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  • g96 22/11 pp. 11-14
  • ‘É apenas temporário!’ Minha convivência com a doença renal

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  • ‘É apenas temporário!’ Minha convivência com a doença renal
  • Despertai! — 1996
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Despertai! — 1996
g96 22/11 pp. 11-14

‘É apenas temporário!’ Minha convivência com a doença renal

Ainda me lembro daquele dia, no começo de janeiro de 1980, como se fosse ontem. Minha mãe pediu-me para ir à mercearia comprar pão, mas, quando eu estava para sair, tocou o telefone. Era meu médico, comunicando os resultados dos meus exames de laboratório. Mamãe começou a chorar. Entre soluços, ela me retransmitiu a má notícia. Meus rins não funcionavam direito. Funcionariam ainda por um ano, ou dois, no máximo. O médico acertou; um ano depois, eu fazia diálise.

NASCI no dia 20 de maio de 1961, o primeiro de seis filhos. Quando eu tinha uns seis meses, minha mãe notou sangue na urina, nas minhas fraldas. Depois de extensivos exames, meu diagnóstico foi síndrome de Alport, um raro defeito congênito. Por razões desconhecidas, homens com essa doença não raro vêm a sofrer de insuficiência renal, depois de algum tempo. Eu e meus pais não fomos informados disso, assim, não me preocupei com doença renal.

Daí, no verão de 1979, percebi um odor semelhante ao de amoníaco, no meu hálito, de manhã. Pouco liguei para isso, mas, em seguida, comecei a sentir fadiga. Eu achava que estava apenas fora de forma, de modo que descartei isso também. Em dezembro, fiz o exame geral anual e, em janeiro, recebi o telefonema acima mencionado.

Ao me dirigir à mercearia — afinal, minha mãe ainda precisava do pão — eu me sentia atordoado. Não podia crer que isso estivesse acontecendo comigo. “Tenho só 18 anos!”, bradei. Parei o carro no acostamento. A enormidade dos acontecimentos começava a desabar sobre mim.

“Por que eu?”

Sentado ali, à beira da estrada, comecei a chorar. Com lágrimas no rosto, exclamei: “Por que eu, meu Deus? Por que eu? Por favor, não permita que meus rins falhem!”

Com o passar dos meses de 1980, eu adoecia cada vez mais, e minhas orações aumentavam em desespero e lágrimas. Por volta do fim do ano eu comecei a perder os sentidos, tinha crises freqüentes de vômito provocadas pelo acúmulo de toxinas no sangue, que meus rins não depuravam. Em novembro, fui pela última vez acampar com amigos. Mas eu estava tão doente que simplesmente fiquei sentado no carro, tiritando. Eu não conseguia, de jeito nenhum, me aquecer. Por fim, em janeiro de 1981, aconteceu o inevitável: meus rins pararam totalmente de funcionar. Restava-me fazer diálise, ou então morrer.

Diálise

Meses antes, nosso médico havia nos falado sobre um novo método de diálise, sem o uso de agulhas, e que depura o sangue dentro do corpo. O processo chama-se diálise peritoneal (DP). Isso logo me interessou, pois tenho forte aversão a agulhas. Esse processo havia se tornado uma alternativa viável para alguns pacientes de diálise.

Surpreendentemente, o nosso corpo tem uma membrana que pode funcionar como rim artificial. O peritônio — uma membrana lisa e transparente que forma um saco em volta do aparelho digestivo — pode ser usado como filtro para limpar o sangue. O lado interno dessa membrana reveste um espaço chamado cavidade peritoneal. O peritônio é como um saco vazio, encaixado entre os órgãos do abdômen.

A DP funciona assim: coloca-se uma solução especial de diálise na cavidade peritoneal através de um cateter (tubo), implantado cirurgicamente no baixo abdômen. Esse fluido contém dextrose, e por meio de osmose, os resíduos e o fluido extra do sangue são puxados através do peritônio para dentro da solução de diálise, que fica na cavidade peritoneal. Os resíduos que normalmente seriam eliminados como urina ficam então na solução de diálise. Quatro vezes por dia é preciso fazer uma troca: drenar o fluido usado e, daí, encher a cavidade com fluido novo. Essa troca leva uns 45 minutos. É mais ou menos como uma troca de óleo de carro. O óleo velho é retirado e substituído por óleo novo, para prolongar a vida útil e melhorar o rendimento do motor.

