice de delinqüência sobe vertiginosamente . . . [O grande número de] suicídios, assaltos, roubos a bancos e roubos à mão armada que resultam em homicídio é preocupante.” Escassez de água e cortes de energia elétrica são a ordem do dia.

Na estação chuvosa, los cerros mudam completamente. A terra vira lama, as escadas se transformam em pequenas cataratas e o lixo desce pelos rios que se formam nas sarjetas. O barulho da chuva nos telhados de zinco é ensurdecedor; a conversação dentro de casa pára enquanto os moradores se atarefam em encontrar panelas e baldes para as goteiras. Mas o sol logo reaparece, secando os telhados e as ruas encharcadas. Similarmente, ressurge o indomável espírito venezuelano. A vida continua.

Subida a pé

A nossa viagem ainda não acabou. Ainda não chegamos à casa de nossos amigos. Entre duas casas, há uma íngreme e irregular escada de concreto morro acima. Letreiros disputam a nossa atenção em casas apertadas que parecem competir por espaço: Pego Cierres (Prego Zíperes); Cortes de Pelo (Cortes de Cabelo); Se Venden Helados (Vende-se Sorvete). Os moradores imaginam todo tipo de maneiras de ganhar o sustento. Alguns pintam carros, trocam óleo e fazem consertos — ali mesmo na rua.

Depois de parar um pouco para recuperar o fôlego no topo da escada, entramos num labirinto de passagens estreitas entre as casas. Emergimos dali pestanejando na brilhante luz do sol. A casa de nossos amigos fica nessa ruela não pavimentada. Não há número nas casas aqui — e tampouco serviço postal. O cheiro de café recém-coado enche o ar. Sem dúvida os nossos anfitriões nos darão boas-vindas com café servido em pequenas xícaras, junto com uma arepa (pão de milho enriquecido com uma variedade de recheios).

Boas-vindas

Como era de esperar, com a costumeira hospitalidade a família nos dá boas-vindas ao seu modesto, porém limpo ranchito, nome que se dá a essas pequenas casas. “Están en su casa” (A casa é sua), é uma das primeiras coisas que dizem.

Com o sol batendo no telhado de zinco, acolhemos com prazer a brisa que entra pelas janelas sem vidro. Mas há grades nas janelas, pois o furto é muito comum. Notando que estamos sentindo calor, nossos anfitriões trazem um ventilador elétrico, que, como a geladeira e a televisão, são equipamentos padrão aqui. O chão é de cimento. Muitos vizinhos têm apenas chão de terra.

O marido, pai de cinco criancinhas, mudou-se do interior para Caracas quando era adolescente, em busca de melhores perspectivas na cidade grande. Ele veio morar com seu irmão mais velho, casado, que, como tantos outros antes dele, simplesmente reivindicaram um pedaço de terra não ocupado, no alto do morro. Quando esse nosso amigo mais tarde conheceu sua futura esposa, seu irmão generosamente lhes disse que poderiam usar o pedaço de terra disponível ao lado de sua casa para construir uma casa improvisada. Com a ajuda de vizinhos e de parentes, esse casal construiu pouco a pouco a sua casa de tijolos, ali mesmo nesse terreno.

A família acha que a localização está longe de ser a ideal, mas se resignam. Aproveitam da melhor maneira o que têm. ‘Talvez algum dia vamos poder nos mudar para mais embaixo no morro’, dizem, “si Dios quiere” (se Deus quiser).

Passamos uma tarde muito agradável com essa família pobre, porém bondosa. Ocasionalmente, a conversa era interrompida por criancinhas que vinham comprar doces na janela da frente. É o modo de a esposa ajudar a suplementar a renda do marido.

A descida

Desejamos partir antes do anoitecer. Hoje é sexta-feira, e o barrio ganha vida à medida que os homens voltam para casa com seus salários. As bodegas vendem muita cerveja, e os sons de salsa [música latina] e ritmos de merengue contribuem para um clima de descontraído fim de semana.

Chegando ao pé do morro, caminhamos até a estação do metrô mais próxima. Um eficiente trem subterrâneo nos levará ao centro da cidade. Sentimo-nos um pouco aliviados de voltar a uma área mais conhecida. Mas, ao olharmos de volta para los cerros, agora uma massa de luzes cintilando na escuridão, somos gratos de que pudemos conhecer melhor esse outro lado de Caracas.

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