No início de janeiro de 1981, o necessário cateter foi implantado no meu lado inferior direito. Daí, tive duas semanas de treinamento. Se o processo não for realizado corretamente, com rigorosa assepsia, a pessoa poderá desenvolver peritonite: uma grave e potencialmente fatal infecção do peritônio.

No verão de 1981, uns seis meses depois de eu ter iniciado a DP, meus pais receberam outro telefonema que teve um profundo impacto na minha vida.

À procura de um novo rim

Desde janeiro de 1981 eu estava na lista nacional de espera por um transplante de rim.a Eu achava que um transplante devolveria minha vida à normalidade. Mal sabia eu o que me aguardava!

Em meados de agosto, telefonaram-nos avisando que havia sido encontrado um doador. Quando cheguei ao hospital, por volta das 22 horas, foram tiradas amostras de sangue para se ter certeza de que eu seria compatível para o transplante. O rim fora colocado à disposição pela família de um homem novo que, mais cedo naquele dia, morrera num acidente.

A cirurgia foi marcada para a manhã do dia seguinte. Antes da operação, foi preciso resolver uma questão importante, pois eu sou Testemunha de Jeová e minha consciência instruída pela Bíblia não me permite aceitar transfusão de sangue. (Atos 15:28, 29) Naquela noite, o anestesiologista veio me ver. Ele insistiu em que eu concordasse em ter sangue disponível na sala de cirurgia, apenas por precaução. Eu disse “não”.

“O que devo fazer caso surja um problema? Deixar você morrer?”, perguntou.

“Faça tudo o que for necessário, mas não me dê sangue, aconteça o que acontecer.”

Depois que ele saiu, vieram os cirurgiões. Falei o mesmo para eles e, para meu alívio, concordaram em operar-me sem sangue.

A operação, de três horas e meia, foi tranqüila. O cirurgião disse que eu havia perdido bem pouco sangue. Ao acordar, na sala de recuperação, senti três coisas: primeiro, fome, depois sede e, daí, dor! Mas, tudo isso ficou insignificante quando vi uma bolsa no chão, enchendo-se de um líquido rosa-amarelado. Era a urina do meu novo rim. Eu finalmente excretava urina! Quando removeram o cateter da minha bexiga e pude urinar como todo mundo, eu me sentia muito feliz.

Mas minha alegria durou pouco. Dois dias depois, recebi notícias deprimentes: meu novo rim não estava funcionando. Eu teria de voltar à diálise, esperando que isso daria ao novo rim tempo para começar a funcionar. Fiz diálise por várias semanas.

Era então meados de setembro, e eu já estava no hospital há quase um mês. O hospital ficava a 80 quilômetros da minha casa, o que dificultava as visitas de meus irmãos cristãos. Senti muita falta da minha congregação. Eu recebia fitas gravadas das reuniões congregacionais, mas, quando as ouvia, mal conseguia conter as emoções. Passei muitas horas solitárias falando a Jeová Deus em oração, pedindo-lhe forças para suportar aquilo. Eu ainda não sabia, mas testes ainda mais difíceis me aguardavam.

Sem medo de morrer

Haviam-se passado seis longas semanas desde o transplante, e agora era dolorosamente óbvio que o meu organismo havia rejeitado o rim. Meu abdômen estava terrivelmente inchado; os médicos disseram que o rim rejeitado teria de ser retirado. Surgiu de novo a questão do sangue. Os médicos explicaram que, dessa vez, a cirurgia seria ainda mais séria, pois minha contagem sanguínea estava muito baixa. Com paciência, porém firmemente, expliquei minha posição baseada na Bíblia e eles, por fim, concordaram em fazer a cirurgia sem sangue.b

Depois da cirurgia, as coisas começaram a piorar muito rapidamente. Na sala de recuperação, meus pulmões começaram a encher-se de fluidos. Depois de uma noite inteira de diálise intensa, eu me sentia um pouco melhor. Mas, dois dias depois, meus pulmões estavam novamente cheios de fluidos. Mais uma noite de diálise. Não me recordo muito dessa noite, mas, lembro-me de meu pai, ao meu lado, dizendo: “Respire mais uma vez, Lee! Vamos, você vai conseguir! Respire mais uma vez. Isso, continue respirando!” Nunca antes me senti tão cansado. O que eu queria é que tudo aquilo acabasse e que eu pudesse acordar no novo mundo de Deus. Eu não tinha medo de morrer. — Revelação (Apocalipse) 21:3, 4.

Na manhã seguinte, eu estava muito mal. Meu hematócrito, a contagem dos glóbulos vermelhos no sangue, estava em 7,3 — o normal é mais de 40! Os médicos não estavam otimistas quanto a minha situação. Repetidas vezes tentaram fazer-me aceitar transfusão de sangue, que, segundo eles, era vital para a minha recuperação.

Fui transferido para uma unidade de tratamento intensivo, e meu hematócrito caiu para 6,9. Mas, com a ajuda de minha mãe, lentamente começou a subir. Ela preparava em casa, num liquidificador, líquidos à base de alimentos ricos em ferro e os trazia para mim. Ela até mesmo os bebia comigo, para me animar. O amor de mãe é uma coisa maravilhosa.

Quando recebi alta, em meados de novembro, meu hematócrito era 11. No início de 1987, comecei a tomar EPO (eritropoietina), um hormônio sintético que estimula a medula óssea a produzir mais glóbulos vermelhos para a corrente sanguínea, e agora meu hematócrito é aproximadamente 33.c

‘É apenas temporário, Lee!’

Submeti-me a outras grandes cirurgias em 1984, 1988, 1990, 1993, 1995 e 1996 — todas devido a minha insuficiência renal. Durante esses muitos anos de convivência com a doença renal, um pensamento que me tem sustentado é: ‘É apenas temporário.’ Seja qual for o nosso problema, físico ou outro, ele será corrigido sob o Reino de Deus, no vindouro novo mundo. (Mateus 6:9, 10) Sempre que enfrento um novo desafio e começo a ficar deprimido, simplesmente digo para mim mesmo: ‘É apenas temporário, Lee!’, e isso me ajuda a recolocar as coisas na sua perspectiva correta. — Note 2 Coríntios 4:17, 18.

O ano de 1986 reservou-me a maior surpresa de todas: casei-me. Eu achava que jamais me casaria. ‘Quem desejaria casar-se comigo?’, eu me perguntava. Mas, daí, apareceu Kimberly na minha vida. Ela viu o homem que sou no íntimo, não o homem debilitado por fora. Ela viu, também, que meu estado é apenas temporário.

Em 21 de junho de 1986, eu e Kimberly nos casamos no nosso Salão do Reino, em Pleasanton, Califórnia. Decidimos não ter filhos, pois a minha doença é hereditária. Mas talvez isso também seja temporário. No novo mundo de Deus, gostaríamos de ter filhos, se for da vontade de Jeová.

Hoje tenho o privilégio de servir como ancião na Congregação Highland Oaks, na Califórnia, EUA, e Kimberly serve como evangelizadora de tempo integral. No momento, minha saúde é razoável; a crise de 1981 devastou meu organismo e deixou-me com pouca vitalidade. Desde então, minha irmã desenvolveu uma forma branda da síndrome de Alport e dois de meus irmãos, que têm essa mesma doença, sofreram insuficiência renal e fazem diálise. Meus outros dois irmãos são bem sadios.

Continuo a fazer diálise peritoneal, e aprecio a mobilidade que ela me dá. Aguardo o futuro com esperança e confiança pois, afinal, os problemas de hoje — incluindo a doença renal — são apenas temporários. — Conforme narrado por Lee Cordaway.

Despertai! não endossa nenhum método específico de tratamento médico. Este artigo não visa desestimular outras formas de tratamento, como a hemodiálise. Cada método tem seus prós e contras, e a pessoa deve fazer a sua própria decisão conscienciosa sobre que método empregar.

[Nota(s) de rodapé]

a Aceitar, ou não, um transplante é decisão pessoal do cristão. — Veja A Sentinela de 1.º de setembro de 1980, página 31.

b Para mais informações sobre grandes cirurgias sem sangue, veja a brochura Como Pode o Sangue Salvar a Sua Vida?, publicada pela Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, páginas 16-17.

c Se o cristão deve, ou não, aceitar a EPO é questão de decisão pessoal. — Veja A Sentinela de 1.º de outubro de 1994, página 31.

[Diagrama na página 13]

(Para o texto formatado, veja a publicação)

Como funciona a diálise peritoneal

Fígado

Alças do intestino delgado

Cateter (recebe a solução limpa; libera a solução velha)

Peritônio

Cavidade peritoneal

Bexiga

[Foto na página 12]

Com minha esposa, Kimberly

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